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O governo do estado de São Paulo publicou nesta semana o edital daquele que é o maior empreendimento imobiliário em andamento da capital e o projeto mais ambicioso anunciado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos): transferir de volta para o Centro de São Paulo e unificar toda a gestão pública da máquina estatal, com a construção de uma enorme nova sede.
A sede do governo paulista já ocupou a região entre os anos de 1915 e 1967. Hoje, a sede do Poder Executivo de São Paulo funciona no Palácio dos Bandeirantes, no distante bairro do Morumbi, zona oeste da capital, em conjunto com edifícios dispersos pela cidade, muitos no próprio Centro.
Com o Novo Centro Administrativo Campos Elíseos, o governador Tarcísio de Freitas espera dar impulso para a revitalização do combalido Centro da capital paulista — a nova sede vai ocupar o lugar do conjunto de quarteirões da região que convencionou-se chamar de cracolândia, devido à grande concentração de usuários de drogas e traficantes aglomerados no meio das ruas. Sucessivas gestões recentes, estaduais e municipais, anunciaram planos para a revitalização da área, mas nunca houve sucesso significativo. Se der certo, desta vez, tem tudo para ser um "golaço" e deixar uma marca duradoura da gestão na cidade.
Com investimento estimado em mais de R$ 5,4 bilhões, a iniciativa integra o Programa de Parcerias de Investimentos do estado de São Paulo (PPI-SP) e vai contratar a empresa que vai executar a grandiosa obra. As empresas interessadas em construir o centro administrativo terão até o dia 6 de outubro para entregar as propostas para a licitação. A abertura dos envelopes com as propostas está prevista para 10 de outubro, na sede da B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, no Centro da capital.
Se der certo, a proposta de Tarcísio tem tudo para ser um "golaço" e deixar uma marca duradoura da gestão na capital paulista.
De acordo com a Secretaria de Parcerias em Investimentos (SPI), o critério de julgamento será o maior desconto sobre a contraprestação anual máxima, fixada em R$ 824,3 milhões. Quem construir, ganha a concessão por 30 anos para administrar o complexo.
O projeto prevê a centralização de secretarias e órgãos estaduais atualmente distribuídos em mais de 40 imóveis na cidade. A nova estrutura terá capacidade para cerca de 22,7 mil servidores, distribuídos em sete edifícios e dez torres. O complexo contará também com teatro, auditórios, salas multiuso e outros espaços.
"Damos mais um passo para transformar a realidade do centro da maior metrópole da América Latina”, diz Tarcísio sobre o lançamento do edital. “A nova sede administrativa do governo será fundamental para impulsionar o desenvolvimento social, econômico, habitacional e cultural no Centro de São Paulo nas próximas décadas. Estamos na direção certa, a de um estado que atrai novos investimentos, estimula a geração de empregos e amplia oportunidades para melhorar a vida das pessoas”, afirma o governador em nota.
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Localizado nos Campos Elíseos, o empreendimento prevê também a requalificação do entorno da nova sede, com o restauro de 17 imóveis tombados e a ampliação em mais de 40% da área verde do Parque Princesa Isabel. Com a transferência para o centro, o terminal rodoviário que fica no local será retirado e os quarteirões ao redor do espaço serão integrados.
A ideia do governo do estado é criar um boulevard para trânsito exclusivo de pedestres. A Rua Helvétia, a Alameda Glete — entre a Avenida Rio Branco e a Rua Conselheiro Nébias — e a Rua Guaianazes — entre a Avenida Duque de Caxias e a Alameda Glete — serão fechadas para veículos.
Os térreos dos edifícios abrigarão cerca de 25 mil metros quadrados destinados a comércio, serviços e áreas de convivência. Os novos prédios terão certificação internacional LEED Gold e incluirão soluções de eficiência energética, térmica e ambiental. A estimativa é de geração de 38 mil empregos durante a fase de obras e 2,8 mil vagas formais no comércio e serviços locais.
A ideia é centralizar secretarias e órgãos estaduais atualmente distribuídos em mais de 40 imóveis na cidade.
O projeto arquitetônico foi escolhido por meio de concurso público nacional, que registrou número considerado recorde de inscrições. A proposta vencedora é do escritório Ópera Quatro Arquitetura, que será contratado pela concessionária para elaborar os projetos básico e executivo. A consulta pública ocorreu entre 24 de janeiro e 13 de março de 2025, com participação de representantes da sociedade civil, consultorias e investidores.
Foram realizadas duas audiências públicas, uma virtual e uma presencial, e recebidas 268 contribuições. Aproximadamente 64% das sugestões foram total ou parcialmente acolhidas, resultando em ajustes no edital em temas como desapropriação, reassentamento, garantias públicas e alocação de riscos.
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A empreitada, no entanto, não é sem riscos. O mais claro e imediato deles seria um atraso no cronograma das obras, assim como o estouro do orçamento e custo, a exemplo do que o paulistano está acostumado a ver em inúmeras obras do Metrô na última década, o que deixaria parte importante do Centro de São Paulo em canteiro de obras indefinidamente.
De acordo com Guilherme Afif Domingos, secretário extraordinário de Projetos Estratégicos do governo de São Paulo, as desapropriações devem começar no ano que vem e as obras, em 2027. A previsão é que o novo complexo administrativo seja entregue ainda em 2030.
A previsão é de que cerca de 600 famílias sejam removidas dos imóveis que serão demolidos para a obra. Caso algum proprietário não concorde com o valor ou forma da desapropriação e o caso acabe na Justiça, como costuma acontecer com alguns dos imóveis desapropriados em grandes projetos urbanos como esse, a finalização do projeto pode atrasar bastante.
Outro possível problema, de acordo com nota técnica divulgada pelo LabCidade, coordenado pela arquiteta Raquel Rolnik na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), é que a mudança pode ter efeito contrário ao desejado e deixar diversos prédios sem ocupação na região central de São Paulo, diminuindo ou mantendo igual a circulação de pessoas na região.
Segundo levantamento do LabCidade, metade dos órgãos governamentais que estão na capital e seriam transferidos com a mudança já está no centro da cidade. Dessa metade, 21 estão no centro histórico, principalmente na área do Triângulo Histórico de São Paulo, ocupando prédios que, com a mudança, devem ficar desocupados se não tiverem outra destinação.
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