
Falta de tempo. Preguiça. Monotonia. Eis algumas das desculpas mais usadas por aqueles que se mantêm distante das academias de ginástica. Para estimular essas pessoas a malhar, algumas academias oferecem treinos em circuito, com duração de apenas 30 minutos, três vezes por semana.
Comparados a práticas convencionais de musculação, esses treinos são mais rápidos e dinâmicos, portanto mais atraentes a um público não muito afeito a se mexer. "No circuito, como você está sempre em movimento, não dá tempo nem de pensar que o exercício está ficando chato", lembra o professor de Educação Física Wagner Carlos Rosa.
Em geral, o circuito é composto por 16 estações dispostas circularmente: oito são equipamentos de musculação (que trabalham músculos dos membros superiores e inferiores) e oito são espaços livres entre os aparelhos, onde o aluno faz sozinho exercícios aeróbicos ou localizados.
Realizado coletivamente (o nú-mero de participantes pode equivaler ao número de estações) e com a supervisão de um professor de Educação Física que fica na área central, o treino inicia assim que o aluno ocupa um dos aparelhos e faz quantas repetições conseguir por um tempo de 30 segundos.
Após a mudança de estação, normalmente indicada por uma gravação, o praticante faz o mesmo intervalo de tempo de exercícios aeróbicos ou localizados indicados pelo professor. Depois disso, o aluno passa ao próximo equipamento e esse processo continua até que sejam completadas três voltas no circuito, o que dura 30 minutos.
Só para mulheres
Das academias que trabalham com esse treinamento, vale observar que a maioria delas, em Curitiba, é voltada exclusivamente ao público feminino. A mais conhecida é a de origem norte-americana Curves, com milhares de franquias pelo mundo, mas há outras como a Contours e a Smart Fit.
Segundo a professora de Educação Física Jamile Corrêa Lopes, da Smart Fit, o que mais atrai as mulheres para o circuito é o desejo de perder peso de uma forma menos exaustiva, e em um ambiente em que elas sintam-se completamente à vontade sem olhares masculinos que possam constrangê-las e até mesmo sem a presença de espelhos na sala. "Você não vê menina desfilando com roupinha de ginástica. As mulheres vêm para malhar mesmo", garante a professora de Geografia Valéria Edith Collodel, 52 anos.
A fonoaudióloga Bárbara Madalozzo, 33 anos, é outra adepta do circuito feminino. Frequentadora de uma academia desde o ano passado, ela começou o treino quando estava grávida de três meses, para controlar o ganho de peso excessivo durante a gestação.
Bárbara conta que ficou satisfeita de ter engordado apenas 12 quilos até o nascimento do filho. Ela diz que, ao voltar a malhar, conseguiu reduzir seu peso de antes da gravidez em dois quilos. "Hoje, com um filho para atender, fica difícil encontrar tempo para os exercícios. Por isso, meia hora de academia é o ideal", afirma.
Homens no circuito
O administrador Leandro Pereira, 34 anos, e o contador Paulo Gavioli, 50 anos, são exemplos de que o circuito de 30 minutos não interessa apenas às mulheres. Os dois treinam em uma academia aberta para ambos os sexos no intuito de manter o condicionamento físico e de ganhar massa muscular. Nenhum dos dois, porém, tem a pretensão de ficar "bombado".
Paulo, que também pratica corrida de rua, está mais interessado em se preparar para as suas provas, enquanto Leandro afirma já estar contente de não sentir mais dores nas costas, provocadas por má postura no trabalho. Com o corpo fortalecido, as dores sumiram e hoje ele se sente bem mais disposto. "O circuito atinge o objetivo de proporcionar qualidade de vida e saúde", diz a professora da Sui Generis, Maira Dal Sant.
Prós e contras
Para os professores de Educação Física que trabalham com circuito de 30 minutos, não há dúvida de que esses treinos, realizados três vezes por semana, são suficientes para se trabalhar bem os grandes grupos musculares e mais o sistema cardiorrespiratório de seus alunos.
Essa visão, porém, é contestada pelo médico Marcelo Leitão, especialista em Medicina Esportiva. Segundo ele, para uma pessoa que não tenha limitações de saúde, essa quantidade de exercícios ainda está abaixo do ideal.
"O Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM), que é uma referência mundial, recomenda que sejam feitos 30 minutos só de atividade aeróbica moderada, cinco vezes por semana. Isso para que a pessoa mantenha a saúde e reduza o risco de doenças crônicas. Já para se perder peso, a pessoa deveria ultrapassar essa meia hora."
O pesquisador em Epidemiologia da Atividade Física e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Rodrigo Siqueira Reis, questiona a pouca ênfase dada aos exercícios aeróbicos nesses circuitos, mas também não descarta completamente a validade dessa prática. "Uma pessoa que treine assim pode emagrecer, ganhar massa e condicionamento físico. Mas o circuito não faz milagre e os resultados vão depender do biotipo, da alimentação e da performance de cada um", diz Siqueira Reis.



