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Entrevista

Alívio contra a artrite reumatóide

John Isaac, reumatologista britânico, professor e pesquisador da Universidade de NewCastle

 | Priscila Forone/Gazeta do Povo
(Foto: Priscila Forone/Gazeta do Povo)

Mãos enrijecidas pela manhã e articulações que não respondem mais aos comandos são alguns dos sintomas de quem sofre de artrite reumatóide, doença que afeta quase 2 milhões de brasileiros. Sem o tratamento adequado, esta inflamação pode deformar as juntas e, em estágios avançados, geralmente após 10 anos da descoberta da doença, incapacita fisicamente 50% dos pacientes. "A predisposição genética e o tabagismo são os principais fatores para o desenvolvimento da artrite reumatóide", explica o reumatologista britânico John Isaac, professor e pesquisador da Universidade de NewCastle que esteve recentemente em Curitiba divulgando um novo medicamento contra a doença.

Mulheres entre os 30 e 50 anos de idade são três vezes mais suscetíveis a este mal do que os homens. O reconhecimento precoce dos sintomas e o tratamento feito por médicos reumatologistas são o melhor caminho para manter a qualidade de vida de quem sofre com a artrite reumatóide. Com o auxílio de medicamentos é possível controlar os danos às articulações, diminuir a dor e impedir a perda da função das partes do corpo afetadas por este mal.

John Isaac falou sobre o tratamento da artritre reumatóide com a droga rituximabe, medicamento utilizado em pacientes com leucemia. O medicamento age diretamente nos linfócitos B – células do sistema imunológico que em condições anormais são as causadoras da inflamação das articulações. A utilização do rituximabe só é feita após a falha dos tratamentos usuais, segundo protocolo definido pela Sociedade Brasileira de Reumato­logia. Esta droga não compõe a primeira linha de medicações utilizadas, sendo apenas uma das modalidades de tratamento, ainda não disponível no Sistema Único de Saúde.

Para falar sobre a doença, suas formas de tratamento e a pesquisa feita há sete anos por sua equipe no Reino Unido, que visa controlar o desenvolvimento da artrite reumatóide, John Isaac recebeu a reportagem da Gazeta do Povo:

Quais são as causas da artrite reumatóide?

Nós não sabemos as causas absolutas, mas a doença é causada por uma predisposição genética e existem alguns comportamentos que aumentam seus efeitos: o tabagismo é o mais forte deles. Se o paciente fuma e tem os genes da doença, é provável que ele desenvolva os sintomas da artrite. Trata-se de uma doença mais comum em fumantes e mulheres.

Quais os objetivos da sua pesquisa em New Castle?

Tentamos controlar a chave do processo do reumatismo: uma das células mais importantes da doença são os glóbulos brancos do sangue (constituídos por linfócitos). Se você pensar no sistema imunológico como um exército de células, eles são como generais que dão comandos às células. Em situações normais, estas células solicitam o ataque a vírus e bactérias e em pacientes com reumatóide elas atacam as articulações. Nós manipulamos as células do paciente em laboratório e as colocamos de volta no organismo para controlar o problema. Ainda não testamos o medicamento em humanos, mas tivemos êxito em experiências com ratos e agora estamos perto desta fase de teste em humanos.

Como o tratamento da artrite reumatóide avançou ao longo do tempo?

Gradualmente nós entendemos mais sobre a doença e desenvolvemos drogas que agem em aspectos mais específicos da artrite. Os tratamentos tradicionais têm sido aplicados há mais de 50 anos e muitos deles foram descobertos por acaso. Recen­temente nós desenvolvemos terapias que levam em conta o que acontece nas articulações. Hoje temos drogas que podem bloquear as reações químicas que causam a artrite reumatóide e terapias que atacam algumas das células específicas do sangue que causam a doença.

Por que o diagnóstico precoce é tão importante?

Quanto mais tempo uma pessoa sofre com a artrite reumatóide, menor a resposta ao tratamento. Existe o que chamamos de janela de oportunidade nos primeiros três meses de sintomas: este é o melhor período para tratar o paciente. Depois que estes três meses passam, as respostas não são tão boas. O importante é que a família e o paciente reconheçam os sintomas e entendam que aquilo pode ser sério. Este é um grande problema com a artrite, pois muitos pacientes apresentam dores e enrijecimento nas articulações e pensam que estão ficando velhos.

Uma pessoa com artrite reumatóide precisa tomar remédios pelo resto da vida?

No momento isto é o que acontece. O que eu percebo é que se tratarmos a doença cada vez mais cedo na sua origem, quanto mais cedo o paciente com sintomas for até um médico e quanto antes utilizarmos os tratamentos mais fortes, talvez seja possível parar o desenvolvimento da doença não necessariamente para sempre, mas talvez por um ano ou dois.

As pesquisas desenvolvidas atualmente estão perto da cura da artrite?

Nós adoraríamos estar, mas eu não diria isso. Nós estamos no caminho em direção à cura. Eu acredito que talvez em 10 ou 15 anos teremos um grande número de terapias disponíveis para curar a artrite reumatóide. Nós estamos perto disso. O ponto chave será identificar os pacientes suscetíveis antes que eles apresentem os sintomas e tratá-los com medicamentos que possam prevenir o surgimento da doença. Isto é o que estamos tentando fazer.

O tratamento feito com rituximabe é um inovação? Qual é o seu custo médio?

Este tratamento tem sido usado por pelo menos 15 anos em terapias contra o câncer do sangue, como leucemias. Para tratar a artrite reumatóide ele vem sendo utilizado há cerca de sete anos e gradualmente estamos aprendendo a ver como cada paciente responde ao medicamento. O custo médio do tratamento por paciente gira em torno de US$ 10 mil a US$ 15 mil dólares por ano.

Um custo tão alto é compensado com benefícios reais?

Sim, pode levar até três meses para que os pacientes sintam os efeitos e percebam a melhora nas articulações. Os pacientes se sentem menos cansados e ficam mais ativos. Este medicamento apresenta efeitos que duram por até um ano em alguns casos. Mas antes de utilizar este tipo de medicamento, o paciente deve ter se submetido a outros tipos de terapia.

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