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Entrevista com Gilberto Martin, secretário de Estado da Saúde.O número de casos confirmados em laboratório da gripe A (H1N1), conhecida como gripe suína, é de 10.188 no Paraná até o momento. O secretário de Estado da saúde, Gilberto Martin, estima, porém, que 150 mil pessoas no estado tenham sido contaminadas pela nova gripe, já que somente os casos graves se submeteram a exame laboratorial. O estado registra ainda 236 mortes pela doença e tem a maior taxa de mortalidade proporcional à população. Em entrevista à Gazeta do Povo, o secretário afirmou não acreditar que o Paraná tenha a maior taxa, mas apenas processa os exames com mais rapidez. E foi taxativo: é besteira achar que o número de mortes é maior do que o divulgado.

Martin revelou ainda que no fim de abril, o poder público pensou até em levantar o número de salões comunitários existentes no Paraná, que poderiam se transformar em hospitais de campanha. No entanto, o cenário pessimista de incidência da doença, projetado no início com base nos números da gripe espanhola de 1918, não se confirmou.

Quantas pessoas foram atingidas pela gripe A no estado?

Vou fazer uma estimativa que não fiz ainda com ninguém. Não há hoje nenhum tipo de estudo científico, acadêmico, de característica epidemiológica, que dê um número indicativo concreto de que tipo de projeção se pode fazer com relação ao H1N1. Ouvi opiniões segundo as quais para cada caso notificado pode haver três pessoas contaminadas pela gripe. Notificamos cerca de 45 mil pessoas. Eu nem sei se isso pode chegar a ser uma projeção. Se for isso, vamos chegar a quase 150 mil pessoas. Uma segunda conta: 98% das pessoas com gripe têm evolução benigna e 2% são internadas. Internamos no Paraná, arredondando, 3 mil pessoas. Imagino que um parâmetro de avaliação é de que pode ter havido no Paraná 150 mil pessoas contaminadas pelo H1N1, das quais 236 foram a óbito.

Qual a situação atual da gripe?

De uma forma geral, começamos a entrar numa fase de estabilização. Praticamente já desafogou por completo a procura por atendimen­to e houve redução muito gran­de na demanda por internamento de pacientes. Nos nossos boletins, a variação de números tem sido pequena. Tivemos um período de pico da doença, que se prolongou um pouco, e entramos agora numa fase de estabilização e redução. Essa é a tendência porque agora começa o aumento da temperatura, uma característica climática adversa para o vírus. Mas só vamos estar livres do H1N1 no momento em que tivermos a vacina.

Quando vem a vacina para o Paraná?

Há uma perspectiva de compra de 1 milhão de doses e mais 18 milhões seriam fabricadas no Brasil. Calculo que até fevereiro ou março do ano que vem tenhamos a vacina, com uma dose só, que tem demostrado eficácia boa, em torno de 96% a 97% de proteção.

Mas o número de doses não será suficiente para imunizar a população.

Nossa reivindicação é que, dessas 18 milhões de doses, haja concentração nos estados do Sul, onde há incidência maior da doença. Mesmo assim, não vamos ter vacina para toda a população.

Quem deveria ter prioridade?

A população mais suscetível teoricamente é formada por pessoas de faixa etária maior ou menor e pessoas com comorbidades. Mas há uma contradição: o vírus foi mais agressivo entre adultos jovens. Hoje, uma coisa em tese está patente: a primeira população a ser vacinada é a dos profissionais de saúde. Por que o Paraná tem a maior taxa de mortalidade pela gripe A do país?Porque estamos com os números atualizados. Outros estados ainda estão apurando óbitos. É como se fosse um sistema de apuração eleitoral: nós aqui temos eleição por urna eletrônica e outros estados ainda estão na apuração manual. Só vamos poder fazer comparação entre os estados na hora em que todos estiverem no mesmo tempo de realização dos exames. Não acho que o Paraná seja o estado com a maior taxa de mortalidade.

Como analisar o fato de 48,8% das vítimas fatais não terem fator de risco? Médicos questionam que provavelmente esses pacientes não tomaram Tamiflu no início dos sintomas, por não estarem no grupo de risco.

Não podemos fazer nenhuma discussão que corresponda à realidade ainda. Estamos preparando um estudo desses 236 óbitos, da situação de cada um, por prontuário. Há uma série de casos de observação empírica de pacientes que começaram a tomar Tamiflu e foram a óbito do mesmo jeito, tomando certinho, antes das 48 horas do início dos sintomas.

Muita gente acha que o número de óbitos é maior, como dizem alguns e-mails.

Serei taxativo: isso é besteira. Se o número de óbitos fosse maior do que o divulgado – e que eu já acho grande demais –, conseguiríamos esconder isso? Como se esconde um óbito causado por um problema em que está todo mundo de olho? Há quem diga que numa reunião um advogado falou que, só em Curitiba, já morreram mais de 4 mil pessoas. Como nós escondemos 4 mil mortes? Sinceramente, isso é uma grande besteira.

As projeções de casos e mortes feitas no início da pandemia se concretizaram no Paraná?

Não. A imagem que se projetava no início era semelhante a aquelas da gripe espanhola: barracões com um monte de colchões no chão que funcionavam como hospital de campanha. O pior período nesse ano foi do dia 26 de abril até meados de maio, quando se começou a delinear mais claramente o que aconteceria. As projeções que fa­zíamos eram assustadoras, mas, graças a Deus, não se confirmaram.

Qual a orientação atual para a população?

Deve continuar atenta e prestar atenção às manifestações de sintomas de gripe. Pessoas que tiverem sintomatologia de gripe devem ficar em casa. Se o quadro se agravar, devem procurar atendimento médico, se ainda não procuraram. Fora isso, é manter todos aqueles cuidados: lavar as mãos; ao espirrar, proteger o nariz; manter ambientes arejados e com circulação de ar interna; e, na medida do possível, evitar aglomeração.

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