Enfarte do miocárdio, insuficiência renal e Acidente Vascular Cerebral (AVC). Você faz ideia do que essas doenças têm em comum? Além de serem graves e, em vários casos, poderem levar o paciente à morte, elas são as consequências mais comuns da hipertensão não tratada. "A pressão alta não mata, mas desgasta o organismo e é ponto de partida para uma série de problemas que podem ser fatais", explica o cardiologista Alexandre Alessi, professor de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e médico do Hospital Nossa Senhora das Graças.
A situação é séria. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), cerca de 30% da população brasileira adulta têm a doença, sendo que somente 10% seguem à risca o tratamento e têm sua pressão arterial realmente controlada. O resultado dessa displicência? Uma redução drástica na qualidade e expectativa de vida. "Um estudo do Ministério da Saúde mostrou que a maior causa de mortes no Brasil são as doenças cardiovasculares, entre elas AVC e enfarte, com 30% dos casos. Para se ter uma idéia, o câncer, um problema tão temido pelos brasileiros, está em terceiro lugar com 9%", diz Marcus Bolivar Malachias, presidente do departamento de Hipertensão da SBC.
A partir desses dados, é fácil notar como os números da hipertensão são assustadores. Cerca de 60% dos casos de AVC acontecem devido à hipertensão e metade dos enfartes têm a pressão alta como causa. "Parece inacreditável, mas a cada quatro minutos uma pessoa no Brasil morre em decorrência de doenças causadas pela pressão alta", comenta.
Se os dados inspiram tanto medo, os especialistas são unânimes: a hipertensão tem controle muito fácil e mudanças de hábito, como reduzir a ingestão de sódio e fazer exercícios físicos regularmente, são eficientes para diminuir os problemas gerados pela doença. "Prevenir é a melhor coisa a fazer, pois garante que a pessoa não terá problemas em decorrência da pressão alta e ainda evitará outras doenças graves, como diabete e obesidade", diz Alessi.
O que é
A hipertensão é caracterizada por um aumento anormal da contração da parede das artérias, gerando um aumento na pressão exercida pelo sangue nesses vasos sanguíneos. Em geral, a doença é diagnosticada quando a medida da pressão arterial da pessoa está acima de 14 por 9. O primeiro número representa a pressão sistólica, valor máximo de pressão atingido quando o coração se contrai para bombear o sangue para o restante do corpo, enquanto o segundo se refere à pressão diastólica, aquela exercida quando o coração está relaxado e as artérias continuam se contraindo para facilitar o trajeto do sangue pelo corpo.
A doença é prejudicial porque esse aumento da pressão exercida pelo sangue nas artérias gera danos para a circulação e para os órgãos irrigados. "Como a pressão é muito alta, o coração tem trabalho redobrado para bombear o sangue. Com isso, sua parede fica mais espessa que o normal, ele fica cada vez mais fraco e pode resultar em um quadro de insuficiência cardíaca", explica Marcos Bubna, médico cardiologista do Hospital Costantini.
Nos rins, o efeito também é maléfico. "Com a hipertrofia do coração, há uma sobrecarga de trabalho dos rins, causando um estreitamento das artérias renais e, em algum tempo, falhas em seu funcionamento, exigindo que a pessoa passe a fazer hemodiálise", afirma a nefrologista pediátrica Lucimary de Castro Sylvestre, coordenadora do ambulatório de hipertensão do Hospital Pequeno Príncipe.
Silêncio
Se você não mede sua pressão arterial regularmente, fique atento: são grandes as chances de você ter hipertensão e não saber. Segundo Bubna, como a doença não gera sintomas, esse tipo de caso é muito comum e cerca de 90% dos hipertensos não manifestam qualquer sinal. "Em geral, as pessoas descobrem durante um check-up ou procuram o médico por causa de outro problema e acabam descobrindo que sua pressão está alterada", diz.
De acordo com Dante Giorgi, médico-assistente da unidade de hipertensão do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo e conselheiro da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH), isso é um problema tanto na hora de identificar a doença como no convencimento dos pacientes sobre a necessidade de tomarem a medicação adequada de forma contínua. "O que mais acontece é que a pessoa se sente bem, não manifesta qualquer dor, e decide suspender o tratamento por conta própria, o que pode ter consequências muito sérias", afirma.
Mudanças
Apesar de bastante grave, a hipertensão tem formas de prevenção que exigem uma boa dose de esforço, mas são bem simples. "Basta a pessoa manter seu peso ideal, ter uma dieta alimentar equilibrada com consumo regular de frutas, verduras e legumes, evitar o excesso de sal na comida, diminuir suas fontes de estresse, parar de fumar e de consumir bebidas alcoólicas em excesso e fazer exercícios regularmente", diz Bubna.
Não há pílula mágica contra a hipertensão. O tratamento em geral é focado nessas mesmas mudanças de hábitos. "Somente em casos muito graves começamos o tratamento com medicação, mas, na maioria das vezes, ter hábitos de vida mais saudáveis é a chave do sucesso para conter a pressão alta, tomar uma quantidade menor de remédios e ter mais qualidade de vida", comenta Alessi.
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Interatividade
Não perca o bate-papo online com o médico cardiologista Luiz Fernando Kubrusly, diretor clínico do Hospital Vita Batel, e a nutricionista do Hospital de Clínicas (HC) da UFPR Denise Johnsson Amaral. O chat será nesta quarta-feira, às 16 horas, no site www.gazetadopovo.com.br/saude.
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