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Estudo

Células-tronco de dente de leite criam novos ossos

Pesquisadores estudam a capacidade de corrigir defeitos maxilares, que hoje só podem se tratados com implantes, geralmente caros e dolorosos

O dentista Julio Cezar Ferreira lidera a pesquisa que pode beneficiar o paciente Hieronymus Parth. Ele pretende substituir implantes pelo tratamento com células-tronco | Antônio More/Gazeta do Povo
O dentista Julio Cezar Ferreira lidera a pesquisa que pode beneficiar o paciente Hieronymus Parth. Ele pretende substituir implantes pelo tratamento com células-tronco (Foto: Antônio More/Gazeta do Povo)

Em breve, pode ser que os dentinhos de leite das crianças – hoje jogados em cima do telhado, guardados em caixinhas ou simplesmente descartados – venham a se transformar em tratamento para uma série de doenças – de problemas na articulação e nos ossos até doenças neurodegenerativas e cardíacas. Cientistas do Instituto Butantã, em São Paulo, descobriram que a polpa do dente de leite é rica em células-tronco adultas, células indiferenciadas que têm a capacidade de se transformar em qualquer outra célula ou tecido do corpo e assim regenerar estruturas que apresentem "defeitos".

São várias as linhas de pesquisas, relacionadas a diversas doenças, e uma das frentes que se destaca é a da regeneração óssea, que já realizou testes em animais e deve entrar em breve na fase de testes com seres humanos. Atualmente, um grupo de pesquisadores estuda a capacidade dessas células-tronco adultas, quando associadas a biomateriais (materiais de origem natural ou sintética introduzidos no corpo para tratar um defeito ou substituir uma estrutura), de corrigir defeitos maxilares, que hoje só podem se tratados com implantes, geralmente caros e dolorosos.

De acordo com o implantodentista curitibano Julio Cezar Sá Ferreira, que coordena o estudo, as células-tronco, quando implantadas numa espécie de "buraco" onde existe o defeito maxilar, têm a capacidade de fazer o osso crescer rapidamente, após cerca de três meses. "É algo fantástico, que vai ajudar muito os pacientes. Hoje, para fazer um enxerto no buraco onde falta o osso, é preciso retirar outro osso de alguma parte do corpo da pessoa. É preciso fazer uma cirurgia [para a retirada], há riscos, e o tratamento [implante] é doloroso, leva tempo, é caríssimo", explica.

Biomateriais

Os cientistas iniciaram os testes com coelhos, carneiros e camundongos que não possuíam parte da calota craniana. Foi utilizado um biomaterial, feito à base de esponja de colágeno (uma proteína) e osso bovino, e o crescimento das células, do tipo mesenquimais (com maior potencial de diferenciação), foi ativado a partir de proteínas moduladoras de crescimento presentes nas plaquetas (fragmento do sangue). Quando o "buraco" foi preenchido com o biomaterial, iniciou-se a diferenciação das células-tronco em células osteoblásticas, responsáveis pela formação dos ossos.

A pesquisa, iniciada no ano passado, deve em breve partir para testes com humanos, assim que o procedimento for analisado e liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sa­nitária (Anvisa). Segundo Ferreira, os estudos devem ser conduzidos pelo Instituto Butantã, que possui estrutura para armazenar os dentinhos que em breve deverão ser "recrutados" pelos pesquisadores com pais e dentistas. Os pesquisadores estão otimistas, já que os ossos formados não apresentaram sinais de rejeição em animais, como costuma ocorrer com outras estruturas implantadas.

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