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As investigações do assassinato do ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo Ruy Ferraz Fontes, de 64 anos, morto a tiros na noite de segunda-feira (15) em Praia Grande, no litoral paulista, indicam que ele foi vítima de um crime “meticulosamente planejado”, efetivado com o uso de armamento pesado e de forma criteriosa, com atiradores preparados. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do estado, nenhuma hipótese será descartada.
Segundo o secretário de Segurança Pública Guilherme Derrite, a Polícia de São Paulo identificou dois suspeitos de envolvimento no assassinato de Ruy Ferraz Fontes. De acordo com Derrite, a perícia no local do crime permitiu a identificação dos dois investigados, cujas prisões temporárias serão solicitadas. O primeiro já havia sido apontado como um homem com diversas passagens pela polícia, incluindo prisões por roubo, tráfico e atos cometidos quando ainda era adolescente. Derrite destacou que todas as forças de segurança seguem mobilizadas para garantir a punição dos responsáveis.
O ex-delegado-geral de São Paulo e atual secretário de Administração de Praia Grande tinha mais de 40 anos na Polícia Civil. Ruy teve papel importante no combate ao crime organizado, especialmente contra o PCC, ainda nos anos 2000, e agora atuava na administração municipal no litoral paulista, tendo sido nomeado em janeiro de 2023.
O delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Artur Dian, afirmou que o assassinato do ex-delegado-geral foi uma ação cuidadosamente arquitetada, marcada por um alto grau de complexidade e com indícios de que a vítima vinha sendo monitorada dias antes do ataque. No local, os investigadores encontraram armamento pesado, incluindo carregadores de fuzil e munições, o que reforça a tese de crime planejado.
Dian destacou que os tiros foram disparados com técnicas precisas e garantiu que “nenhuma hipótese será descartada”, assegurando que as equipes da Polícia Civil e da Polícia Militar estão mobilizadas para capturar os responsáveis.
As câmeras de segurança serão cruciais para auxiliar nas investigações. Elas mostram que o carro de Ruy foi perseguido pelos atiradores, foi atingido, colidiu contra um ônibus e capotou. Três homens desceram do veículo que os seguia e atiraram várias vezes com fuzis, enquanto um quarto suspeito dirigia. Foram encontrados mais de 20 estojos de munição no local.
Ruy Ferraz Fontes morreu no local, enquanto duas pessoas que estavam próximas foram feridas e levadas ao hospital, sem risco de morte. Informações preliminares indicam que Fontes chegou a reagir, atingindo um dos criminosos, que ainda não foi identificado.
A polícia apura diferentes linhas e fontes ligadas às investigações indicam que elas vão desde a represália de organização criminosa até o caso envolvendo uma licitação da prefeitura que teria prejudicado interesses de criminosos.
Um carro suspeito de ter sido usado pelos atiradores foi encontrado incendiado pouco após a execução. Para localizar e prender os responsáveis, foi formada uma força-tarefa envolvendo a Rota, o Batalhão de Choque, o DHPP e o Deic, com prioridade definida pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Segundo Tarcísio, a Polícia Civil instaurou inquérito e trata o caso como prioridade máxima.
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Ex-delegado relatava temor e ameaças
Nos últimos anos, o delegado já havia manifestado preocupação com a segurança própria e da família, após episódios de assalto e ameaças. Ruy era reconhecido por seu histórico no combate PCC e um dos primeiros delegados a investigar a organização criminosa, por isso nunca teria saído da mira da facção.
Ele já foi considerado um dos principais inimigos do PCC. Para autoridades de segurança, a principal hipótese é de execução por vingança do PCC, mas outras possibilidades seguem no radar.
O secretário-executivo da Segurança Pública de São Paulo, Osvaldo Nico Gonçalves, disse que “certamente foi vingança". "Ele lutou muito contra a facção”. O líder do PCC, Willians Herbas Camacho, o Marcola, teria ordenado sua morte ainda em 2019, após ser transferido para o sistema penitenciário federal.
O atual delegado-geral, Artur Dian, esteve no litoral, e o comando da PM havia anunciado o envio de pelo menos 100 homens de batalhões especializados para reforçar as buscas pelos autores do crime.
Ruy Ferraz foi um dos primeiros a investigar PCC
Com mais de 40 anos de carreira na Polícia Civil, Ruy Ferraz Fontes atuou em diferentes frentes e foi um dos primeiros a mapear as atividades do PCC quando o governo estadual relutava em reconhecer oficialmente a facção. Em 2006, esteve na linha de frente durante a onda de ataques orquestrada pelo grupo criminoso que paralisou São Paulo.
Ao longo das últimas décadas, sobreviveu a várias tentativas de assalto que, para colegas, poderiam ter sido disfarces para ataques. Em pelo menos três abordagens reagiu e chegou a balear suspeitos em diferentes ocasiões na Grande São Paulo. Já em Praia Grande, foi vítima de roubo à mão armada no fim de 2023 quando voltava de um restaurante.
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Entidades manifestam pesar pela morte do delegado
Entidades de classe lamentaram a morte. A diretora da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol), Raquel Gallinati, afirmou que Fontes foi “executado covardemente” e o descreveu como “um dos melhores delegados-gerais, responsável por impor grandes prejuízos ao PCC”.
O secretário-adjunto de Segurança Pública de São Paulo, Osvaldo Nico Gonçalves, afirmou que as imagens do assassinato mostram que os executores tinham preparo técnico para agir, já que um deles dava cobertura enquanto os outros dois disparavam contra a vítima, cujo carro já havia sido atingido durante a perseguição. Ele destacou que todas as hipóteses seguem em investigação, mas não podem ser reveladas no momento.
A Associação Paulista do Ministério Público (APMP) manifestou, repúdio pelo assassinato do ex-delegado-geral de São Paulo e afirmou que ele deixou um legado significativo na segurança pública paulista.
Em nota, a APMP reforçou o apoio ao trabalho das forças de segurança, incluindo as Polícias Civil e Militar e o Ministério Público, ressaltando a importância de fortalecer sistemas de proteção integral para agentes públicos que enfrentam organizações criminosas, inclusive após a aposentadoria.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo manifestou profundo pesar pela morte de Ruy Ferraz Fontes, “vítima de um atentado”. A SSP afirmou que policiais militares atenderam rapidamente à ocorrência e localizaram o veículo utilizado pelos criminosos. A área foi preservada para a perícia, enquanto a Polícia Civil registra o caso e mantém equipes em diligência, utilizando recursos de inteligência para identificar, capturar e responsabilizar os responsáveis pelo crime.









