
Mesmo com mais de 60 anos de idade, a classe dos antidepressivos tricíclicos primeiras drogas usadas para o tratamento da depressão (ver quadro) ainda é receitada em consultórios médicos. O mesmo acontece com o Prozac (fluoxetina), lançado na década de 1980 com a promessa de ser a "pílula da felicidade". De lá para cá, nenhum outro medicamento foi recebido como um divisor de águas para o tratamento da depressão doença que acomete mais de 120 milhões de pessoas em todo o mundo, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, estudos mostram que cerca de um terço dos pacientes que buscam tratamento para o problema não respondem aos medicamentos prescritos. "Os produtos antigos ajudam quando o paciente não responde aos tratamentos mais recentes, pois já conhecemos as experiências de manejo dessas drogas e seus mecanismos de ação no cérebro", explica o psiquiatra especialista em dependência química e professor do curso de Medicina da PUCPR Dagoberto Hungria Requião. Os profissionais de saúde mental reforçam que nem sempre o medicamento mais novo é o mais efetivo contra a depressão: "Antes da década de 50, não havia drogas contra a doença e os pacientes eram tratados como se fossem apenas pessoas mais nervosas, mas as melhores drogas não são as mais modernas. A única vantagem é que elas têm efeitos colaterais mais brandos", aponta o professor de Psiquiatria da UFPR e diretor da clínica psiquiátrica Única, Élio Luiz Mauer.
A dificuldade para o desenvolvimento de novidades no tratamento da doença é explicada pela complexidade do cérebro e pela pouca compreensão do que acarreta a depressão questão para a qual ainda não existem respostas incontestáveis. "Não se fala em depressão, mas sim em depressões, pois muitos fatores podem desencadear a doença, como a dependência química e a desregulação hormonal", observa Requião. O professor da PUCPR explica que os neurotransmissores como a dopamina, serotonina e noradrenalina substâncias que regulam nosso humor agem em conjunto no cérebro, e a sua falta prejudica o paciente. "Alguns medicamentos estimulam a serotonina, outros captam ou liberam dopamina e é na ação desse conjunto que está a dificuldade para tratar a depressão."
Diante de um paciente que não responde às medicações, as opções passam por aumento da dose, associação de outros antidepressivos, troca dos remédios ou utilização de outros tratamentos como a psicoterapia ou a eletroconvulsoterapia. "Não existe antidepressivo melhor ou mais eficaz do que o outro. O médico precisa estar atento à resposta do paciente e buscar a melhor forma de obtê-la", explica o doutor em farmacologia e coordenador do curso de Farmácia da UEPG, Edmar Miioshi.
Psicoterapia ajuda a combater a doença
A diminuição na quantidade de neurotransmissores, responsáveis pela comunicação entre os neurônios, é uma das teorias utilizadas para explicar o desencadeamento da depressão. "Os antidepressivos mais antigos agem para aumentar a quantidade de neurotransmissores, mas, mesmo com o aumento nos níveis dessas substâncias, alguns pacientes não apresentam alteração no quadro clínico", explica o doutor em Farmacologia e especialista em medicamentos com atuação no sistema nervoso central, Edmar Miioshi. Segundo ele, uma teoria bastante aceita atualmente afirma que o paciente depressivo tem menor quantidade da substância responsável pelo crescimento dos neurônios e pelo estímulo à comunicação entre essas células. Ao crescer menos, o neurônio se atrofiaria, perdendo a capacidade de realizar as sinapses. As várias teorias dificultam as pesquisas. "Se não se sabe o que acontece durante a doença e qual é a alteração cerebral que acarreta a depressão, dificilmente será descoberto como um fármaco deve atuar para ser eficaz", pondera o farmacêutico.
Por isso, contar somente com o auxílio de medicamentos para melhorar um quadro depressivo, segundo os psiquiatras, não é a melhor forma de combater a doença. A psicoterapia aliada ao uso de antidepressivos torna o tratamento mais efetivo. "Uma pessoa com depressão sente que perde o controle sobre a vida, o que é assustador para ela. Assim, ela precisa falar sobre suas ideias, mesmo que sejam suicidas, pois discutir com alguém aquilo que se passa traz alívio", observa o psiquiatra e professor da PUCPR Dagoberto Hungria Requião. O auxílio de psicólogos é capaz de ajudar o paciente a entender a evolução do tratamento e a encarar o fato de que, dependendo do quadro, uma recaída pode acontecer. "A psicoterapia mostra ao paciente que aquela situação não é um castigo divino, mas sim uma doença. O que angustia o depressivo é que as pessoas não entendem que essa situação não acontece porque ele quer", explica Requião.



