
Tentar vencer o relógio a qualquer custo e sem justificativa plausível é bastante prejudicial à saúde de qualquer um. Imagine para quem se torna um apressado em tempo integral. De acordo com a ciência, pessoas assim não conseguem diminuir o seu ritmo nem em momentos de relaxamento e vivem em estado de alerta. No Brasil, 33% da população se encaixa neste perfil. Eles sofrem da chamada Síndrome da Pressa.
"O organismo de uma pessoa constantemente apressada libera mais adrenalina e cortisol [hormônios relacionados ao estresse] na corrente sanguínea. Ela pode apresentar problemas como hipertensão arterial e alteração na frequência cardíaca", revela a psicóloga especialista em estresse e coordenadora do International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR), Ana Maria Rossi.
A situação pode parecer um problema dos tempos modernos, mas a síndrome começou a ser estudada em 1950 por cardiologistas americanos. Segundo a especialista, a pressa em excesso nunca foi considerada uma doença: na verdade, é um comportamento que precisa ser controlado, pois faz com que o apressado sofra com ansiedade e angústias.
"Hoje em dia o problema é mais oportuno, pois vivemos em uma sociedade onde esse tipo de comportamento é cada vez mais comum", observa Ana. Ela descreve o apressado como uma pessoa que quer tudo para ontem, não aguenta esperar em filas ou no sinal vermelho e se irrita com quem tem um ritmo mais lento. "O comportamento de quem sofre com a síndrome às vezes chega a ser patético", opina.
Quem sofre com a pressa excessiva, geralmente, são pessoas vistas como muito ocupadas e com grandes responsabilidades. "A sociedade tem uma visão preconceituosa e acha que se comportar dessa forma faz parte", diz o psicólogo do trabalho e coordenador do curso de Psicologia da Universidade Positivo, Raphael di Lascio. Estas desculpas são comuns, segundo ele, mas não são justificativas para encarar as ações do apressado como algo natural.
Tratamento
Um dos problemas para tratar a síndrome da pressa é a falta de reconhecimento do apressado sobre sua condição: "A pessoa não se dá conta do problema, nem percebe que existe algo errado. Quando é alertado, nega e diz que aquele é seu ritmo de vida", explica Ana Maria.
Quando o problema é percebido, o modo mais eficiente de mudar o comportamento é entrar em contato com a irritação e a impaciência para controlá-las. "Caso a pessoa se pegue com pressa, que ela avalie o motivo da correria e diminua o ritmo. Diante de um semáforo vermelho, por exemplo, que se obrigue a reduzir a marcha em vez de seguir o impulso de furá-lo", aconselha Ana. Afinal, a ciência mostra que na corrida contra o relógio não há como vencer.
Marques, apressado desde sempre
O bancário Diego Reguero Marques, 30 anos, não se lembra de um dia sequer em sua vida em que ele tenha deixado a pressa de lado. Ao abrir os olhos pela manhã ele já se pega programando o que vai fazer durante o dia e pensando qual trajeto irá percorrer para chegar mais rápido aos seus compromissos.
A consequência de tamanha aceleração foi sentida na balança: ainda que tivesse uma hora de almoço por dia, Marques fazia questão de vencer o buffet e a refeição em apenas 15 minutos para não "perder tempo" (e assim aproveitar os raros minutos de descanso). "Hoje eu procuro me policiar mais, pois, em quatro anos, saí de 72 kg para 120 kg", conta o bancário, que hoje pesa 100 kg.
No trabalho, ele confessa preferir acumular algumas tarefas e resolvê-las sozinho em vez de delegá-las para pessoas que possuem um ritmo mais tranquilo. A inquietação é grande também em conversas truncadas: "Costumo completar as falas de terceiros até quando a conversa não é comigo", confessa.
Marques nunca procurou ajuda para mudar seus hábitos, mas, para aliviar o cansaço que prejudica o corpo e a mente depois de tanta correria, ele, ao menos, conta com a atenção profissional em casa sua esposa, educadora física, incentivou a perda do peso adquirido nesta correria.



