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PCC, desarmamento, cracolândia e Operação Escudo; entrevista com secretário de Segurança de SP
Guilherme Derrite, secretário estadual da Segurança Pública em São Paulo, em entrevista à Gazeta do Povo.| Foto: Luana Eid/Secretaria Estadual da Segurança Pública de São Paulo

A segurança pública de São Paulo passou as últimas semanas se defendendo. Da ousadia e de novos episódios de ataque vindos do crime organizado e, também, das críticas de órgãos diversos justamente pela ação repressiva de combate ao crime. A audácia de quem integra a criminalidade é definida como um "atentado contra o Estado e contra a legalidade" por Guilherme Derrite, o secretário paulista responsável por comandar a delicada área da segurança pública e que concedeu uma entrevista exclusiva à reportagem da Gazeta do Povo.

A conversa também abordou estratégias para acabar com o problema histórico da cracolândia, no centro da cidade de São Paulo, além de futuras pretensões políticas de Derrite, que já foi deputado federal, e a opinião dele sobre a política de desarmamento do governo Lula (PT).

Gestão Tarcísio foca em resultados operacionais da segurança pública

O secretário começou a entrevista fazendo um balanço da gestão nesses primeiros sete meses de governo.

“O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) me convidou justamente sabendo que eu estaria disposto a combater o crime organizado. Temos um perfil focado em resultados operacionais. Dentro da nossa agenda estratégica, o objetivo é atacar o crime organizado e o tráfico de drogas, bem como acabar com todo abastecimento à criminalidade, incluindo o Porto de Santos e as principais rodovias, ou até mesmo de fora, como Paraguai, Bolívia, Peru e Colômbia”.

Gestão paulista enaltece maior aumento salarial em primeiro ano de gestão

Derrite ressaltou que a pasta concedeu o maior aumento salarial para um primeiro ano de governo. “Os governos anteriores deram, no primeiro ano, 4% ou 5% e muitos nem deram nada. Nós de cara saímos de uma média de 20,2%. Isso foi escalonado, estimulando a porta de entrada das carreiras. Por isso que o soldado de segunda classe teve 31% de aumento”.

Ele também falou dos concursos abertos simultaneamente para as polícias Militar, Civil e Técnico-científica, que totalizam 10 mil novos profissionais.

Operação Escudo ataca o PCC na Baixada Santista

A intenção de Derrite é aumentar o efetivo na Baixada Santista, com foco na redução dos índices de criminalidade na região. “A operação é por tempo indeterminado. A solução do problema da criminalidade no Guarujá é o aumento real de efetivo policial. Vamos inaugurar uma nova companhia de Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) no Guarujá, com aumento de cerca de 120 policiais no município”, promete.

A operação enfrentou mudanças de rota nas últimas semanas. “A operação começou como 'Impacto' porque os indicadores criminais da Baixada Santista, especialmente no Guarujá, estavam fugindo dos avanços do resto do estado. Tudo reduzindo, mas na Baixada não conseguíamos frear o aumento, com uma série de homicídios de policiais veteranos acontecendo na região".

O secretario acrescentou que a morte de um policial da reserva que estava na feira, desarmado, fez o órgão desencadear a Operação Impacto. "Durante a ação, o soldado Patrick Reis foi alvejado e, a partir desse momento, iniciamos a Operação Escudo”.

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, a operação no Guarujá prendeu 300 criminosos e apreendeu 800 quilos de drogas, além de 44 armas de fogo ilegais. Sobre as trocas de tiro que ocorreram na região, Derrite responde que é inevitável.

“O confronto é sempre uma opção do criminoso, inclusive confronto com lideranças do crime organizado. O líder do PCC na região enfrentou a equipe da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar)”.

Guilherme Derrite, secretário estadual da Segurança Pública de São Paulo

O secretário ainda deu um recado para os criminosos: “não há local que a PM não entre em São Paulo”.

