
Em pouco menos de quarenta anos, o mundo terá três vezes mais pessoas com doenças causadoras de demência. Essa é a estimativa atualizada de um estudo publicado este ano pela Alzheimers Disease International, federação internacional que reúne organizações destinadas a estudar e apoiar pacientes de demência, sendo a doença de Alzheimer a mais comum entre elas. O estudo estima que existam hoje no mundo cerca de 44 milhões de pessoas com a condição. O número deve aumentar para 76 milhões em 2030 e, finalmente, para 135 milhões em 2050.
O aumento recairá principalmente sobre países em desenvolvimento, com renda baixa ou média (veja o gráfico). Cerca de 71% dos casos ficarão nesses países. Segundo o chefe do Setor de Neurologia do Comportamento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Paulo Bertolucci, a pesquisa evidencia um fenômeno que, por um lado, é positivo.
INFOGRÁFICO: Veja a estimativa de crescimento da demência nas próximas décadas
"Os países em desenvolvimento estão expandindo suas expectativas de vida, e isso faz com que tenhamos mais idosos no mundo. A má notícia é que, com isso, aumentam-se também os casos de demência. Os países desenvolvidos já têm seu número de idosos bem estabelecido, e por isso não há aumento significativo nessas populações."
Informações escassas
O estudo não especifica o crescimento por país, mas por áreas do globo. Na América Latina, segundo um estudo realizado em 2009, 8,5% dos idosos teriam algum tipo de demência. O neurologista critica a abordagem. "Não dá para filtrar por área porque alguns países têm políticas de prevenção e cuidados com o Alzheimer, e alguns não."
No Brasil, os estudos são raros e concentrados, diz Elizabeth Piovezan, diretora-presidente do Instituto Alzheimer Brasil, ONG sem fins econômicos que visa amparar portadores de demência e familiares. "Eu desconheço levantamentos nacionais sobre a doença, e faltam, sobretudo, estudos de custo. Na Europa e nos Estados Unidos, eles sabem exatamente quanto custa um paciente com Alzheimer para o Estado, aqui não se tem ideia. Serviços gratuitos para pessoas com Alzheimer são muito poucos, e têm toda a demora do sistema de saúde público que todos já conhecem".
Elizabeth explica também que a doença de Alzheimer é apenas uma das doenças que pode causar demência. "O Alzheimer representa 70% dos casos de demência, seguido pela demência vascular, a demência frontotemporal e a doença de Pick", afirma. Outras doenças que levam a demência são o mal de Parkinson, a esclerose múltipla e a doença de Huntington.
PaliativoTratamentos atuais visam apenas retardar os efeitos das doenças
Os tratamentos para o Alzheimer e outras doenças causadoras de demência ainda não são curativas. "A grande maioria dos tratamentos tem como objetivo retardar a progressão da doença, e enquanto isso novas linhas de estudo tentam buscar curas efetivas para o Alzheimer", diz o geriatra Mauro Roberto Piovezan, responsável pelo setor de neurologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Segundo ele, a grande preocupação no momento é encontrar métodos de diagnóstico precoce, já que a descoberta tardia da doença dificulta respostas efetivas aos tratamentos. Piovezan explica que existem atualmente dois grupos de medicamentos que retardam os sintomas da demência: os anticolinesterásicos, que permitem a produção de acetilcolina, um neurotransmissor decisivo na função cognitiva, e a memantina, que regula a entrada de cálcio nos neurônios, fazendo com que se diminua a morte cerebral. "Existem medicamentos de outras linhas de atuação que ainda estão sendo estudados, mas ainda em fase pré-clínica", completa.



