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Quando fundou seu PSD, em 2011, Gilberto Kassab saiu-se com uma pérola que entraria para a antologia da política brasileira: “Não será de direita, não será de esquerda, nem de centro", afirmou na época sobre a nova sigla, criada basicamente para abrigar políticos de direita que gostariam de apoiar o governo petista da então presidente Dilma Rousseff em troca de recursos. Com três ministérios no governo Lula (PT), três secretarias e o vice no governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo, três governadores próprios, 885 prefeitos, 43 deputados federais e 11 senadores, o PSD mantém-se fiel às suas origens 14 anos depois e confunde-se com a própria definição de “Centrão”.
No melhor estilo que o definiu ao longo desse tempo todo, Kassab equipa-se para as eleições de 2026 com um pé em cada canoa. Sem desembarcar do governo federal do PT, é também um dos principais articuladores de um possível projeto presidencial de Tarcísio pelo campo da oposição. Na semana passada, Kassab mexeu em mais uma peça no tabuleiro ao chancelar uma pré-candidatura à Presidência do governador do Paraná, Ratinho Junior, também do PSD.
“O PSD vê no Ratinho Junior um futuro para o Brasil, e eu tenho certeza que se um dia o Brasil for presidido por Ratinho Junior estará em excelentes mãos, caminhando para ser um protagonista mundial", afirmou Kassab em um vídeo publicado nas redes sociais no início da semana passada.
O movimento confundiu aliados próximos ao governador de São Paulo, de quem Kassab é secretário de Governo e Relações Institucionais, que viram na fala uma espécie de declaração de independência do líder do PSD em relação ao projeto presidencial de Tarcísio. Políticos próximos a Kassab, porém, afirmam à reportagem da Gazeta do Povo que Ratinho Junior seria “uma carta na manga” para 2026, caso Tarcísio decida por candidatar-se à reeleição em São Paulo e o governador paranaense demonstre viabilidade crescendo nas pesquisas eleitorais ao longo dos próximos meses.
Para acalmar os ânimos e desfazer o ruído, Kassab enviou um recado tranquilizador para os defensores do projeto presidencial de Tarcísio no último final de semana. Em entrevista ao Estadão, o vice-governador de São Paulo, Felício Ramuth (PSD) - tido no meio político como um porta-voz informal de Kassab - disse que a entrada de Tarcísio na eleição presidencial de 2026 é um cenário natural, que se consolida a cada dia que passa. Outro indicativo neste caminho é que o próprio Kassab ofereceu recentemente seu nome para disputar o governo de São Paulo em 2026.
“O candidato em São Paulo é o Tarcísio, e o meu candidato será o dele. Caso ele decida disputar a Presidência e avalie que o meu nome é o mais adequado, eu aceito a missão”, disse humildemente à CNN Brasil na semana passada. Na mesma entrevista, porém, Kassab manteve-se em cima do muro e disse que poderia apoiar o nome do atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), para governador. “É um excelente nome", afirmou.
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Planos A, B e C de Kassab para 2026
Segundo um aliado próximo explica à reportagem da Gazeta do Povo, a definição dos candidatos de Kassab em 2026 depende do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) liberar e apoiar o quanto antes - ou não - uma aventura presidencial para Tarcísio. Tal qual o governador do Republicanos, o líder do PSD só teria viabilidade eleitoral com o apoio explícito de Bolsonaro.
Este, por sua vez, pode decidir apoiá-lo ao governo de São Paulo em troca de apoio do PSD à anistia no Congresso. Ou ainda apoiar o nome de Nunes, já que quem assumiria a prefeitura de São Paulo neste caso seria o coronel Ricardo Mello Araújo (PL), seu fiel aliado. Assim, o presidente do PSD teria de esperar o próximo movimento de Bolsonaro para definir os seus próprios.
“O plano A é Tarcísio para presidente com Kassab como vice ou então para governador de São Paulo", diz o aliado. “O plano B é reeleger o Tarcísio e entrar como vice na chapa em São Paulo, quem sabe com o Ratinho Junior para presidente. O plano C é apoiar a reeleição do Lula, caso ele melhore sua popularidade até lá e os planos com Tarcísio e Ratinho não decolem", completa o aliado. Durante um evento do Grupo Voto na quarta-feira passada (26), Kassab confirmou que atualmente só vê os nomes de Lula, Tarcísio e Ratinho Junior como competitivos para a disputa do Palácio do Planalto em 2026.
“Ele não fechou a porta para ninguém, mas neste momento é possível ver uma lealdade muito grande dele ao Tarcísio”, afirma o cientista político e professor Elias Tavares. “Decida o Tarcísio sair para presidente ou tentar se reeleger como governador em São Paulo, acredito que ele terá o Kassab ao seu lado. Provavelmente como vice.”
Para o cientista político, o presidente do PSD tem muito a oferecer a quem decidir apoiar em qualquer eleição, e por isso essa ambiguidade seria tolerada tanto à esquerda quanto à direita do espectro político. “O apoio do Kassab pavimenta um arsenal político que é muito importante para qualquer candidato: ele consegue trazer de fato recursos de fundo partidário e eleitoral, tempo de TV, apoio político capilarizado nas prefeituras e alianças para ter uma campanha competitiva. Esse é um cenário político-partidário interessante para construção ou fortalecimento de um nome.”
Para Kassab, só os nomes de Lula, Tarcísio e Ratinho Junior são competitivos para a disputa do Palácio do Planalto em 2026.
“O Kassab é uma figura que pensa a política não agora, mas lá na frente, ele tem uma estratégia de poder”, afirma Tavares. “É um político que joga com o tempo, com paciência. São as cartas na manga que ele vai construindo, todo mundo tem o Kassab e ninguém o tem ao mesmo tempo. Ele aponta para vários caminhos, mas invariavelmente na ‘hora H’ vai para o caminho da vitória, seja com quem for", avalia.
Procurado pela Gazeta do Povo, Kassab preferiu não conceder uma entrevista. Por meio de sua assessoria de imprensa, limitou-se a dizer que para 2026 apoia o projeto político do governador Tarcísio de Freitas, seja ele qual for.
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