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Desdobramentos caso Gritzbach

PF “assombra” Polícia Civil de SP com mais investigações de corrupção sob sigilo

Envolvimento de policiais civis e militares com o PCC é alvo de investigação.
Entre os policiais civis presos a partir da delação de Gritzbach está um delegado. (foto ilustrativa) (Foto: Marcelo S. Camargo/Governo de São Paulo)

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A imprensa não falava mais no assunto, que estava para cair em esquecimento e parecia encerrado — com o caso resolvido de forma relativamente satisfatória, diga-se de passagem. Após o escandaloso assassinato de Vinicius Gritzbach, delator da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) executado a tiros de fuzil ao desembarcar no Aeroporto Internacional de Guarulhos, São Paulo, em plena luz do dia em meio a dezenas de pessoas, em novembro do ano passado, as autoridades até que trabalharam rápido.

Primeiro a Polícia Federal (PF) indiciou 14 pessoas por crimes como corrupção, extorsão, tráfico de drogas, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro — dentre elas quatro policiais civis de São Paulo, incluindo um delegado — em fevereiro, cerca de três meses depois do crime. A PF chegou neles a partir da delação de Gritzbach, que já era investigada pela Corregedoria e pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) após trazer denúncias sobre a relação de policiais com o PCC. Os policiais civis estão presos.

Pouco depois, em março, foi a vez da Polícia Civil de São Paulo indiciar seis pessoas, incluindo três PMs, pelo assassinato em si — os PMs foram presos como executores e o mandante, que seria ligado ao PCC, segue foragido com dois comparsas. Por fim, em abril, a Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo indiciou 17 PMs, incluindo os três executores e outros 14 policiais: 13 que participavam da escolta particular de Gritzbach - que atrasou no dia do crime - e um colega deles por falsidade ideológica e prevaricação ao tentar ajudar os colegas. Todos os PMs também estão na cadeia.

Mandante do crime cometido no aeroporto de Guarulhos continua foragido.

Com todo mundo indiciado ou preso, o caso parecia encerrado. Na quarta-feira (25), porém, a Polícia Federal e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-SP reavivaram o caso, desta vez com uma operação denominada "Augusta", mais um desdobramento das investigações sobre a delação e morte de Gritzbach.

Foi decretada a prisão de dois investigadores da Polícia Civil de São Paulo, e de um empresário e ex-piloto de Fórmula Truck. É a terceira prisão decretada contra um dos policiais, que já estava na cadeia desde a operação "Tacitus", que resultou nos indiciamentos da PF em fevereiro. O segundo policial trabalhava na Divisão de Crimes Contra a Administração do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC).

Além das prisões, foram cumpridos nove mandados de busca e apreensão: cinco na capital paulista, três na Grande São Paulo e um na Praia Grande, na Baixada Santista. De acordo com a PF, entre os crimes apurados estão:

  • arquivamento irregular de procedimentos policiais;
  • repasse clandestino de informações protegidas por sigilo;
  • intermediação ilícita e apresentação de documentos falsos para a restituição de bens apreendidos.

Na casa dos presos, a PF encontrou dinheiro, armas e até um helicóptero modelo Augusta AW109 – fato que deu origem ao nome da operação. A aeronave foi bloqueada pela Justiça junto a outros bens e recursos que podem somar R$ 12 milhões. Um carro de luxo também foi apreendido na operação. Os policiais são acusados de corrupção ativa e passiva, violação de sigilo funcional, quebra de sigilo bancário e advocacia administrativa, com penas que podem passar dos 12 anos de cadeia.

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Durante a operação anterior, a perícia encontrou no celular de um dos investigadores que era alvo da ação mensagens que indicavam a participação dele em uma rede muito mais ampla de crimes, envolvendo agentes que até então estavam fora do radar da PF. A operação "Augusta" foi deflagrada com o apoio da Polícia Militar e da Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo. As ordens de prisão e buscas foram expedidas pela Justiça paulista e as investigações seguem em andamento, sob sigilo.

Em nota, a Polícia Civil de São Paulo "informa que um investigador lotado na Divisão de Crimes Contra a Administração do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), foi preso nesta quarta-feira (25), após o cumprimento de um mandado de prisão”.

"Ele é suspeito de envolvimento com infrações penais relacionadas aos Artigos 33 e 35 da Lei de Drogas, além de participação em organização criminosa. O policial está sendo apresentado na Delegacia do Deinter 6, em Santos, e deverá passar por audiência de custódia nas próximas horas. Ainda durante a operação, também foi cumprido um mandado de prisão e de busca e apreensão contra outro agente, que já se encontra detido”, completa a nota. No comunicado, a Polícia Civil de São Paulo também reforça que "as investigações seguem sob sigilo para não comprometer o andamento dos trabalhos”.

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Nos bastidores, o clima é de relativa surpresa e “terror”, relatam policiais civis de São Paulo à Gazeta do Povo. “Por mais que todo mundo soubesse que as investigações ainda estavam abertas, achávamos que não tinha mais nada muito grande para puxar dessa história”, afirma um investigador do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), que chegou a trabalhar com um dos investigadores preso nesta semana e que pede para não ser identificado por não ter autorização para dar entrevistas e também por causa dos colegas.

“Agora está aquele clima de ‘barata voa’. Quem será o próximo? Quem mais está envolvido?”, diz. “De uma coisa podemos ter certeza, a PF agora não vai parar até ‘secar’ a história”, afirma  outro investigador, este da Corregedoria da Polícia Civil. Na opinião dele, “vem mais bomba por aí, e não vai demorar”, com "carta branca" para a investigação desvendar tudo o que conseguir sobre a infiltração do crime organizado nas forças policiais.

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