
Os números impressionam: 33 milhões pessoas são portadoras do HIV no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde. Em algumas regiões, como na Europa Oriental e Ásia, houve um aumento de 150% da incidência em seis anos, de 2001 a 2007. A doença, que é estudada há mais de 25 anos, ainda está longe de ser totalmente desvendada pela ciência e é considerada um dos grandes desafios da pesquisa na área de saúde.
A inexistência de uma cura defi-nitiva não quer dizer que as descobertas da Medicina não proporcionaram melhoras no tratamento e diagnóstico da enfermidade. Pelo contrário, os avanços são visíveis em relação ao início dos anos 1990. "Antes da descoberta do AZT (primeira droga anti-HIV), a expectativa de vida dos infectados era em torno de três meses. Depois do AZT aumentou para nove meses", explica Luiz Roberto Castello Branco, chefe do Laboratório de Imunologia Clínica do Instituto Oswaldo Cruz (IOC). Até hoje utilizado, o AZT tem a função de barrar uma das fases de multiplicação do vírus. Com o tempo, novos medicamentos que impediam outras etapas da multiplicação foram descobertos. Só assim o tratamento começou a ficar eficaz. "Observou-se que a monoterapia e a terapia dupla não obtiveram sucesso. Somente a partir da tripla associação, chamada posteriormente de coquetel, é que os sintomas e a mortalidade diminuíram", diz Nelson Szpeiter, médico infectologista presidente da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Santa Cruz.
Desde então, outras fórmulas foram descobertas, possibilitando associações diferentes que evitavam o desenvolvimento de resistência contra o medicamento e a aplicação em pacientes que não respondiam bem às primeiras terapias. "Com o tempo, os objetivos dos tratamentos mudaram. No início era preciso que o paciente não morresse. Agora existe uma preocupação com a qualidade de vida", afirma José Luiz de Andrade Neto, infectologista consultor do Ministério da Saúde e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Além de eficazes, as novas drogas tentam diminuir os efeitos colaterais, a toxicidade e evitar que o paciente tenha sintomas desagradáveis. Isso já tem acontecido. "Não vemos mais a aids em sua plenitude. A intervenção precoce faz com que a doença se manifeste só discretamente e com que o paciente não tenha pneumonias fortes, febres e tumores", diz Szpeiter. "Uma pessoa que tem HIV pode fazer o que qualquer outra pessoa faz, inclusive ter filhos. Talvez esse tenha sido o maior avanço das últimas décadas: impedir, com medicamentos, a transmissão vertical da mãe para a criança", complementa Andrade Neto.
Desafios
O Brasil gasta por ano R$ 1 bilhão com o tratamento do HIV. A iniciativa do Ministério da Saúde, de distribuir gratuitamente os coquetéis, é considerada de vanguarda por países desenvolvidos e já é copiada na África. A pesquisa de medicamentos nacionais também tem obtido bons resultados. O Instituto Oswaldo Cruz, por exemplo, tem trabalhado em um anti-viral nacional há mais de dez anos. "A primeira droga brasileira está em estudos avançados e é resultado da associação de quatro fármacos, todos com origem nas algas. A vantagem é que o medicamento é menos tóxico e age em duas fases do vírus, além de poder ser utilizado como um microbicida de forma tópica", diz Castello Branco. Os estudos clínicos no exterior já começaram e as expectativas são boas. "Colocando um medicamento nacional no mercado economizaremos de R$ 50 a R$ 100 milhões por ano", acrescenta.
Além do crescimento da pesquisa nacional, é unanimidade entre os infectologistas a importância de se desenvolver uma vacina ainda longe de ser descoberta e o reforço da prevenção, a forma mais simples e barata de impedir o avanço da epidemia. "Parece que o avanço nos tratamentos resultou em uma prevenção menor. Porque é difícil morrer de aids hoje, mas ela continua sendo uma doença crônica, grave, sem cura e que pede o uso contínuo de medicamentos e acompanhamento constante", diz o pesquisador.



