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Caso mantenha aquela que é a sua posição oficial até o momento e dispute a reeleição ao governo do estado de São Paulo nas eleições de 2026, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) segue sem rivais competitivos e deve ter uma vitória tranquila — pelo menos é o que apontam todas as pesquisas de intenção de votos até aqui. Mas se, ao contrário, decida lançar-se em um projeto presidencial contra a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como indicam gestos e discursos mais recentes, Tarcísio deve deixar a eleição em São Paulo aberta — com a direita ainda como favorita, mas com chances para todos os espectros políticos.
É o que mostra o novo levantamento do Instituto Paraná Pesquisas com projeções de intenção de votos na eleição para o governo de São Paulo no ano que vem, divulgada no último dia 9. Sem surpresas, o levantamento mostra o atual governador paulista com vantagem superior a 18 pontos percentuais para os segundos colocados em todos os cenários testados e chega a marcar 47,3% das intenções de voto em um deles, com chances reais de reeleição ainda no primeiro turno.
Sem Tarcísio, no entanto, a corrida eleitoral em São Paulo embola. No cenário em que tem o nome testado, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), “brilha" e aparece com 29,9% das intenções de voto, mais que o dobro do segundo colocado Márcio França (PSB), ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, preferido por 14,2% dos entrevistados.
No mesmo cenário, Erika Hilton (PSOL) aparece em terceiro lugar com 11,8% e na sequência estão Rodrigo Manga (Republicanos) com 8,8%, Alexandre Padilha (PT) com 6,5%, Paulo Serra (PSDB) com 4,9% e Felipe D'Avila (Novo) com 2,9%. Não sabem ou não responderam somam 6,8%, e nenhum, brancos e nulos, 14,3%. O Paraná Pesquisas ouviu 1.680 entrevistados em 84 municípios de São Paulo, entre os dias 4 e 8 de julho de 2025. O nível de confiança da pesquisa é de 95% e a margem de erro, de 2,4 pontos percentuais.
Quando o nome de Nunes é substituído pelo de Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD e secretário de Relações Institucionais do governo Tarcísio em São Paulo — que já manifestou vontade de substituir o governador na disputa pelo governo do estado caso ele vá para a disputa presidencial — quem assume a liderança do cenário é França com 17,9%, seguido por Erika Hilton com 12,3% e Manga com 11,9%. Kassab chega apenas na quarta colocação com 9,2% de preferência dos entrevistados e seguido por Padilha com 7,9%, Serra com 6% e D’Avila com 3,6%.
Em outro cenário, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite (Progressistas) pontua com 16,1% das intenções de voto, atrás de França (18%), e na frente de Erika Hilton (12,3%), Manga (9,3%), Alexandre Padilha (8,3%), Serra (6,6%) e D'Avila (2,4%). Nos cenários de segundo turno, a maioria das posições se mantém.
Fator Alckmin
Para o cientista político Elias Tavares, o cenário é de “corrida aberta”, com uma tendência de larga vantagem de saída para Nunes no cenário com o nome dele testado. “Alguns nomes aparecem muito bem posicionados”, afirma. “Tem o Nunes e o Derrite pela direita, França e Alckmin mais ao centro e a Erika Hilton pela esquerda que pontuaram de maneira bastante interessante", acrescenta.
Para ele, considerando que o ministro Fernando Haddad (PT) e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) demonstram até o momento pouca disposição em largar o governo federal para disputar eleições no ano que vem, a direita sai melhor posicionada. Os dois também foram testados como nomes para o Senado no levantamento do Paraná Pesquisas. “Além de o Nunes aparecer com mais que o dobro do França - o candidato natural da centro-esquerda-, o próprio Derrite está em empate técnico com ele”, diz Tavares.
Para o analista político, qualquer um dos dois nomes tende a ser franco favorito em um cenário contra França ou mesmo Erika Hilton. “A Erika está se firmando como um dos grandes nomes da esquerda no geral, e não apenas identitária, com um núcleo duro de apoio muito forte principalmente na capital, mas é um nome que com certeza vai encontrar muita resistência em um eleitorado mais de centro-direita, no interior do estado por exemplo, e deve encontrar dificuldades para crescer a ponto de uma vitória eleitoral.”
Tavares lembra, no entanto, que falta mais de um ano para as eleições e assim, a configuração das candidaturas ainda vai mudar bastante. “Senti falta de um cenário de primeiro turno com o Alckmin sem o Tarcísio na pesquisa, porque essa é uma configuração possível que pode balançar as coisas. Cerca de 20% dos eleitores, quando perguntados quem é o governador do estado, responde que é ele. Considerando que ele deixou essa posição em 2018, é impressionante o 'recall'.”
Nunes com "a faca e o queijo na mão" ao governo de São Paulo em 2026?
Para a cientista política Juliana Fratini, o prefeito de São Paulo estaria "com a faca e o queijo na mão", despontando como opção mais viável que nomes até mais consolidados na política estadual. “É um político muito maleável, capaz de compor com diversos atores diferentes, e está com um peso institucional enorme que é a prefeitura de São Paulo”, afirma.
“Com esse crescimento nas pesquisas e confirmada a ida do Tarcísio para a disputa presidencial, fica difícil de não olhar para ele como o candidato natural do campo conservador”, opina.
“A Erika Hilton não me surpreende se consolidar nessa pesquisa, porque é um nome até nacionalizado, muito conhecido, mas as mesmas características que a fazem pontuar bem também podem ser limitadoras de um crescimento mais expressivo”, avalia. Segundo a cientista política, a entrada de Alckmin ou mesmo Haddad no páreo não deveria ser descartada.
“O Haddad talvez seja obrigado pelo PT a sair candidato para dar palanque ao Lula em São Paulo, que ainda não tem nenhum muito claro nem forte. Já o Alckmin, ainda não está garantido que a dobradinha com o Lula vai se repetir”, aponta ela.
Seja como for, os possíveis postulantes ao governo de São Paulo em 2026 foram às redes. Nunes evitou o tema diretamente, mas fez publicações demonstrando alinhamento completo com Tarcísio nos últimos dias — inclusive compartilhando a postagem do governador responsabilizando o presidente Lula pelo “tarifaço" de 50% sobre produtos brasileiros anunciado pelo presidente norte-americano, Donald Trump.
Aliados diretos do prefeito, no entanto, reivindicaram a candidatura da direita para ele em diversas postagens. Pela oposição, Márcio França foi mais um do núcleo de Lula que aproveitou o tarifaço para atacar Tarcísio - chegou a pedir sua renúncia.
"Quando Tarcísio desfilava de boné “Make America Great Again” ninguém avisou que o paulista ia pagar a conta”, anotou em vídeo nas redes sociais. "Trump meteu 50% de tarifa no Brasil e adivinha quem está na linha de frente do prejuízo? São Paulo. Cuidado com as bandeiras que você carrega”, acusou.
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