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Tabagismo

Pela retirada do açúcar no cigarro

Entidades médicas alertam que inalação do produto aumenta riscos de lesões hepáticas e câncer

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Há duas semanas, um debate na diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deu fim a uma polêmica que se arrastava por anos e baniu os cigarros com adição de aromas e sabores no Brasil. Para os consumidores, os efeitos da medida devem ser sentidos daqui a um ano e meio, prazo que a entidade estipulou para que produtos mentolados e com sabores, como cravo e chocolate, sejam tirados de vez das prateleiras.

Para os médicos, a medida é importante, mas a redução do número de fumantes ainda depende de pelo menos mais uma decisão. "Essa foi uma vitória importante, mas não é motivo de comemoração porque a Anvisa só fez sua obrigação, que é cuidar da saúde pública, e ainda manteve a adição de açúcar nos cigarros, um tema que igualmente preocupa os médicos", diz Marcos Nasci­mento, professor do curso de Medicina da Pontifícia Univer­sidade Católica do Paraná.

A preocupação se baseia em uma série de estudos que associam a inalação do açúcar queimado, dispersado pela fumaça do cigarro, a um aumento nos casos de câncer entre fumantes. Isso porque, quando se queima o cigarro, os níveis de liberação de calor chegam a 800 a até 1.000 graus Celsius. Nessa temperatura, o açúcar se torna aldeído, uma substância que provoca dependência e está associada a danos sérios na estrutura das células, principalmente lesões hepáticas e vários tipos de câncer.

O fato de a substância ser consumida em forma de fumaça ainda rende outras complicações. "Tanto o fumante quanto as pessoas em volta acabam ingerindo pelas vias aéreas uma bomba de radicais livres, que vão acelerando o processo de oxidação do organismo. Entre as consequências, estão desde o aspecto da pele, que passa a ser seca e enrugada, até o risco de desenvolver neoplasias."

As entidades médicas devem se mobilizar em breve para pedir a retirada das taxas de açúcar do cigarro, assim como fizeram com os saborizantes e aromatizantes. "O açúcar pode até parecer inofensivo, mas se torna agressivo e perigoso quando combinado com o cigarro, e a população precisa ser alertada", diz o coordenador da Comissão de Combate ao Tabagismo da Associação Médica Brasileira, Antonio Pedro Mirra.

Outro problema é o aumento da dependência. "Acrescentado ao cigarro, o açúcar tira o sabor amargo, característico da folha de tabaco depois de processada, e deixa o vício literalmente mais gostoso. Com isso, a pessoa fuma cada vez mais, ampliando sua dependência e os danos ao organismo."

A coordenadora da Comissão de Tabagismo da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisio­logia, Maria Vera Castellano, destaca que o consumo também causa problemas respiratórios e cardiovasculares, doença pulmonar obstrutiva crônica, câncer, enfarte, AVC e cerca de 50 outras doenças.

Jovens

O vício entre os jovens é outro ponto que causa preocupação. Nascimento cita uma pesquisa produzida pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, que mostrou que as primeiras experiências dos adolescentes brasileiros são com cigarros saborizados. "Cerca de 60% dos meninos e 52% das meninas disseram ter começado a fumar com cigarros mentolados e não são raros os casos em que os saborizados abrem caminho para o consumo dos tipos comuns."

Educação e controle à redução do tabagismo

Para os especialistas, as medidas para redução das taxas de tabagismo no Brasil já estão rendendo frutos, principalmente em relação à regulamentação das propagandas envolvendo cigarro na mídia e à proibição de fumo em locais fechados. No entanto, ainda há muito a ser feito. O primeiro passo, segundo o professor do curso de Medicina da PUCPR Marcos Nascimento, é o investimento em educação e conscientização. "As pessoas precisam saber que tabagismo não é hábito, é uma doença psiquiátrica relacionada a um vício que, além da dependência, causa uma série de problemas de saúde graves e pode levar à morte."

Outra medida seria monitorar os pontos de vendas. "Por que a pessoa vai ao supermercado ou à padaria e tem que ver os cigarros no caixa? É preciso moralizar esse processo e deixar de expor os consumidores, principalmente crianças e jovens, de maneira tão cotidiana ao cigarro." O professor cita o exemplo de medidas tomadas na Austrália. "Por lá, os cigarros foram retirados dos pontos de vendas e ficam fechados em uma caixa, em um local sem destaque. As embalagens são cinza ou verde-oliva, o que também faz com que chamem menos a atenção."

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