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A humanidade agora tem uma nova forma de acessar a visão com luz infravermelha, sem a necessidade de usar os tradicionais e, muitas vezes incômodos, óculos noturnos.
Pesquisadores chineses criaram as primeiras lentes de contato que proporcionam visão infravermelha mesmo se o usuário estiver de olhos fechados. Utilizando nanopartículas, as lentes convertem a luz infravermelha em luz visível.
Liderada por cientistas da Universidade de Ciência e Tecnologia da China (USTC) em Hefei, a equipe responsável deu às lentes esse poder ao infundi-las com nanopartículas que convertem luz infravermelha - aproximadamente na faixa de 800 a 1.600 nanômetros - em luz visível de comprimento de onda mais curto. O estudo foi publicado em maio deste ano.
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Versatilidade e desafios das lentes de contato infravermelhas
A luz infravermelha está fora da faixa de comprimentos de onda que os humanos conseguem ver normalmente. Alguns animais podem sentir a luz infravermelha, mas provavelmente não a ponto de formar imagens.
Os óculos de visão noturna já permitem que as pessoas vejam a radiação infravermelha, todavia são grandes e precisam de uma fonte de energia para funcionar. As lentes criadas pelos chineses superam estas limitações, visto que oferecem imagens mais ricas e cheias de cores.
No entanto, as lentes têm suas próprias deficiências. Como as nanopartículas incorporadas dispersam a luz, as imagens que as lentes criam ficam borradas. A equipe corrigiu parcialmente esse problema aplicando a tecnologia em óculos com lentes adicionais que redirecionam a luz.
E, ao contrário dos óculos de visão noturna que amplificam a luz para detectar sinais infravermelhos de baixa intensidade, as lentes habilitam os usuários a verem apenas sinais infravermelhos mais fortes, como no caso de diodos emissores de luz (LEDs). Por isso, uma parte dos cientistas não acreditam que as lentes sejam excelentes.
"Não consigo pensar em nenhuma aplicação que não seja bem mais simples com óculos infravermelhos", declarou Glen Jeffery, neurocientista da University College London, especialista em saúde ocular, para a revista Nature. "A evolução evitou isso por um bom motivo." completou.
Qual é o custo e o potencial dessa inovação?
Os pesquisadores estimam que o custo de fabricação das lentes seja de cerca de US$ 200 por par (cerca de R$ 1 mil).
A tecnologia, detalhada na edição de maio da revista Cell, "é incrivelmente interessante, como algo saído de um filme de ficção científica", declarou Xiaomin Li, químico da Universidade Fudan em Xangai, China. De acordo com ele, o achado abre "novas possibilidades para a compreensão do mundo ao nosso redor".
Xiaomin Li sugere a possibilidade das lentes serem usadas por médicos que realizam cirurgias de fluorescência no infravermelho próximo. Tudo para detectar e remover diretamente lesões cancerígenas "sem depender de equipamentos tradicionais volumosos".

Em declaração para Nature, o coautor do estudo Yuqian Ma, neurocientista da USTC, falou que o principal desafio seria incorporar nanopartículas suficientes nas lentes para converter luz infravermelha em luz visível detectável, sem mudar as propriedades ópticas das lentes.
O futuro da visão infravermelha: avanços e aplicações
Os autores acreditam que as lentes podem ser ainda mais otimizadas e anteciparam diversas aplicações possíveis para a invenção. Por exemplo, os usuários seriam capazes de ver marcas contra falsificações que emitem comprimentos de onda infravermelhos - que, de outra forma, seriam invisíveis ao olho humano.
Testes em camundongos também mostraram que os animais que usavam as lentes tendiam a escolher uma caixa escura - vista como mais "segura" - ao invés de uma iluminada por luz infravermelha, enquanto os camundongos sem as lentes não demonstraram preferência por nenhuma das caixas.
As lentes tiveram melhor desempenho quando os participantes fecharam os olhos, já que a luz infravermelha próxima penetra facilmente nas pálpebras, enquanto a luz visível, que poderia ter interferido na formação da imagem, o faz em menor grau.
A equipe tem planos de encontrar maneiras de inserir mais nanopartículas nas lentes e espera desenvolver partículas que possam converter a luz com maior eficiência, a fim de melhorar a sensibilidade da tecnologia.