Outras pastas também precisam se empenhar para resolver a cracolândia, diz Derrite

Uma das promessas de campanha do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é acabar com a cracolândia, que perdura mais de três décadas no centro da capital paulista. Derrite cobra empenho de outras pastas. “É possível acabar com a cracolândia, mas é preciso ter uma energia e um esforço de todas as pastas. A energia que a Secretaria da Segurança Pública está colocando nunca foi vista antes”.

“Outras áreas, como saúde e assistência social, desejamos que tenham o mesmo sucesso que a segurança pública. A polícia responde de forma mais rápida, estamos acostumados a lidar com crise. As outras pastas, às vezes, não tem o mesmo tempo-resposta, empenho e dedicação. Se colocarem a mesma energia que a segurança, a chance é real de resolver a cracolândia”.

Guilherme Derrite, secretário de Segurança Pública do estado de São Paulo.

No perímetro central da capital paulista, a Secretaria da SegurançaPública diz que prendeu, desde o início do ano, 1,4 mil suspeitos, sendo 600 traficantes, além de mais de meia tonelada de droga apreendida.

Derrite evidenciou que a Polícia Civil prendeu o traficante que seria o mais procurado da região do centro de São Paulo. “Prendemos o maior abastecedor de drogas da cracolândia, integrante do PCC. Estamos tendo um retorno muito positivo da população que mora no centro e dos comerciantes”, avalia.

O secretário refutou a narrativa de “enxugar gelo” na região, mas admitiu que muitas vezes prende-se o criminoso e a Justiça solta logo dias depois. “Tivemos uma operação na qual prendemos vários criminosos. Dois dias depois prendemos alguns que já havíamos prendido. É um problema de legislação e de interpretação da autoridade que concede para o criminoso responder em liberdade”.

Secretário de Segurança Pública de SP é favorável ao porte de arma para o cidadão

Para Derrite, o governo Jair Bolsonaro (PL) conseguiu desconstruir a narrativa de que mais armas nas ruas poderiam aumentar o número de homicídios. Segundo ele, o que aconteceu foi o contrário disso.

“Eu sou 100% favorável ao porte da arma de fogo, mas isso não é uma política de segurança pública. Isso é garantir ao cidadão o direito da autodefesa”.

Guilherme Derrite, secretário de Segurança Pública do estado de São Paulo.

Ele ressalta que é preciso ver a questão de maneira técnica, e não política. “Flexibilizar o porte de arma para o cidadão idôneo não significa que vai refletir nos indicadores criminais ou aumentar o número de crimes. Inclusive foi o contrário que vimos no governo Bolsonaro: tivemos uma flexibilização das armas e uma queda no número de homicídios. Isso serve para quebrar a narrativa de partidos de esquerda que as armas aumentam os homicídios”.

Flávio Dino é ministro da Justiça e não da Segurança Pública, afirma Derrite

Na entrevista para a Gazeta do Povo, Derrite também respondeu sobre como avalia a condução do governo Lula (PT) na área da segurança pública.

“O Flávio Dino (ministro da Justiça e Segurança Pública) não é uma pessoa que tem conhecimento do tema de segurança pública; quem conhece do assunto são os profissionais de segurança pública. O Dino nunca exerceu a função, foi juiz federal, o que é completamente diferente. Ele não fez nada de significativo”.

O secretário paulista critica a maneira como o governo Lula vem tratando o assunto da segurança no Brasil. “O governo federal deveria criar medidas para encarecer o custo do crime. O que vemos é o contrário. Não vi nada concreto, apenas discurso e narrativa. O Dino é um ministro da Justiça, e não da Segurança Pública”.

“Precisamos confirmar algumas informações, mas parece que o Ministério queria desmobilizar a Polícia Rodoviária Federal nas fronteiras. Será um prejuízo enorme para o combate ao tráfico de drogas”.

Guilherme Derrite, secretário de Segurança Pública do estado de São Paulo.

Em evidência, nomes da segurança pública paulista estão de olho nas eleições

Guilherme Derrite coloca o nome do seu secretário-adjunto, delegado Osvaldo Nico, como possibilidade de ser vice na chapa do atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), nas eleições municipais de 2024.

