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Especial

Coluna e costas mais fortes

Controlar o peso, fazer exercícios, manter-se longe do estresse e ficar atento a uma boa postura podem afastar as dores de origem muscular. A fórmula pode até parecer simples, mas passa por uma grande mudança do estilo de vida

A prática de Pilates aumenta a força e a resistência muscular e melhora a postura | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
A prática de Pilates aumenta a força e a resistência muscular e melhora a postura (Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo)
O cirurgião dentista Tertuliano Lopes teve um problema muscular na lombar. A solução foi fazer sessões de RPG e praticar natação todos os dias |

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O cirurgião dentista Tertuliano Lopes teve um problema muscular na lombar. A solução foi fazer sessões de RPG e praticar natação todos os dias

Conheça as estruturas que compõem a coluna vertebral e os músculos que a sustentam |

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Conheça as estruturas que compõem a coluna vertebral e os músculos que a sustentam

Quando o assunto é dor nas costas, especialistas recomendam deixar de lado as medidas paliativas, como o uso de emplastros e de relaxantes musculares. Para efetivamente resolver o problema, na maioria dos casos é fundamental a prática de exercícios e o fortalecimento muscular, combinados com a reeducação postural.

A justificativa é simples, segundo o médico ortopedista Emiliano Vialle, chefe do Grupo de Coluna do Hospital Cajuru e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). "Noventa por cento das dores são estritamente musculares, ou seja, não têm relação com problemas da coluna vertebral propriamente dita. E são causadas por vícios da vida moderna, entre eles o sedentarismo", garante.

Isso significa que, para se manter longe da dor, não basta ficar de olho somente na postura: é preciso garantir a força muscular, tanto das costas quanto do abdome. "Se compararmos nosso corpo a uma casa, os músculos abdominais seriam a frente e as laterais, enquanto a musculatura dorsal seria a parte de trás. O assoalho pélvico equivale à base e o diafragma à cobertura. Para que esta casa esteja perfeita e bem equilibrada, todas as estruturas devem estar fortes e alinhadas. Senão ela cai", explica de forma simples a fisioterapeuta Leciane Nunes, que tem formação internacional em Pilates. O método é, inclusive, um dos mais eficazes para reduzir as dores (veja outras técnicas e tratamentos) já que, além do fortalecimento muscular, melhora a flexibilidade, a postura e a consciência corporal, diz Leciane.

O ortopedista da Paraná Clínicas Fernando Pessoa Weiss concorda com a importância dos exercícios. "A prática proporciona o fortalecimento da musculatura paravertebral (que envolve a coluna) e periescalpular (que envolve o ombro), estruturas fundamentais para a manutenção do corpo ereto e pouco suscetível à fadiga", afirma.

Quanto ao melhor exercício, Leciane afima que ele deve ser definido de acordo com o perfil de cada um, levando em conta seu condicionamento e suas características físicas, como peso, idade e histórico clínico. "É também fundamental que a pessoa goste da atividade, sinta prazer em fazê-la, senão não terá comprometimento. O Pilates, por exemplo, é ótimo, mas tem gente que acha que é muito lento. E, se a pessoa não gosta, não adianta", diz.

Independentemente da escolha é necessário, para alcançar resultados satisfatórios no combate à dor, que a atividade também seja voltada para a melhora da flexibilidade ou aliada a exercícios de alongamento. "Hoje, grande parte das dores estão ligadas ao encurtamento da musculatura posterior", afirma Vialle, que ainda destaca que os exercícios ajudam a combater outro problema ligado às dores, o sobrepeso. "O excesso de peso é ruim para todas as articulações do corpo, inclusive para as da coluna, pois exige uma força muscular ainda maior", justifica.

Antes de começar a se exercitar, porém, vale o alerta: que a prática de atividades físicas deve sempre ser orientada. "O exercício praticado de forma incorreta pode ser até mais prejudicial do que a própria falta de atividade, causando sérias lesões", alerta a fisioterapeuta Rúbia Benatti, professora do curso de Fisioterapia da Universidade Positivo.

Mudança de hábitos

Mais do que colocar o corpo em movimento, acabar com as dores nas costas – que, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) são a segunda maior queixa em consultórios médicos – depende sobretudo de uma mudança no estilo de vida. A fórmula para afastar essas dores pode até parecer simples: bastaria evitar o estresse, manter a postura impecável, fazer as pazes com a balança e praticar exercícios. No entanto, a autoconsciência corporal não é tão fácil de ser adquirida e passa pela educação. "Nosso organismo não está totalmente preparado para enfrentar a vida moderna e o que vem com ela, como as horas que passamos sentados em frente ao computador ou no trânsito", afirma o ortopedista Gabriel Skroch, professor do curso de Medicina da Universidade Positivo.

