Diante de uma crise de credibilidade, a Organização Mundial da Saúde (OMS) prepara um plano gradual e uma fase de transição a fim de decretar o encerramento da pandemia de gripe suína. A entidade reúne hoje, em Genebra, seus maiores especialistas em influenza para determinar se a doença já superou sua fase mais aguda. Se isso for constatado, esse seria o primeiro passo para a declaração do fim da pandemia do vírus H1N1, que causou 16 mil mortes no mundo. No Brasil, porém, não há previsão de mudança na estratégia de enfrentamento da doença.
O último boletim da OMS aponta que o vírus está ativo no mundo, mas a intensidade tem permanecido baixa. A pandemia de gripe foi decretada em junho de 2009 e o alerta foi elevado para o nível máximo em uma escala de graduação de 1 a 6. Agora, 15 especialistas vão se reunir para avaliar a situação. A OMS garante que, por enquanto, não há na agenda a possibilidade de que o encontro declare o fim da pandemia.
Para a entidade, o inverno no Cone Sul nos próximos meses e o comportamento do vírus serão fundamentais para que se tome uma decisão. Um dos alvos de maior atenção será o sul do Brasil, além da Argentina e do Chile. "O vírus ainda pode ser uma ameaça significativa à medida que caminhamos em direção ao outono e inverno (no Hemisfério Sul)", afirma Keiji Fukuda, chefe da divisão de influenza na OMS.
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil mantém, até o momento, todas as ações da estratégia para enfrentamento de uma possível segunda onda da gripe pandêmica. A vacinação começa em 8 de março e a expectativa é imunizar pelo menos 62 milhões de pessoas. Nos países ricos, no entanto, milhões de vacinas compradas acabaram encalhadas, enquanto o vírus acabou se mostrando mais suave do que o previsto.
Parlamentares europeus questionam os motivos da declaração da pandemia e a OMS está sendo obrigada a rever suas regras. Para especialistas da entidade, que pedem anonimato, a estratégia da organização a partir de agora é a de reconstruir sua credibilidade. A estratégia de comunicação, a tática política e a orientação científica seriam optar por um período de transição e, em alguns meses, anunciar oficialmente o fim da pandemia.
Sem mudanças na prática
No Paraná, o secretário de estado da Saúde, Gilberto Martin, afirma que, na prática, a avaliação da OMS não gera mudanças por enquanto e que a vacinação está mantida. "Não é por decreto que a doença vai deixar de existir." O Paraná foi o estado do Brasil com maior taxa de mortalidade por gripe A (H1N1) a cada 100 mil habitantes, com 294 mortes e 63.893 casos confirmados.
O infectologista Stefan Cunha Ujvari, autor do livro A História da Humanidade Contada pelos Vírus, concorda que a avaliação da OMS não traz mudanças na prática. "É um plano estratégico para que as nações todas fiquem atentas, cubram aeroportos e portos, para que fiquem fiscalizando fronteiras. Na medida em que decretam o fim da pandemia e a gripe A (H1N1) passa a ser sazonal, a conduta dos governos não muda, continuam com cobertura adequada, vacinação."



