Mudanças de "endereço" da cracolândia desencadearam manifestações populares na cidade de São Paulo. Moradores do bairro da Santa Cecilia e Campos Elíseos discutem com comerciantes da região da Santa Ifigênia, na tentativa de empurrar o problema. Na terça-feira (15), em uma das migrações dos usuários de droga, a confusão que resultou na morte de um homem de 54 anos, após receber uma facada.
O fato ocorreu entre a Rua dos Protestantes e a Avenida Rio Branco, ponto onde atualmente ficam alocados os dependentes químicos. A vítima estava se dirigindo para o trabalho quando foi atacada, por volta das 18h. O crime está sendo investigado pela Polícia Civil como latrocínio (roubo seguido de morte). A tragédia aconteceu a poucos passos do "fluxo", nome dado para o grupo de usuários de droga.
Moradores e comerciantes da região fazem têm feito protestos pedindo uma solução para a cracolândia ou que os usuários de drogas não fiquem perto de suas lojas ou casas. Na semana passada, um grupo de moradores do Campos Elíseos protestou contra a chegada do "fluxo" na região da Alameda Dino Bueno e da Avenida Duque de Caxias. Os moradores fizeram uma corrente humana impedindo a passagem de carros e ônibus. De acordo com nota da Secretaria da Segurança Pública de SP, o trânsito foi regularizado minutos depois pela Polícia Militar.
Dois dias antes, foi a vez dos comerciantes da Santa Ifigênia protestarem. Eles se mobilizaram para pedir a saída da cracolândia da região alegando que as vendas caíram. A manifestação foi acompanhada pela PM e transcorreu sem violência.
A cracolândia tem mudado constantemente de endereço, apesar do prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB) ter negado isso recentemente. “Ali temos o centro de acolhida, temos uma Unidade Básica de Saúde, temos vários serviços da prefeitura que fazem o atendimento. Não vamos remover a cracolândia de um local para outro”, disse o prefeito, embora o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), já tenha reconhecido que o ideal seria afastar o grupo de usuários de áreas residenciais e comerciais.
Operações da Polícia Civil no perímetro também geram uma mudança de rota por parte dos usuários. Uma mulher que preferiu não ser identificada mora em um prédio localizado a poucos metros da cracolândia e conversou com a reportagem da Gazeta do Povo. “É péssimo morar aqui. O barulho é insuportável, mais de 230 famílias estão sem dormir. Crianças assustadas e idosos doentes sem dormir. Impossível andar a pé ou solicitar um aplicativo de carro na região. Quando chamamos o aplicativo eles nem vêm. Já aconteceu comigo de estar na rua de casa e, no semáforo, quebraram o vidro para roubar o celular do motorista”, relata.
A mulher mora ao lado da estação da Luz do metrô, um local bem próximo do "fluxo". Ela conta que já presenciou diversos assaltos e critica a postura da Guarda Civil Metropolitana (GCM). “A GCM fica por aqui apenas em horário comercial, então se chegarmos em casa após as 18h, não temos segurança, corremos o risco até chegar em casa. Terça-feira teve uma morte na esquina de casa”.
Por fim, a moradora se mostrou preocupada com a situação da cracolândia, que segundo ela parece não ter solução. “Esse leva e traz do 'fluxo' é péssimo, só mostra que a prefeitura e outros órgãos competentes não têm plano nenhum para melhorar a situação dos moradores e trabalhadores da região. Não há realmente vontade de combater o tráfico de drogas. Vejo muitas vendas de droga pela janela de casa”.
Um comerciante que também não quis ser identificado por questões de segurança contou como está sendo conviver com o "fluxo". “Tenho minha loja há anos na Santa Ifigênia, mas agora a cracolândia está muito perto, como vamos vender? Quem vai querer vir até aqui para comprar algo correndo o risco de ser assaltado ou até morto?”
O homem contou que as vendas caíram no último mês e que está estudando a possibilidade de um sistema de entregas para as suas mercadorias, já que os clientes estão com medo de irem até a loja.
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