
É pela boca que os bebês começam a explorar o mundo, desde o momento em que abocanham o peito da mãe para se alimentar até quando mordem um coleguinha na escola. O psicanalista Sigmund Freud denominava esse período de descobertas da fase oral, que vai de zero a 2 anos, em média, e coincide com o nascimento dos primeiros dentes. "Esta é uma manifestação de desenvolvimento, que é impulsiva e exploratória", explica a psicóloga clínica e escolar Maria Fernanda Hennemann.
Portanto, o ato de uma criança morder alguém próximo pode ser considerado absolutamente normal e condizente com a faixa etária. Este comportamento aparece e desaparece à medida que a criança amadurece e encontra outras formas de exploração do ambiente. "A criança tem de ser contida, mas não precisa ser tratada como criminosa por causa disso", ameniza o psicólogo e psicanalista Julio César Walz.
A explicação para essa atitude, muitas vezes considerada constrangedora pelos pais, deve-se ao fato de a boca representar a primeira fonte de alimento e prazer dos pequenos. "Eles conheceram o mundo pelo peito, então, é natural que descubram o resto pela boca", diz Maria Fernanda.
As mordidas, durante este período, também podem significar a primeira forma de comunicação dos bebês com o ambiente que os cerca, considerando que eles ainda não têm o domínio da ferramenta da fala. Para Walz, as crianças choram e mordem porque querem atenção. "Às vezes, a criança não quer ficar longe dos pais, então morde para sair da escola e se aproximar deles. Neste caso, denota um sentido de contrariedade", completa.
Como os bebês ainda não têm o desenvolvimento psíquico completo, não conseguem distinguir o que é certo e o que é errado. Portanto, cabe aos pais e à escola o papel de orientar as crianças, tanto as que mordem quanto as que são mordidas. De acordo com os especialistas, a melhor forma de resolver esse tipo de situação é por meio de conversa, que deve ser clara e reflexiva.
Meu filho foi mordido, o que eu faço?
Apesar de casos de crianças mordidas nas escolinhas serem recorrentes, ainda é impossível traçar um perfil das vítimas. São meninos e meninas dentro da faixa etária designada como fase oral. O que os pedagogos conseguem observar é que, na maioria das vezes, os bebês mais retraídos e quietos chamam mais a atenção.
Em todos os casos, a indicação dos especialistas é que os pais conversem com a direção e os professores da escola para entender as circunstâncias da mordida. Também é preciso explicar para as crianças que aquilo foi algo passageiro e que o colega não fez para machucar.
O administrador Clóvis Althaus Júnior, pai de Lucas, 5 anos, e Gabriel, 2 anos, já se viu diante das duas situações. Os filhos já morderam e foram mordidos na escola e em ambientes familiares, mas os fatos sempre foram tratados com naturalidade. "A única preocupação é avaliar se isso é uma fase ou reflexo de algo maior", pondera.
A psicóloga Maria Fernanda Hennemann destaca, ainda, que a mordida nunca deve ser banalizada e a vítima deve ser acolhida. "O importante é ter uma conversa otimista para encorajar a criança a se posicionar em situações como esta", diz.
Não revide
Uma atitude que é contraindicada é o ato de revidar. Os pequenos nunca devem ser estimulados a morder de volta ou bater no colega que o machucou.



