Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Nosso cérebro

“Não há máquinas que criam gênios”

Especialistas alertam para riscos de produtos que prometem melhorar capacidade cerebral por meio de impulsos eletromagnéticos

O neuropsi­quiatra Wesley Hummig estuda tratamentos com ondas eletromag­néticas desde 2001 | Aniele Nascimento / Gazeta do Povo
O neuropsi­quiatra Wesley Hummig estuda tratamentos com ondas eletromag­néticas desde 2001 (Foto: Aniele Nascimento / Gazeta do Povo)

Parece coisa de filme de ficção científica, mas basta uma busca na internet para encontrar promessas milagrosas para melhorar a memória e os reflexos por meio do uso de uma espécie de capacete futurista que diz emitir impulsos eletromagnéticos diretamente no cérebro. Um desses produtos, dos Estados Unidos, custa pouco mais de R$ 500. A respeitada revista científica Nature apontou para a incerteza de resultados desse tipo de produto, levando em consideração a falta de comprovação médica de melhorias. O neuropsiquiatra Wesley Hummig concorda com a opinião da publicação. "Seria uma coisa incrível, mas não há máquinas que criam gênios", acrescenta.

Esse tipo de mercadoria busca se basear em pesquisas sérias e antigas ligadas ao uso de impulsos elétricos no cérebro – há registros de experimentos realizados ainda no Império Romano, por volta do ano 46 d.C. Pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra, já conseguiram comprovar que a velocidade de aprendizado aumenta com um estímulo elétrico de baixa intensidade, por exemplo. Já o Hospital do Coração de São Paulo (HCor) testa a técnica para tratar a obesidade mórbida. "Há vários casos de melhora, como em casos de epilepsia, mal de Alzheimer e doença de Parkinson", cita a neurologista Thereza Wickler.

No entanto, todo cuidado é pouco. No Brasil, o uso de impulsos elétricos é regulamentado por órgãos como o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Associ­ação Médica Brasileira (AMB) em duas modalidades: a estimulação magnética transcraniana (EMT) e a eletroconvulsoterapia (ECT). Elas podem ser usadas exclusivamente em pacientes diagnosticados com depressão (uni e bipolar) e esquizofrenia que não responderam à medicação, além do uso para fazer o planejamento de neurocirurgia.

Efetividade

Por mais que pesquisas mostrem que esse tipo de técnica possa trazer benefícios ao cérebro humano, ainda não se sabe o motivo exato de a eletricidade ser efetiva. "Há uma série de medidas de segurança que precisam ser cumpridas para por tanto a EMT quanto a ECT em prática. São tratamentos que requerem a presença de um médico e não podem ser usados por qualquer um", analisa Hummig, que é sócio-fundador da Associação Brasileira de Estimulação Magnética Transcraniana (CBrEMT) e estuda o tratamento com ondas eletromagnéticas desde 2001.

Para quem encontrar produtos com promessas de melhora para o funcionamento do cérebro, a recomendação é a mesma para todo procedimento médico: "O paciente precisa ouvir a orientação de um médico de confiança. Não há cura ou tratamento milagroso quando o assunto é saúde", assegura Thereza.

Tarefas simples contribuem com o cérebro

Por mais que não existam máquinas com a capacidade de fazer com que pessoas comuns se tornem gênios, é possível praticar exercícios simples que ajudam a desenvolver a capacidade neurológica do ser humano. "É importante fazer coisas que saiam da rotina para estimular o cérebro a estabelecer novas conexões entre os neurônios", comenta a neurologista Thereza Wickler.

Além de palavras cruzadas e caça-palavras, que melhoram elementos como memória, linguagem e atenção, tentar escrever com a outra mão, percorrer rotas diferentes nos trajetos diários e aprender novos idiomas podem ajudar o cérebro e até prepará-lo para fatalidades. "Se um destro que já praticou escrever com a mão esquerda tiver um derrame, por exemplo, ele terá mais facilidade para voltar à rotina", analisa Thereza.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.