“O Dr. Nico é um bom nome, foi delegado-geral, é uma pessoa muito conhecida, tem experiência e é querido por todos. Precisa ver se ele aceita. Para a população seria um ganho fantástico. Ele inclusive poderia tocar a Secretaria de segurança do município”.

Guilherme Derrite, secretário de Segurança Pública do estado de São Paulo.

Segundo fontes ligadas ao Palácio dos Bandeirantes, o nome de Nico também agrada a Tarcísio, que gosta de alguém da área da segurança pública como vice de Nunes.

Sobre o seu próprio futuro político, Derrite desconversa, mas segundo apuração da Gazeta do Povo, membros do Partido Liberal (PL) acreditam que ele seja um nome certo para buscar uma das duas vagas do Senado Federal em 2026.

“O resultado do nosso trabalho na Secretaria é que vai dizer para onde vamos e o que o grupo político ao qual eu pertenço decidir, eu vou fazer. Às vezes pode ou não ser a minha vez, depende do momento. Conseguindo cumprir o objetivo na Secretaria, o meu nome vai se tornar mais forte, a pasta já tem muita visibilidade. Todo dia se fala de segurança pública na imprensa e nas redes sociais”, diz Derrite.

Articulação em Brasília para acabar com as saidinhas temporárias

Derrite é autor de um projeto em Brasília que pede o fim das saídas temporárias dos presos nas penitenciárias de todo o Brasil em datas comemorativas. “O projeto passou na Câmara e está no Senado Federal. Reunimos cinco estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo para explicarmos para os parlamentares que esse projeto é nossa prioridade. Os cinco secretários desses estados assinaram uma carta aberta para o presidente do Senado dizendo que a saída temporária prejudica a população”, argumenta ele.

O secretário disse ainda que conversou com o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) sobre o assunto. “Temos o compromisso do Sergio Moro de liderar esse assunto no Senado. Eu tenho um trânsito muito bom em Brasília. Continuo de vez em quando indo para a capital federal para articular alguns temas”.

Regularização da Polícia Penal virá com reforma administrativa no estado de São Paulo

Em São Paulo, os policiais penais não fazem parte da pasta da Segurança Pública. Eles estão subordinados à Secretaria de Administração Penitenciária e não receberam o reajuste salarial do começo do ano, mencionado por Derrite.

“É legítimo da parte deles pedir aumento. Primeiro, porque historicamente pertenciam à Secretaria da Segurança Pública lá atrás e toda vez que uma categoria do funcionalismo público recebe reajuste é legítimo que as outras também queiram”.

Guilherme Derrite, secretário de Segurança Pública do estado de São Paulo.

O secretário ressaltou que haverá uma regularização da categoria em São Paulo. “A Polícia Penal vai passar por uma regulamentação. Aprovamos a PEC 379 em Brasília, que reconhece a categoria como policiais. É preciso que cada estado faça a regulamentação, aqui ainda não foi feita, mas será realizada pelo secretário Marcelo Streifinger, acompanhada da reforma administrativa, ou seja, a mudança do quadro para melhor”, disse Derrite.

Crime organizado tem raízes inclusive em instituições do estado, diz Derrite  

Segundo Derrite, o crime organizado possui raízes em órgãos estaduais e, nos próximos meses, operações de combate a facções serão intensificadas. “O crime organizado infelizmente se enraizou em estruturas do estado também. Tenho dito a outros secretários: não tenham medo de denunciar qualquer indício de atuação do crime organizado”.

O secretário prometeu investigação da polícia e "tolerância zero" ao crime organizado. “Se eles se aproveitaram de governos anteriores, se foram coniventes... da nossa parte, se for constatado, vamos investigar e prender, doa a quem doer. Temos algumas investigações importantes que estão em curso - e eu não posso divulgar ainda - que chegaram através de denúncias anônimas”, sinaliza Derrite.

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