
O transtorno de humor bipolar é uma doença da qual ainda não se sabe muito sobre as causas e não há exames que possam comprovar o diagnóstico. Um dos mistérios que os pesquisadores estão desvendando são os danos cerebrais causados pela doença. Uma pesquisa realizada no Hospital de Clínicas de Porto Alegre indica que episódios recorrentes do transtorno tendem a causar uma redução de volume em certas áreas do cérebro, como o hipocampo, responsável pela memória.
“Mas isso não ocorre com todos. Alguns exames, particularmente a ressonância magnética, é que ajudam a fazer essa distinção”, diz o psiquiatra Flávio Kapczinski, professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador do Programa de Tratamento do Transtorno de Humor Bipolar do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Kapczinski estuda as bases biológicas do transtorno e faz parte do grupo de pesquisadores do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Os prováveis danos causados ao cérebro pelos episódios constantes da doença reforçam ainda mais a importância da adesão ao tratamento. “Até pouco tempo atrás não se considerava o transtorno bipolar uma doença que causasse danos cerebrais. Hoje já se sabe que pode deixar uma sequela”, reitera a psiquiatra Helena Maria Calil, ex-presidente da Associação Brasileira de Amigos, Familiares e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata) e com longa atuação na área.
Para Doris Hupfeld Moreno, psiquiatra e pesquisadora do Grupo de Doenças Afetivas do Instituto de Psiquiatria do Hospital de Clínicas da USP, todo paciente para o tratamento ao menos uma vez na vida, o que faz do conhecimento do transtorno algo essencial para as pessoas. “Para todas as doenças crônicas, a adesão é um problema. Por isso, faz parte do tratamento entender os sintomas. Todos param o tratamento alguma vez. Cada um precisa “apanhar” da doença, para, aos poucos, aprender a se tratar. É um processo”, diz.
Tratamento
Para ficar bem, o paciente de transtorno de humor bipolar precisa se conscientizar de que, depois do diagnóstico, não deve mais abandonar a medicação e, também, fazer mudanças no estilo de vida. A doença tem forte componente genético – nos casos em que um familiar de primeiro grau tem o transtorno, aumenta-se de 1% para 10% os riscos de ter a doença –, mas também pode ser influenciada por muitos fatores ambientais. Sono desregulado, estresse, uso de drogas e abuso de álcool podem ajudar a desencadear crises.
“O que a gente trabalha com os pacientes é que o estilo de vida tem de sair do sedentarismo e se aproximar muito do atlético, como se fosse se preparar para uma competição, com uma dieta regrada, horários regulados, trabalho regular”, diz Flávio.
A família pode ajudar no diagnóstico porque será quem contribui nas informações do histórico da pessoa. Mas também tem papel importante no acompanhamento do tratamento.
“Em primeira instância, vem o medicamento, mas, em geral, associações de familiares conseguem cumprir uma parte que nosso sistema de saúde não cumpre. Elas ajudam a pessoa a conviver melhor com a sua doença. Para que a aceite melhor, por meio de palestras psicoeducacionais e grupos de autoajuda”, complementa Helena.



