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Munícipio usará drone capaz de lançar gás lacrimogêneo contra bailes funk

A cidade de Diadema (SP) empregará o uso de drones com granadas de gás para combater crimes em bailes funk
A cidade de Diadema (SP) empregará o uso de drones com granadas de gás para combater crimes em bailes funk (Foto: Imagem criada utilizando Whisk/Gazeta do Povo)

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A cidade de Diadema (SP) está prestes a implementar uma nova e controversa ferramenta no combate aos "bailes funk": um drone capaz de lançar bombas de gás lacrimogêneo. A aquisição do equipamento, por R$ 365.313,60, realizada sem licitação, tem antagonizado a gestão municipal e a oposição, levantando debates sobre segurança pública, direitos e transparência.

Sob a gestão do prefeito Taka Yamauchi (MDB), a administração pública justifica a compra do drone como parte do programa "Diadema Segura", que visa reestruturar a segurança pública município. O equipamento, fabricado pela Condor S/A Indústria Química, foi adquirido por meio de inexigibilidade de licitação.

A prefeitura argumenta que a tecnologia é única no Brasil e, portanto, só um fornecedor poderia atendê-la. Segundo o artigo 34 da lei 14.133/2021, a licitação é inexigível no caso de "aquisição de materiais, de equipamentos ou de gêneros ou contratação de serviços que só possam ser fornecidos por produtor, empresa ou representante comercial exclusivos”.

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O drone será operado pela Guarda Civil Municipal (GCM) e, segundo a gestão local, seu principal objetivo é fornecer uma visão estratégica aérea das aglomerações durante os chamados “pancadões”. A prefeitura também justifica que os bailes funk não são apenas uma questão de barulho excessivo, mas também de desrespeito às regras de convivência, e que frequentemente estão associados à comercialização de produtos ilícitos, consumo de drogas e outras práticas que colocam em risco a segurança dos moradores.

Procurada pela reportagem da Gazeta do Povo, a prefeitura de Diadema destacou que a principal finalidade do drone é o monitoramento aéreo. "O equipamento permitirá uma visão tática e em tempo real das regiões da cidade, especialmente em áreas de maior vulnerabilidade, o que ampliará a capacidade de resposta da GCM e garantirá mais segurança para a população e para os agentes em serviço", afirma.

O drone poderá, em situações específicas e autorizadas, ser utilizado para o lançamento de recursos não letais, como gás lacrimogêneo, de forma remota. De acordo com a prefeitura, de maneira "segura e proporcional, em casos extremos de resistência ou risco coletivo". O poder público municipal acrescenta que essa possibilidade técnica "está de acordo com os protocolos de segurança pública e os princípios de respeito aos direitos humanos."

Procurada pela reportagem da Gazeta do Povo, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) comentou que sua regulamentação sobre drones não se aplica a este caso, portanto não poderia comentar se o uso da prefeitura é correto. "Na esfera da segurança pública, o órgão de competência para abordar a questão seria o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP)".

O Ministério da Justiça e Segurança Pública, por sua vez, confirmou que não há "normativa específica sobre o uso de drones na segurança pública". A nota do ministério ainda avalia: "Cabe dizer que se trata de instrumento com aplicação ainda incipiente, sendo que não há evidências que indiquem o uso tático-operacional desta tecnologia para dispersão de munição química em situações de controle de distúrbios civis."

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A prefeitura reforça que a compra do drone é uma das ações dentro do programa "Diadema Segura" - a iniciativa inclui outras medidas com foco no fortalecimento da segurança na cidade. Recentemente, a gestão criou o Centro Integrado de Segurança Pública, que integra a inteligência das forças de segurança pública.

Também anunciou uma ampliação da ronda escolar, com novas viaturas. E investiu na contratação de 100 novos guardas municipais. A gestão Taka reitera que o "combate aos pancadões é uma prioridade, e continuará sendo enfrentado com estratégia, inteligência e respeito à população que deseja apenas descansar e viver com dignidade."

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Apesar das justificativas da prefeitura, a aquisição do drone e a prioridade dada ao combate aos "pancadões" são duramente criticadas pela oposição. A vereadora Patrícia Ferreira (PT), líder da oposição na Câmara Municipal de Diadema e ex-vice prefeita, não poupou críticas.

Para ela, a administração municipal está adotando o combate aos bailes funk como a "única política de segurança pública da cidade", sem buscar diálogo com os jovens da periferia ou oferecer alternativas culturais.  A petista acusa a prefeitura de faltar com uma pesquisa de mercado na aquisição e o impacto que o equipamento pode ter em grandes aglomerações. Por fim, ela alega que esse tipo de dispositivo pode "ser uma forma de criminalizar o lazer popular".

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