
O câncer de colo de útero, o terceiro tumor que mais atinge as mulheres brasileiras, tem sofrido um revés entre as curitibanas: nos últimos 15 anos, a taxa de mortalidade na capital caiu 38% e atingiu o menor índice histórico. Em 1996, a mortalidade era de 10 para cada 100 mil mulheres, com 77 mortes; no ano passado, a taxa era de 3,8 mulheres para o mesmo grupo de 100 mil, com 35 óbitos, de acordo com dados do Sistema Único de Saúde (Datasus).
O índice ainda é alto se comparado com outros países ricos, de acordo com dados divulgados pelo International Cancer Screening Network, ligado ao Instituto Nacional do Câncer, nos Estados Unidos. No Reino Unido, a taxa é de 2 a cada 100 mil, no Canadá, 1,9; nos Estados Unidos, 1,7; e na Itália, 1,5. Apesar disso, a rapidez com que o índice caiu no Brasil pouco mais de uma década , é uma boa notícia.
Disseminação
De acordo com o médico oncologista do serviço de Ginecologia e Mama/Patologia Cervical do Hospital Erasto Gaertner (HEG) Carlos Afonso Maestri, a disseminação do exame preventivo foi o maior responsável pela queda. O procedimento, também conhecido como papanicolau, se disseminou entre a rede pública de saúde de Curitiba a partir de 1997, quando a capital foi uma das seis escolhidas para implantar um programa piloto do governo federal chamado Viva Mulher.
"Estamos colhendo o fruto do que foi feito lá atrás, quando foi estabelecida uma política pública de saúde para a área. Isso criou na população feminina o hábito de fazer a prevenção, desde escovar os dentes até fazer o papanicolau", diz Maestri. Naquele ano, o governo estipulou metas a respeito da quantidade de exames que deveriam ser feitos pelo menos 80% da população-alvo (entre os 35 e os 60 anos) e os agentes de saúde passaram a se preocupar em cumpri-la.
"Para cumprir as metas, foi criado um sistema de busca ativa para ir ao encontro das mulheres. Toda vez que ela ia ao posto de saúde, fosse para levar o filho para uma consulta ou para checar a pressão alta, o diabete, o médico a convidava a fazer o teste", relembra o oncologista e mastologista do HEG José Clemente Linhares. A simplicidade e rapidez do teste, que custa apenas R$ 6, ajudaram: foi possível realiza-los nos postos de saúde dos bairros, ao invés de em hospitais.
Hoje, além do câncer de colo de útero, o programa também abrange o de mama, e quando uma mulher vai ao médico em busca da guia para uma mamografia de rotina, é abordada sobre o papanicolau (e vice-versa). O grande desafio é levar este exemplo para outras cidades do estado. O Paraná ainda apresenta uma mortalidade alta, de 5,3 por 100 mil mulheres, semelhante à da Malásia (5,6) e Hungria (5,8).
Brasil discute vacina contra o HPV
Está em discussão no país a adoção da vacina contra o HPV (vírus do papiloma humano que causa o câncer do útero) no calendário oficinal de imunização. Atualmente, um projeto de lei (PL) que propõe imunizar meninas de 9 a 13 anos está tramitando na Câmara dos Deputados. O PL nº 4483/12 já recebeu parecer favorável na Comissão de Assuntos Sociais do Senado.
O Distrito Federal se adiantou e irá vacinar meninas de 11 a 13 anos matriculadas na rede pública distrital a partir de março, mediante autorização dos pais. Para ser efetiva, a vacinação deve ocorrer antes do início da vida sexual, já que o contágio pelo vírus se dá por meio do contato com o órgão sexual e regiões ao redor do ânus e períneo.
O governo federal, por outro lado, tem se colocado contra uma vacinação em massa. Segundo o Planalto, a vacinação custaria muito aos cofres públicos hoje, cada dose sai por R$ 300, e são necessárias três. Além disso, o governo sustenta que o teste de papanicolau é o que mais apresenta benefícios, uma vez que é barato e, se feito todo ano, permite detectar as lesões em sua fase pré-cancerosa.
O oncologista Carlos Afonso Maestri discorda. Ele afirma que sai muito mais caro tratar a lesão do que vacinar as meninas, e que se o governo usar a vacina em larga escala, conseguiria reduzir o valor da dose para R$ 50. "Não poderemos vacinar todas as mulheres. Mas se vacinarmos, todo ano, apenas as que têm 11 anos, em alguns anos teremos uma longa faixa de mulheres vacinadas. E elas serão poupadas do tratamento".



