
Cada vez mais, as brasileiras têm adiado a decisão de ter filhos, deixando para engravidar depois dos 30 anos. De acordo com os mais recentes dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na última década o número de mães com idade entre 30 e 34 anos subiu 2,4%. Neste mesmo período, as mulheres que tiveram filhos com idade entre 35 e 39 anos passou de 6,7% para 8% do total no país, enquanto o número de mães com 40 anos ou mais subiu de 1,9% para 2,3%. Enquanto isso, as gestações até os 24 anos tiveram uma queda de quase 5% nesta década.
Na opinião do ginecologista e obstetra Marcelo Guimarães, do Hospital Evangélico, referência em gestações de alto risco, as mulheres vêm deixando para engravidar somente depois que sua carreira profissional ou situação financeira estão estabilizadas. O problema é que, mesmo com os avanços na tecnologia, a gravidez adiada ainda oferece diversos riscos à mãe e à criança.
De acordo com o chefe do Setor de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Santa Cruz, Dilermando Pereira de Almeida Filho, a chamada "gravidez tardia" depois dos 35 anos é classificada como de alto risco por comprometer a saúde da gestante e também a qualidade do embrião. Hipertensão e diabete podem ser desencadeadas nesta idade caso a mulher tenha predisposição genética ou histórico familiar dessas doenças. Tanto uma como a outra são situações que podem adiantar o término da gravidez. "Isso não significa que a gestante, necessariamente, vá entrar em trabalho de parto antes, mas, devido a complicações que essas doenças podem provocar, como a pré-eclâmpsia, o médico pode optar pelo adiantamento do parto para salvar o bebê, a mãe ou até ambos", explica Dilermando.
Fertilidade
O médico Marcelo Guimarães ressalta que a fertilidade feminina, intimamente relacionada à idade da mulher, também pode ser prejudicada em uma gravidez tardia. O obstetra explica que as mulheres nascem com uma quantidade de óvulos determinada. "Mas a natureza é sábia e vai usando os óvulos de melhor qualidade antes. Por isso, engravidar depois dos 30 anos é um jogo de sorte: quanto mais perto da menopausa, menos chances a mulher tem de engravidar e manter a gestação", diz.
O diretor médico e técnico do Centro de Medicina Reprodutiva Huntington Curitiba, Francisco Furtado Filho, esclarece que o pico reprodutivo feminino ocorre por volta dos 28 anos, quando a mulher tem 25% de chances de engravidar por mês. Depois disso, a possibilidade diminuiu a cada ano (veja box). Como os óvulos têm um prazo de validade, o conteúdo genético deles também já não é tão bom aos 35 anos. Isso pode provocar alguma falha e resultar em uma má-formação do bebê. A mais comum delas é a síndrome de Down.
Levando essas informações em conta, a mulher que planeja sua gravidez tardia pode ter mais chance de engravidar e de garantir uma gestação mais segura e saudável para ela e o bebê. A mãe pode fazer um check-up rigoroso, para identificar doenças, e atualizar vacinas, contra rubéola e hepatite, por exemplo. Pode também corrigir uma eventual anemia que certamente vai piorar com a gestação. "A ideia é investigar o histórico da mãe para propor um dieta, atividade física e cuidados específicos", diz Guimarães.
Dilermando afirma que, com o planejamento, o médico pode recomendar o ácido fólico, uma vitamina a partir do complexo B, para diminuir o risco de má-formação. Além disso, a técnica de concepção assistida de indução da ovulação através de medicamentos pode ajudar a melhorar a fertilidade feminina. Estima-se que 60% das mulheres conseguem engravidar com esse tratamento, mas as chances diminuem com o passar dos anos.