O dentista Tertuliano Ricardo Lopes, de 55 anos, conhece bem esta dificuldade. Os mais de 30 anos de profissão – e de postura inadequada – fizeram com que ele convivesse durante um bom tempo com dores nas costas. "Tive um problema muscular na lombar, do lado direito, por ficar em uma posição errada durante anos. Eu digo que era como uma lata velha amassada, curvada para o lado", exemplifica. A solução que ele encontrou foi exatamente a re-educação, não só da postura, mas do estilo de vida, que passou a ser bem mais saudável. O trabalho começou com sessões de RPG (sigla para a Reeducação Postural Global, tratamento realizado com a orientação fisioterápica), que ele ainda faz uma vez por semana, mas também exigiu que incluísse novos hábitos em sua rotina, como a natação, praticada diariamente. "Hoje posso dizer que tenho consciência corporal. Às vezes me flagro em posições erradas, mas o corpo mesmo se encarrega de me alertar. Aprendi também a liberar as tensões e não sofro mais com as dores", conta.

Escola da Coluna

"Tudo é uma questão de hábito." A afirmação da fisioterapeuta Auristela Mozer, professora da PUCPR, é um dos principais fundamentos da Escola de Coluna, um projeto do curso de Fisioterapia da instituição. Partindo desse princípio, a intenção é levar aos pacientes a consciência de que eles são os maiores responsáveis pela manutenção da sua saúde. "Utilizamos um conceito que está cada vez mais presente, o da educação, que visa a prevenção e a promoção da saúde. A partir do momento que recebem informações, as pessoas começam a entender que são capazes de controlar os fatores determinantes", explica, citando a noção de empoderamento – termo derivado da expressão inglesa empowerment, que atribui ao indivíduo o controle dos fatores de risco.

A primeira turma da Escola começou o trabalho há cerca de um mês. São seis pessoas – escolhidas depois de uma triagem que afasta a existência de problemas mais graves – que estão aprendendo a tratar melhor suas costas, incluindo os músculos e a coluna vertebral. "Cada turma terá seis encontros semanais, de uma hora e quinze minutos cada. Nas reuniões são ensinadas desde noções básicas da anatomia da coluna vertebral até como manter a postura e como relaxar", conta Auristela, que diz ainda que a intenção é manter, durante todo o ano, oito turmas simultâneas, para atender a fila de espera que já tem mais de 500 pessoas.

Alinhe-se

Um dos principais vilões das costas, os vícios posturais também são dos mais difíceis de serem vencidos. Isso porque, a todo momento estamos expostos a pequenas provas: em frente ao computador, enquanto se dirige, ao pegar objetos do chão. Até mesmo quando dormimos. "Passamos um terço de nossas vidas na cama, mas não damos a devida atenção. A melhor postura é a de lado, com um travesseiro encaixado entre as pernas. Nunca de bruços. Quanto ao colchão, há a ideia equivocada de que quanto mais mole, mais confortável, mas ele deve ser firme para suportar o peso e respeitar as curvas da coluna", ensina o ortopedista Gabriel Skroch.

Outro grande problema, segundo ele, é o tempo que se permanece sentado, principalmente em frente ao computador. "Quando estamos sentados, há uma pressão maior na coluna do que quando estamos de pé, quando o peso é dividido com as pernas. Por isso é fundamental manter a postura correta", avalia, dizendo ainda que as pernas devem formar um ângulo de 90 graus com o tronco e os pés devem estar apoiados em uma superfície inclinada. "E o monitor deve ficar na altura dos olhos, para que a pessoa não precise olhar para cima ou para baixo, evitando, assim, as dores no pescoço."

Mais perigoso ainda, segundo o ortopedista Vialle – responsável pelas orientações posturais e pela série de exercícios descritas no rodapé das quatro páginas –, é passar muito tempo no volante. "Além da postura, há o perigo que a trepidação traz à coluna, já que a desestabiliza", afirma.

Na infância

Quanto mais cedo a consciência corporal for desenvolvida, melhor. Até porque é logo nos primeiros anos que os principais obstáculos aparecem. "As crianças sentam-se de forma incorreta na sala de aula, carregam mochilas pesadas (o peso não deve ultrapassar um terço do peso da criança) e passam muito tempo curvadas em frente ao videogame", afirma Christina P. Cruz Cepeda, fisioterapeuta e professora da UP.

Ela defende que a educação deve começar cedo a partir de pais e educadores. "Justifico a importância da fisioterapia escolar, com o objetivo de orientar pais e professores de ensino fundamental e médio para ficarem atentos aos seus filhos e alunos. Trata-se da promoção e da prevenção desde a infância". Isso implica em dizer que, da mesma forma com que os adultos ensinam, por exemplo, que escovar os dentes é fundamental para manter a saúde bucal, deveriam alertar quanto à importância de praticar exercícios e de cuidar bem da postura para garantir a saúde das costas, criando, assim, um bom hábito.

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