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Tarcísio de Freitas (Republicanos) enfrentou desafios ao longo de 2023 em vários campos políticos.
Tarcísio de Freitas (Republicanos) enfrentou desafios ao longo de 2023 em vários campos políticos.| Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Com aprovação em alta no primeiro ano de mandato, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é considerado um dos principais nomes da direita no país, constantemente cotado para a corrida presidencial de 2026. Apesar da lista de acertos no primeiro ano de gestão no governo paulista, Tarcísio enfrentou obstáculos durante o ano de 2023.

Sem experiência eleitoral até 2022, o governador venceu a disputa no segundo turno contra Fernando Haddad (PT) e se viu obrigado a dialogar com a oposição e com outras bancadas da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), além de manter uma relação respeitosa com o governo federal sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principal adversário do seu padrinho político, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Veja quais foram os cinco principais obstáculos enfrentados pelo governador de São Paulo neste ano:

1) Defesa da reforma tributária

Durante a articulação da reforma tributária, Tarcísio chegou a dizer ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que apoiava 95% do projeto articulado pelo governo Lula e que São Paulo seria "um parceiro na aprovação da reforma". A declaração gerou revolta entre apoiadores do governador mais alinhados ao bolsonarismo nas redes sociais.

Após o episódio, Tarcísio foi criticado por parlamentares do seu próprio grupo político. O clima esquentou ainda mais quando o governador participou de uma reunião em Brasília com Bolsonaro e parlamentares do Partido Liberal. Tarcísio foi criticado por supostamente tentar interferir no voto de deputados que não eram do seu partido.

A foto que o governador de São Paulo tirou ao lado de Lula e Haddad durante as negociações da reforma tributária renderam uma chuva de críticas ao governador nas redes sociais, como alguns comentários chamando o chefe do Executivo estadual de São Paulo de “traidor”.

A cientista política e professora da ESPM Denilde Holzhacker afirma que o governador poderia ter articulado melhores resultados para o estado paulista na reforma tributária. “Ficou claro que faltou uma maior articulação com os deputados e senadores paulistas para conseguir um impacto menor para o estado. Isso terá um impacto na competitividade dos setores econômicos paulistas frente a outros estados”.

2) Promessa de campanha, PL das escolas cívico-militares fica para 2024

Após Lula afirmar que acabaria com o programa do governo federal das escolas cívico-militares, Tarcísio respondeu nas redes sociais dizendo que “O governo de São Paulo vai editar um decreto para regular o seu próprio programa de escolas cívico-militares e ampliar unidades de ensino com este formato em todo o estado”, escreveu o governador em 12 de julho no X/ Twitter.

Porém isso não ocorreu ao longo do ano e o projeto se arrastou entre secretarias de estado e não foi enviado para a Assembleia Legislativa. Segundo apuração da Gazeta do Povo, o texto do projeto de lei foi confeccionado por duas secretarias, da Segurança Pública e da Educação, e hoje está parado na Casa Civil, que por regras internas do Palácio dos Bandeirantes tem que aprovar tecnicamente todos os projetos de autoria do governador.

Agora só será possível enviar o projeto das escolas cívico-militares após o fim recesso da Alesp, em 1.° de fevereiro. Mesmo se o projeto de lei for aprovado em 2024, não será possível implantar as novas escolas para o próximo ano letivo. Na melhor das hipóteses, as novas unidades ficarão apenas para 2025.

Atualmente, o governo de São Paulo tem apenas uma escola neste modelo, que fica na cidade de Guarujá, Litoral Sul de São Paulo. O estado paulista possui mais de 5 mil unidades de ensino.

3) Poder a Kassab, que multiplicou por sete o número de prefeituras do PSD

Em menos de um ano, o partido de Gilberto Kassab, o PSD, multiplicou por sete o número de prefeituras comandadas pela sigla no estado de São Paulo. O controle do PSD corresponde a 51% dos 645 municípios paulistas, ou seja, 329 prefeituras - recorde absoluto da sigla no estado. No mandato passado, o partido detinha 46 prefeituras.

Logo que Tarcísio foi eleito, um dos primeiros secretários a serem anunciados foi o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, como secretário de Governo e Relações Institucionais. Isso colocou na mão do presidente nacional do PSD poder sobre emendas parlamentares e o diálogo com os 645 prefeitos do estado.

O partido do governador paulista, o Republicanos, cresceu bem menos do que o PSD, passando de 25 para 54 prefeitos. O aumento é superior a 50%, mas com apenas 8% das prefeituras de todo o estado.

Para alguns, o cenário faz com que Kassab tenha até mais poder e capital político do que o próprio governador no estado de São Paulo, com grande controle nas eleições municipais que se aproximam.

