
Extremamente eficiente e adaptável. É esse o perfil do Aedes aegypti, que desde o fim de século 19 desafia as autoridades sanitárias brasileiras. Erradicado duas vezes do território brasileiro– em 1955 e 1973 – , ele voltou ao país no fim dos anos 1970. Desde então, se espalhou pelo Brasil e se adaptou tão bem que nem se fala mais em acabar com ele. Agora, a briga é para manter o principal vetor da dengue, da chikungunya e do zika vírus sob controle, evitando surtos das doenças.
Mas o número de contaminados por dengue e a forma como as novas doenças têm se espalhado pelo país mostram que temos perdido feio para o mosquito. De acordo com o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, até agora temos 1,5 milhão de casos notificados de dengue em todo o país. A febre chickungunya – que chegou ao Brasil em 2014 – já tem casos autóctones (contraídos aqui) em nove estados e o zika vírus – que aterroriza por sua relação com a microcefalia –, em 18.
Conheça o ciclo de vida do mosquito
Uma das dificuldades para o controle do Aedes aegypti é a capacidade do inseto de se adaptar. Por exemplo, em geral, ele voa baixo e percorre distâncias curtas. Mas experimentos já mostraram que, se for preciso, o mosquito pode voar até 800 metros para encontrar comida ou um local para pôr os ovos.
O frio moderado também não espanta o bicho. Como está adaptado para ficar dentro de casa, ele sofre pouco com as baixas temperaturas de cidades como Curitiba, por exemplo. “Em países como a Noruega e a Dinamarca, obviamente, você não vai encontrar o mosquito. Mas em regiões que não são tão frias, eles vivem tranquilamente”, comenta a bióloga Denise Valle, pesquisadores Instituto Oswaldo Cruz e especialista em Aedes aegypti.
Desorganização
Ela explica que a forma como as cidades cresceram nas últimas décadas dificulta o combate do mosquito. “Não há saneamento adequado, falta uma boa coleta de lixo e o aporte de água em muitos locais é irregular, o que exige estocagem. Tudo isso, cria um ambiente muito propício para o mosquito se proliferar.”
O fator globalização também entra nessa conta. Praticamente todos os países da América do Sul têm a presença do Aedes aegypti, que se espalha também pelo México, Sul dos Estados Unidos, alguns países da África, Ásia e Europa. Com a intensa troca de mercadorias entre os continentes, fica praticamente impossível evitar que o mosquito entre no país.
Todas essas dificuldades justificam a insistência de autoridades de saúde e sanitárias para que, cada um, cuide de sua casa, jardim, quintal a cada sete dias – tempo que a larva demora para se transformar em mosquito.
“A dengue não é só uma questão de saúde. É uma questão de cidadania também. Talvez esse trauma que estamos vivendo agora, com os casos de microcefalia, sirva para termos uma mudança de hábito no país”, diz Denise.



