
Quem acha que varicela, caxumba e rubéola são doenças somente de criança, engana-se: há cada vez mais adultos chegando aos consultórios médicos com sintomas de problemas típicos da infância. A explicação para isso, além do fato de não ter adquirido a doença quando criança, é a baixa imunidade, que facilita a contaminação por vírus. Apesar de serem problemas considerados simples nos pequenos, no adulto as doenças podem levar a complicações mais sérias como problemas pulmonares, pancreatite, inflamações nas mucosas e até esterilidade, no caso da caxumba.
"O vírus da caxumba pode se alojar no pâncreas, ovários e testículos, levando a uma inflamação. Por isso o homem corre o risco de ficar estéril quando tem a doença na fase adulta. Com a varicela, os problemas extras também surgem por causa do vírus", explica a clínica-geral do Hospital das Nações Juliana Varassin. Os sintomas das doenças, que geralmente incluem febre e feridas na pele, costumam ser mais intensos e incômodos do que nas crianças, por causa da resposta imunológica do organismo. "A criança tem uma tolerância maior contra essas infecções, pois o organismo não reage tão intensamente. No adulto é o contrário", diz Rodrigo Barth, infectologista do Hospital Milton Muricy.
O infectologista pediátrico do Hospital Pequeno Príncipe Victor Horácio da Costa afirma que, entre todas as doenças da infância, a mais recorrente entre adultos nos consultórios médicos tem sido a varicela (popularmente conhecida como catapora). A mudança de comportamento do vírus, segundo ele, é a principal causa. "Ele (o vírus) está se tornando mais resistente e aparece porque parte desses adultos não receberam a vacina e nem tiveram a doença quando crianças". No Paraná, dados da Secretaria de Estado da Saúde apontam crescimento de 14,69% no número de casos de varicela. Foram 10.381 em 2009, contra 11.906 até o início de setembro deste ano.
Outra hipótese para a maior contaminação, segundo o médico Rodrigo Barth, é a menor exposição ao vírus. "Há 40 anos, todo mundo tinha varicela na infância. A medida que diminuiu o contato com o vírus e as condições de higiene melhoraram, muitas pessoas não pegaram a doença e se tornaram adultos mais suscetíveis". Além disso, a varicela é altamente contagiosa. "O infectado pode transmitir três dias antes do aparecimento de qualquer sintoma até cinco dias depois do surgimento das lesões. Por isso é necessário isolar o paciente e não deixar que ele tenha contato com gestantes, crianças ou pessoas que nunca tiveram a doença", orienta Costa.
Susto
A cientista política Maria Alejandra Nicolas, 32 anos, teve varicela em junho deste ano e precisou ficar dez dias fora do trabalho. Fora o desconforto da febre alta e das feridas na pele, ela não foi diagnosticada com a doença na hora. "Tive febre alta num fim de semana e as feridas saíram na cabeça. Não dei muita importância e fui ao médico depois do expediente. O médico disse que poderia ser catapora, mas não me deu certeza absoluta. Cogitei ser alergia de uma sopa de camarão que comi". Medicada com um antialérgico e antitérmico, Maria acordou pior no outro dia. "Voltei para o pronto-socorro e, na hora, o médico disse que eu estava com a doença. Até chamaram um dos pediatras de plantão para confirmar", conta.
Na hora de encontrar o medicamento, a cientista política também teve dificuldades, já que o remédio era específico para crianças, mas com dosagem mais alta. "Depois de ligar para muitas farmácias acabei encontrando. Fiz exames de sangue e continuei com a medicação, mas demorou bastante para eu melhorar. As bolhas incomodam muito quando secam, dormia de luvas para não coçar. Me atrapalhou bastante".
Segundo o infectologista do Pequeno Príncipe, a varicela e outras doenças da infância são de fácil diagnóstico. "Não tem como confundir. O clínico-geral está apto para detectar e fazer o tratamento, que é realizado com antitérmico, anti-histamínico para diminuir o prurido e com antibiótico em alguns casos". A médica Juliana Varassin recomenda observação maior para adultos. "Paciente com varicela que começa com tosse e dor toráxica é sinal de complicações. Em alguns casos, a internação é necessária".
Vacina
A vacina pode ser feita na fase adulta por quem não enfrentou o problema ou não foi imunizado na infância. "Apesar de no adulto a eficácia da vacina depender da resposta imunológica, refazer a dose ajuda", diz Barth.