O cientista político Rodrigo Prando afirma que Tarcísio não pode ter como adversário o seu secretário de governo. “Kassab tem poder e enorme capilaridade com as prefeituras do PSD. Neste caso não tem jeito, pois este poder foi construído antes de Tarcísio ser eleito e o governador sabe disso. Ou Tarcísio negocia e compartilha poder ou pode ter em Kassab um enorme obstáculo para seus planos futuros”.

Denilde Holzhacker, da ESPM, critica novamente a falta de articulação de Tarcísio. “Isso demonstra a falta de uma articulação política e capacidade de criar uma aliança forte do governador. Além disso, mantém a dependência do Bolsonaro sem criar uma rede própria de apoios”.

4) Criminalidade e aumento de usuários de drogas na Cracolândia

Ao ser questionado, na última entrevista coletiva que concedeu em 2023 no Palácio dos Bandeirantes, sobre quais áreas a gestão estadual deveria melhorar Tarcísio foi enfático e respondeu que não está satisfeito com a segurança pública. "Não quero ver o cidadão sendo abordado por motocicleta todo dia, sendo assaltado”, afirmou o governador citando exemplos do Centro de São Paulo e também da Baixada Santista.

Ainda assim, Tarcísio defendeu o trabalho do secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, e lembrou do aumento de salário dos policiais, investimentos em sistema de inteligência, equipamentos e armamentos e ampliação do efetivo. “A gente vê que isso não é suficiente. O que a gente quer é aperfeiçoar e vejo uma oportunidade grande para melhorias”, afirmou.

Outra promessa de campanha do governador, assim como de todos os seus antecessores, é a de acabar com a cracolândia, zona de consumo indiscriminado de drogas que perdura há três décadas no Centro de São Paulo. Segundo dados da prefeitura, o fluxo de usuários de drogas na região central aumentou em quase 50% no segundo semestre do ano em comparação com os primeiros seis meses de 2023. Cerca de 580 pessoas frequentaram o local entre o mês de julho e o início de dezembro. O número no primeiro semestre era de aproximadamente 400 usuários.

Além disso, o fluxo de usuários de drogas percorreu algumas regiões este ano como os bairros da Sé, Santa Ifigênia, Campos Elíseos e Luz, o que gerou tumulto, acidentes, quebra-quebra em comércios e até morte. Toda essa situação que se arrastou pelo ano contribuiu para parte da reprovação do governo nas pesquisas.

Para Denilde Holzhacker, o agravamento da criminalidade no estado de São Paulo pode colocar em xeque o trabalho de Tarcísio. “Este é o seu maior fracasso em termos de gestão pública. Isso poderá ter um impacto na sua aprovação junto à opinião pública”, opina.

5) Conflito com a base aliada e a direita

Durante todo o ano, o governador enfrentou críticas e desavenças com a sua própria base aliada na Assembleia. Apesar de aprovar todos os projetos de autoria do governo, Tarcísio desfruta de uma base menor no parlamento paulista em comparação com seus antecessores tucanos.

Parlamentares de direita se queixaram ao longo de 2023 de falta de espaço no governo, pagamento de emendas, acertos pré-eleitorais para as eleições municipais e do descolamento da pauta ideológica. Além disso, o governador viu a criação de um grupo com quatro deputados bolsonaristas para analisar as pautas oriundas do Palácio dos Bandeirantes com mais atenção.

Diferente do que acontecia com o PSDB na Alesp quando o governador era tucano, Tarcísio viu alguns de seus projetos serem aprovados sem contar com toda a base aliada na votação. Deputados do Partido Liberal e do Republicanos se mantendo em obstrução, alguns até votando contrários ou até não comparecendo às sessões para ajudar no quórum de pautas governistas.

Outra turbulência que o governador teve que enfrentar esse ano foi a composição de parte do seu partido, o Republicanos, no governo federal. O deputado federal Silvio Costa Filho assumiu o Ministério de Portos e Aeroportos a convite do presidente Lula. Tarcísio sofreu pressão por estar filiado a um partido que compõe a base do PT no Congresso Nacional, mas apesar dela, se manteve no Republicanos.

Para o professor Rodrigo Prando, Tarcísio de Freitas tem os usuários de drogas do Centro de São Paulo como um problema complexo para ser resolvido a longo prazo. “A cracolândia é um problema assaz complexo e demanda esforços municipais e estaduais. Não é apenas uma ação no âmbito da segurança que mudará esse terrível quadro. No bojo da direita, o endurecimento das ações policiais é bem-visto e, no geral, até a população assustada e fragilizada quer essas ações. Mas sabe-se que são décadas de problema que não serão transformadas no curto prazo”, avalia.

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