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A prefeitura de Curitiba pretende comprar 138 ônibus elétricos nos próximos meses e acelerar a transição energética na frota do transporte público. A cidade, que hoje tem sete veículos elétricos em circulação, passaria a ser a segunda do Brasil nesse quesito, atrás apenas de São Paulo, que lidera o ranking com 588 ônibus movidos à eletricidade.
De acordo com a plataforma E-Bus Radar, que mapeia a eletrificação do transporte coletivo na América Latina, o país conta com 730 ônibus elétricos — excluindo os trólebus que usam cabos —, ficando atrás de Chile (2.655 veículos) e Colômbia (1.590). Do total brasileiro, 713 são de modelos convencionais e 17 são articulados, distribuídos geograficamente da seguinte forma:
- São Paulo - 588
- Salvador (Região Metropolitana) - 20
- Belém - 15
- Cascavel - 15
- Goiânia - 14
- Porto Alegre - 12
- São José dos Campos - 12
- Salvador - 8
- Curitiba - 7
- Diadema - 6
- Brasília - 6
- Vitória (Região Metropolitana) - 4
- Vargem Grande Paulista - 3
- Guarujá - 3
- Volta Redonda - 3
- Maringá - 3
- Manaus - 2
- Mauá - 2
- Sorocaba - 2
- São Bernardo do Campo - 2
- Bauru - 2
- Santos - 1
- Bertioga - 1
- Osasco - 1
Apesar de o Brasil ter menos ônibus elétricos em circulação do que Chile e Colômbia, o especialista em mobilidade urbana Rodrigo Tortoriello observa que o país vem trabalhando a transição de forma organizada. "Não estamos atrasados. Estamos em um processo organizado, com contratos com maturidade em níveis diferentes. Certamente teremos uma das maiores frotas de ônibus elétricos do mundo”, opina.
São Paulo, por exemplo, optou por adotar os ônibus elétricos na máxima do “trocando o pneu com o ônibus andando”. Para cumprir metas e prazos de descarbonização, investiu na eletrificação muito tempo antes dos contratos de concessão do transporte coletivo chegarem ao fim.
São Paulo tem a ambição de incorporar 2,2 mil ônibus entre 2025 e 2028. Para isso, conseguiu a liberação de R$ 1,4 bilhão do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a aquisição de novos veículos no curto prazo. Sem contar os R$ 550 milhões com o Banco da China para a compra de ônibus produzidos no país asiático.
No caso de Curitiba, a prefeitura escolheu o caminhos dos testes, colocando veículos de fabricantes diferentes para rodar pela cidade e identificar as rotas mais eficientes, os pontos ideais de recarga, as principais manutenções, entre outros itens. Com base nisso, investirá nos ônibus no momento em que os contratos atuais do transporte coletivo estão vencendo.
Para bancar a compra de 138 ônibus elétricos, Curitiba deve recorrer ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ao banco alemão KfW. No primeiro caso estão previstos R$ 380 milhões para 54 veículos atenderem a linha Inter 2 e dois eletropostos.
Para o banco alemão, o valor do financiamento é de R$ 640 milhões para 84 ônibus das linhas Interbairros 2 Ligeirão Leste/Oeste — no montante também estão previstos eletropostos e 27 sistemas fotovoltaicos em equipamentos públicos. Os dois processos foram enviados à Câmara Municipal.
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Pelos valores que Curitiba e São Paulo devem pagar por novos ônibus elétricos, fica claro que o investimento na eletrificação é significativo, o que explica, em partes, uma relativa demora do Brasil avançar mais nessa frente. Ao mesmo tempo, a complexidade de fazer a transição reduz o ímpeto dos gestores. Essa transição é mais do que simplesmente trocar o diesel pela energia elétrica.
“Costumamos tratar algumas soluções como se fossem balas de prata. No caso do elétrico, não é tirar tudo a diesel e trocar por elétrico. Ele não vai atender a todos os casos em todas as cidades”, diz Tortoriello. “Em termos de complexidade, a eletrificação de um frota de ônibus é mais próxima de veículos sobre trilhos do que de veículos a diesel”, pondera o especialista.
A transição para os elétricos exige também o investimento em infraestrutura de recarregamento. No pacote, a estimativa no mercado é de que o investimento para migrar para uma frota elétrica se pague entre oito e dez anos. Depois desse ponto, passa a ser vantajoso, incluindo a manutenção mais barata, visto que esses veículos possuem menos peças na comparação com os movidos a diesel.
Ao mesmo tempo, o Brasil começa a ver mais fabricantes no mercado nacional. A Eletra, que tem sede em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, é a principal fornecedora de ônibus elétricos do país. A Mercedes-Benz também já produz localmente. E a Volvo começou em maio a produzir ônibus elétricos articulados e biarticulados na planta de Curitiba. A empresa sueca já produzia elétricos convencionais para exportar ao mercado latino-americano.
“As grandes cidades, notadamente São Paulo, acabam viabilizando a indústria nacional. Uma cidade com dois ônibus não vai ganhar escala”, aponta Rodrigo Tortoriello. “Esse processo de transição tem que permitir que a indústria nacional também consiga fazer a transição, para que a tecnologia e o conhecimento sejam absorvidos”, completa.
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