
Na última semana, mais duas mortes causadas por uma nova linhagem do coronavírus que causa a Síndrome Respiratória Coronavírus do Oriente Médio (identificado pela sigla Mers-Cov) foram registradas na Arábia Saudita. O país também noticiou mais um caso da doença, que desde o ano passado já infectou 130 pessoas e causou o a morte de 58, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). O temor agora é que no próximo mês, durante a peregrinação à Meca, a contaminação saia do controle e se espalhe pelo mundo. Outro vírus que também preocupa as autoridades sanitárias é o H7N9, que causa uma variação grave de gripe aviária. No início da semana passada, a Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO) divulgou um alerta sobre a possibilidade de proliferação da doença, que já causou 44 mortes na China desde o início deste ano.
INFOGRÁFICO: Confira o número de casos registrados de MERS-Cov e de H7N9
Os dois vírus, que têm mantido em alerta as autoridades médicas internacionais e os cientistas, atacam o sistema respiratório, causando febre alta e tosse, chegando a um quadro de pneumonia. Pacientes com o sistema imunológico debilitado são as principais vítimas. Mas também há registros de mortes de pessoas jovens e saudáveis. Esse é o ponto que mais preocupa os médicos por ser considerado inusitado e ser uma mostra da agressividade do vírus.
A origem dos dois vírus, assim como o da gripe suína que assustou o mundo em 2009, está relacionada à convivência entre homens e animais. No caso do Mers-Cov, os cientistas ainda tentam descobrir exatamente de onde partiu o organismo causador da doença. Duas pesquisas recentes apontam que teria vindo de camelos, mas nada ainda foi comprovado. O H7N9, por sua vez, foi detectado em aves domésticas como frangos e galinhas. Pesquisa publicada em abril deste ano mostrou que o vírus está presente nesses animais, com quem o homem tem convívio muito próximo nos mercados de aves chineses.
"Os vírus são entidades químicas muito plásticas. Então, sempre existe a possibilidade de um vírus que não causa doença na ave, por exemplo, de repente, desenvolver uma variedade capaz de causar uma grave infecção no ser humano", explica o médico infectologista Eurico Arruda Neto, coordenador do comitê de influenza e virologia clínica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
A infectologista Sônia Raboni, médica do laboratório de virologia do Hospital de Clínicas de Curitiba, comenta que esse pulo de espécie ocorreu, por exemplo, com o HIV, que passou de macacos para os humanos e ainda desafia os cientistas. "Isso [a transmissão de vírus de animais para humanos] sempre ocorreu. Hoje, talvez, esteja mais frequente porque se detecta um pouco mais, pelas aglomerações de pessoas, alterações climáticas e ambientais, com o homem entrando em contato com animais que antes estavam isolados", diz.



