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O pré-candidato à prefeitura de São Paulo pelo Psol, Guilherme Boulos, e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que tentará a reeleição em outubro.
O pré-candidato à prefeitura de São Paulo pelo Psol, Guilherme Boulos, e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que tentará a reeleição em outubro.| Foto: Montagem Gazeta do Povo (Divulgação/Câmara dos Deputados e Prefeitura de São Paulo)

A dez meses das eleições municipais, o ano começou agitado na Câmara Municipal de São Paulo. Isso porque o vereador Rubinho Nunes (União Brasil), parte da base apoiadora do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), propôs a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na casa legislativa. O objetivo é investigar a atuação de organizações não governamentais (ONGs) e do padre Júlio Lancellotti, próximo de Guilherme Boulos (Psol), pré-candidato a prefeito e principal opositor de Nunes.

O foco da CPI, que será instalada em fevereiro, é fazer um pente fino nas instituições que atuam na cracolândia e na região central da cidade, principalmente a Craco Resiste e o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto (Bompar). A investigação pretende avaliar a eficácia dos programas oferecidos pelas ONGs no tratamento de dependentes químicos, buscando entender melhor como essas instituições utilizam os recursos disponíveis e se estão alcançando resultados.

"Eu recebi denúncias de diversos tipos. O que eles fazem ali é explorar a miséria, porque enquanto a miséria não acaba, a fonte de recursos dessas instituições também não acaba. A CPI busca investigar a atuação dessas ONGs como um todo, a fonte de recursos, quem faz parte, quem não faz parte, a forma como o recurso é destinado, se é para pagar funcionário ou não", disse Rubinho Nunes à Gazeta do Povo.

Recuo nas acusações ao padre Júlio Lancellotti

Após a repercussão negativa a respeito do padre Júlio Lancellotti, alguns parlamentares tentam desvincular a CPI do nome dele. "A CPI é das ONGs, não tem nada a ver com o padre Lancellotti. Eu sou cristão, sou embaixador da Cristolândia, instituição ligada à Igreja Batista e que atua na cracolândia, mas que não recebe nada do poder público. Queremos saber onde são investidos os recurso públicos e como os serviços estão sendo prestados. Como as creches e os albergues conveniados estão sendo administrados?", questiona o vereador Isac Félix (PL).

"O padre faz um excelente trabalho, mas ele se mete em política, fica lá invertendo as coisas e dá no que dá. Ele foi só citado como uma pessoa que poderia ir na CPI para falar do trabalho que ele faz, mas a extrema esquerda do país politiza tudo e quer usar isso de trampolim para se promover politicamente", diz ele.

A própria Arquidiocese de São Paulo, por meio do bispo dom Odilo Scherer, solicitou que o padre Júlio Lancellotti não seja envolvido na CPI das ONGs.

Efetividade das ONGs é questionada

A Craco Resiste, fundada em 2016 durante a gestão de Fernando Haddad (PT), é acusada de se posicionar contra a presença policial na região e distribuir instrumentos utilizados para o consumo de drogas, como é o caso de cachimbos e seringas, sob o argumento de minimizar danos. Assim como a Bompar, as instituições são mencionadas como parte de uma suposta tentativa da esquerda de romantizar a miséria e a dependência química. A CPI quer lançar luz sobre essas organizações, inserindo-as no escopo da investigação para avaliar seu impacto na realidade enfrentada pelos dependentes químicos na cidade de São Paulo.

Além disso, o vereador Rubinho recebeu denúncias contra o padre Júlio Lancellotti, mas prefere não se manifestar ainda por se tratar de assuntos graves que precisam ser averiguados. No mês passado, quando protocolou a CPI, Rubinho afirmou que iria fazer um "raio-x" em Lancellotti. "Vou fazer um exame nas entranhas desse sujeito. Todo mundo vai saber o que tem por trás do Lancellotti. Esse padre vai ter que vir aqui prestar esclarecimento na Câmara. Vou arrastar ele para cá em coercitiva, nem que seja algemado", disse na ocasião.

Pároco da Paróquia São Miguel Arcanjo, pertencente à Arquidiocese de São Paulo, Lancellotti atua junto à população de rua e dependentes químicos na cracolândia, principalmente com distribuição de alimentos. Apesar de a Igreja Católica pedir o não envolvimento de religiosos em política, Lancellotti é conhecido por participar de manifestações junto à políticos de esquerda, como é o caso do próprio Boulos.

Marcone Moraes, fundador e presidente do Pró-Centro, associação formada por empreendedores e interessados pela região central de São Paulo, questiona o fato de as políticas públicas feitas na cracolândia não estarem funcionando. "Precisamos realmente debater o que é ou não eficiente, porque as pessoas ficam cada vez mais na rua e o tráfico de drogas tem cada vez mais domínio sobre essas pessoas", diz ele.

"Existe claramente um tipo de escravidão permitida na cidade de São Paulo, que é o fluxo de usuários da cracolância. O tráfico de drogas literalmente escraviza a pessoa para o uso da droga. Posto isso, algumas instituições alimentam esses usuários e não têm conseguido tirar essas pessoas das mãos desses escravizadores", diz Moraes.

"Eu como associação, lojista e morador do centro, não consigo entender como existem instituições que defendem que pessoas permaneçam na rua usando drogas e atentando contra a própria vida enquanto outras pessoas lucram com isso. Isso para mim não faz sentido. Acolher um usuário de droga na rua é como querer que um alcoólatra se recupere dentro de um bar", compara Moraes.

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