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Alimentação

Mal-estar num copo de leite

O brasileiro ingere cada vez mais produtos lácteos, mas a tendência natural é que a intolerância à lactose aumente ao longo da vida

"Hoje como menos [queijo] do que antes, mas adoro o cheiro de pizza e, resistir, é difícil. Se quero comer algo derivado do leite, tomo três cápsulas de lactase uma hora antes da refeição." Mariliz Müller, advogada que tem intolerância à lactose | Marco André Lima/Gazeta do Povo
"Hoje como menos [queijo] do que antes, mas adoro o cheiro de pizza e, resistir, é difícil. Se quero comer algo derivado do leite, tomo três cápsulas de lactase uma hora antes da refeição." Mariliz Müller, advogada que tem intolerância à lactose (Foto: Marco André Lima/Gazeta do Povo)
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O consumo de leite vem aumentando nas últimas décadas no Brasil. De 1981 até hoje, a ingestão per capita cresceu 75%, chegando a 165 litros anuais, em torno de 450 ml diários, segundo dados recentes divulgados pela Associa­ção Brasileira de Produtores de Leite. Apesar dos benefícios da inclusão de produtos lácteos na dieta, o maior consumo de leite trouxe um efeito colateral inesperado: a intolerância à lactose. O problema atinge 50% das pessoas, segundo estimativas de uma pesquisa norteamericana citada pela alergologista Loraine Landgraf, diretora regional da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopato­logia.

É cada vez mais comum encontrar pessoas que, com o passar do tempo, desenvolvem uma sensibilidade ao leite que rende cólicas, gases e diarreias. A explicação, segundo a médica pediatra e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Sheila Nogueira, é que a diminuição da tolerância à lactose – que é o açúcar do leite – aparece quando a produção da enzima lactase, responsável por sua digestão, começa a cair. "Para poder ser absorvida pelo organismo como glicose, a lactose precisa ser quebrada por essa enzima, produzida em quantidade suficiente apenas até os 3 anos de idade", diz ela. O problema surge, segundo a pediatra, no ser humano por ser o único mamífero que continua tomando leite mesmo após tornar-se adulto.

Comprimido

Mas como conciliar a recomendação de consumir leite – fonte de proteínas, vitaminas e cálcio – à intolerância natural progressiva ao produto? Scheila afirma que há duas formas de combater o problema. Uma, reduzindo a ingestão de leite e fazendo as devidas substituições nutricionais. Outra, lançando mão de medicamentos que atuam como a enzima lactase no organismo.

Esta foi a medida a qual a advogada Mariliz Müller teve de recorrer para poder comer queijo, uma de suas paixões, depois de diagnosticada a intolerância à lactose, há sete anos. Requeijão, ricota e outros tipos de queijo sempre estiveram no cardápio dela.

Segundo a alergologista Loraine Landgraf, quem é intolerante e não quer nem abandonar os produtos lácteos nem passar pelo mal-estar dos seus sintomas, deve ingerir a lactase sempre, pelo menos meia hora antes de consumir leite ou seus derivados. "A dose varia em relação ao grau de intolerância que a pessoa apresenta e a quantidade de lactose que ela vai ingerir", diz.

Mariliz não teve problemas em adaptar sua dieta, contudo as restrições – provenientes também de ser vegetariana – causam algumas saias-justas. "Quando me convidam para jantar, digo que sou vegetariana, então a carne costuma ser substituída por uma massa com queijo. Explicar que, além disso, tenho intolerância à lactose é complicado. Por isso tomo a lactase, que facilita minha vida", diz ela. Por mês, Mariliz gasta cerca de R$ 120 com o suplemento, mas ela vê o lado positivo da restrição: a adesão a hábitos alimentares mais saudáveis. "Todas as noites eu costumava comer sanduíche com queijo. Depois do diagnóstico me obriguei a ter uma variedade maior de alimentos como substitutos, como patê de tofu e salsicha de soja. Foi uma mudança positiva, senão eu passaria a vida toda comendo queijo quente", brinca.

Importância

Ainda que a função do leite como fonte de cálcio para o organismo seja importante, a máxima de não exagerar também vale para esse produto. "Ele é um complemento na alimentação, mas não nos dá todos os nutrientes de que precisamos", diz a professora de Nutrição Gisele Pontaroli Raymundo, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Segundo ela, o consumo deve obedecer ao período de digestão de no mínimo duas horas após uma refeição. Se consumido logo após o almoço, o leite impede a absorção adequada de ferro presente em vegetais como o feijão. Entre desnatados ou integrais não há vilões, pois até mesmo a gordura – presente em maior quantidade no integral – tem um papel a cumprir, principalmente na dieta infantil. "A criança não deve tomar o desnatado, pois ela precisa da gordura como fonte calórica e de ácidos graxos. Entretanto, quem tem colesterol alto deve escolher essa opção."

Não importa se o leite é integral ou desnatado quando o assunto é a intolerância. Isso porque a presença ou a ausência de gordura não interfere no aparecimento dos seus sintomas, pois a lactose está presente em ambos os produtos. "Quem é intolerante tem de tomar leite com baixa lactose ou sem este açúcar", reforça Loraine.

Acima de um ano

Mesmo com tantos benefícios, o consumo do produto deve ser restrito a crianças acima de 1 ano, por ter mais proteína e sal e menos vitaminas e outros nutrientes que o leite materno.

Serviço:

O site www.semlactose.com traz receitas e dicas de alimentos lácteos sem este açúcar.

Interatividade

Você tolera bem o leite de vaca? Sentiu reações do organismo com o passar do tempo ou já faz algumas substituições?

Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

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