
O ditado "prevenir é melhor do que remediar" nunca fez tanto sentido como nos dias de hoje. Graças aos avanços tecnológicos na área de diagnóstico, é cada vez mais fácil identificar alterações no organismo que podem sinalizar uma condição mais grave.
Procurar o médico apenas quando se está doente virou coisa do passado. A melhor maneira de garantir uma vida longa e com qualidade é através da realização de exames periódicos, já que, quanto mais cedo o problema for detectado, maiores as chances de encontrar a cura ou então de controlar a doença antes que ela comprometa a saúde.
A prioridade dada à prevenção é levada ao pé da letra pela equipe de cardiologia fetal do Hospital Cardiológico Costantini, em Curitiba, onde é possível identificar e tratar doenças no feto ainda na barriga da mãe. De acordo com o diretor clínico de cardiopediatra da instituição, Nelson Miyagui, cerca de 30% das crianças com cardiopatias congênitas morrem durante o primeiro ano de vida. "Por meio de exames, como a ecocardiografia fetal, é possível identificar anomalias genéticas, alterações de fluxo e o aumento fora do comum de algumas medidas", explica.
A primeira triagem deve ser realizada entre as 12.ª e 13.ª semanas de gestação e a segunda, entre as semanas 20 e 24. Se alguma alteração for descoberta uma arritmia cardíaca, por exemplo o medicamento chega ao bebê por injeção ou punção do cordão umbilical. "As doenças do coração são das poucas que podem ser tratadas tão precocemente. Infelizmente, elas são a segunda causa de morte entre recém-nascidos porque esse tipo de procedimento não é rotina no Brasil", comenta o médico.
Crianças com histórico familiar de hipertensão, diabete, obesidade e filhos de pais que fumam ou que infartaram antes dos 50 anos, devem realizar exames clínicos periódicos desde cedo, explica Miyagui. Bebês que nascem muito grandes ou com peso muito baixo também têm maiores riscos de desenvolver doenças cardíacas e, por isso, devem ser acompanhadas de perto.
Adultos
O primeiro exame físico completo de um adulto saudável deve ser realizado entre os 18 e 25 anos, segundo o médico infectologista Jaime Luís Lopes Rocha, do laboratório Curitiba Santa Casa. Os exames serão escolhidos conforme o histórico familiar de cada paciente. "O objetivo é avaliar a função dos diferentes órgãos e sistemas e identificar fatores de risco. Se os resultados dos exames forem normais, o paciente poderá repeti-los a cada dois ou três anos", conta.
Além de os exames comuns como o da creatinina, glicemia e do perfil lipídico, o especialista também indica a realização de exames específicos para quem é sexualmente ativo (ver quadro). "O vírus HIV, por exemplo, pode ficar sem manifestar sintomas por até 10 anos, antes de surgirem complicações. Da mesma forma, as hepatites B, C e a sífilis podem não apresentar sintomas por décadas. Ao descobrir a doença precocemente é possível evitar cirrose ou câncer de fígado, no caso das hepatites, e problemas neurológicos, no caso da sífilis. Infelizmente, a população e mesmo os médicos ainda não encorporaram estes exames ao seu check-up."
Consulta é fundamental
O hematologista Selmo Minucelli, também do Curitiba Santa Casa, explica que, como o número de doenças existentes é muito grande, o mais importante, antes da realização de qualquer exame de laboratório, é a avaliação do médico durante a consulta, a chamada anamnese. "A história clínica do paciente precisa estar bem detalhada. Deve incluir hábitos de vida, história familiar e pregressa da infância, além de um exame físico completo e minucioso para que então possamos dirigir a solicitação de alguns exames de laboratório específicos", explica.
Check-up precisa ser completo
O gerente de recursos humanos João Alceu da Cunha, de 53 anos, faz o check-up anual no Hospital Santa Cruz há cerca de 15 anos. Como o pai é cardíaco e a mãe, diabética, está sempre fazendo o necessário para prevenir doenças futuras.
Há oito anos, João Alceu descobriu ter uma doença congênita de fígado, por meio dos exames de colesterol. "Eu fazia tudo o que era necessário para baixar o colesterol, mas nada adiantava. Se não fosse o acompanhamento rotineiro do meu estado de saúde, nunca teríamos descoberto que era um problema de fígado e não de colesterol", conta.
João Alceu diz que perde cerca de meio dia para fazer o check-up completo. "É um pouco demorado, mas prático, pois resolvo tudo em um mesmo dia", explica.
Segundo a médica Ludmila Daru Rey, do setor de medicina interna e cardiologia do Hospital Santa Cruz, as doenças cardiovasculares costumam ser as que mais assustam, mas que o check-up precisa englobar exames de todas as áreas. A primeira triagem costuma envolver além do hemograma completo, teste de esforço físico, eletrocardiograma e raio X de tórax. "Por meio desta triagem inicial é que conseguimos identificar os marcadores de risco para doenças cardiovasculares, como alterações dos níveis de pressão arterial, da circulação cardíaca e de estrutura torácica", explica.
Quando há necessidade, o paciente é encaminhado a exames complementares com mais sensibilidade e especifidade, entre eles a angiotomografia de coronárias e a ressonância nuclear magnética cardíaca. "Mas eles geralmente só são recomendados se existem fatores de risco, predisposição familiar ou sintomas", completa a especialista.




