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São Paulo

Símbolo do abandono do centro paulistano, “Caveirão” será demolido pela prefeitura

Abandonado desde a década de 1960, o "Caveirão" está sendo demolido pela Prefeitura de São Paulo
Abandonado desde a década de 1960, o "Caveirão" está sendo demolido pela prefeitura de São Paulo (Foto: Divulgação/Prefeitura de São Paulo)

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O esqueleto de concreto e ferro que por décadas assombrou a Rua do Carmo, no coração de São Paulo, promete ter seus dias contados. Conhecido como “Caveirão”, o prédio de 23 andares inacabados, abandonado desde a década de 1960, começou seu processo de demolição.

Símbolo do descaso e do risco que permeiam a região central da capital paulista, a estrutura, que representava perigo iminente de desabamento e incêndio, será removida após uma longa batalha judicial da prefeitura. A Procuradoria Geral do Município (PGM) obteve autorização judicial para executar a obra e, posteriormente, ser ressarcida pelo proprietário do imóvel.

A decisão da Justiça prevê o bloqueio de valores para o pagamento de multas diárias que somam um montante considerável, pois o dono do prédio já havia descumprido ordens judiciais anteriores de demolição. A sentença, proferida pela juíza Maria Gabriella Pavlópoulos Spaolonzi, da 13ª Vara da Fazenda Pública, justificou a medida pela “precariedade da estrutura do prédio especificado e o risco que traz a toda coletividade”.

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Demolição do "Caveirão" tem custo milionário e é de alto risco

A complexidade da operação reflete a gravidade do problema. O serviço foi contratado por cerca de R$ 6 milhões com a empresa Demolidora FBI. A demolição será realizada manualmente, em uma operação que pode durar até 300 dias, para evitar danos aos imóveis históricos e tombados que circundam o “Caveirão”.

Apenas no primeiro mês, a equipe se dedicará à preparação do local, o que inclui a colocação de telas de proteção e de tapumes que funcionem como acessos seguros para a execução da obra. O contrato inclui a retirada de todo o entulho e a construção de um muro para fechar o terreno.

Construído como um edifício-garagem na década de 1960, o “Caveirão” nunca foi finalizado, tornando-se um fantasma urbano. Desde 2010, a construção era alvo de fiscalizações da prefeitura, que alertava para a deterioração da estrutura.

Em junho do ano passado, a Justiça já havia determinado que o proprietário realizasse a demolição, sob pena de multa diária de R$ 500. A ordem foi ignorada, levando o poder público a intervir diretamente.

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De promessa de restauração a símbolo de uma tragédia

A história do “Caveirão” é marcada por tentativas frustradas de revitalização e um clima de tensão. Em 2014, um empresário comprou o prédio por R$ 2,5 milhões, prometendo restaurá-lo. A iniciativa não prosperou. A defesa do empresário alegou falta de apoio da prefeitura e dificuldades para remover os invasores que ocupavam o local, argumentando que o poder público tentava transferir a responsabilidade por anos de descaso.

A situação do prédio, no entanto, se tornou ainda mais crítica após a tragédia de 2018 no Largo do Paissandu, quando o desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, ocupado de forma irregular, causou sete mortes. O incidente, que expôs a vulnerabilidade dos imóveis abandonados no centro de São Paulo, serviu como um catalisador. Em novembro de 2018, a prefeitura entrou com uma ação para a demolição do "Caveirão", anexando laudos da Defesa Civil que confirmavam o risco iminente.

O “Caveirão” era habitado por dezenas de famílias em condições precárias, com instalações de água, energia e esgoto irregulares, além de escadas de madeira improvisadas. A Justiça chegou a emitir ordens de despejo com o auxílio da Polícia Militar, mas o prédio nunca ficou totalmente desocupado, segundo relatos de vizinhos.

O drama do “Caveirão” não é isolado. A Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo monitora 42 edifícios em situação semelhante na região central, que representam um risco tanto para seus ocupantes quanto para a população em geral.

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