
O sequenciamento do genoma humano, que identificou 99% dos 100 mil genes do corpo humano e que terminou em 2003, criou uma série de possibilidades. Hoje, já se conhecem centenas de genes ligados a doenças, desde as que causam tumores e paralisias a distúrbios psicológicos e envelhecimento precoce. Com isso, há cada vez mais pessoas que, a um custo que varia de US$ 399 a US$ 2,5 mil, realizam testes genéticos para descobrir se possuem algum gene com predisposição para determinadas doenças.
Mas essa revolução que já chegou aos consultórios e até às casas das pessoas hoje é possível coletar o material biológico em domicílio (em geral, a saliva) e enviá-lo a laboratórios que farão o teste trouxe uma série de dúvidas éticas. Que garantia teremos de que essas informações tão detalhadas sobre nosso organismo não cairão nas mãos de pessoas de má-fé? Até que ponto é possível preservar a identidade dos testes?
O debate se tornou particularmente agitado há um mês, após um grupo de pesquisadores ligados ao MIT (Instituto de Tecnologia de Massachussets), nos Estados Unidos, publicar a informação de que conseguiu identificar cinco pessoas que haviam doado, anonimamente, suas fitas de DNA sequenciadas.
Tudo que os pesquisadores precisaram fazer foi cruzar as informações do DNA (que são únicas, uma espécie de receita singular de cada ser humano) com dados obtidos em sites de genealogia encontrados por meio de pesquisas no Google. Isso é possível porque todo homem recebe de seu antepassado masculino espécies de marcadores que só estão presentes no cromossomo Y, padrões que se repetem em partes do DNA de todos os homens da mesma linhagem.
Hoje, um homem pode enviar amostras desse marcador e assim compará-lo com o de outros homens e descobrir se possuem os mesmos marcadores e, portanto, se são parentes. Os pesquisadores então pegaram toda a sequência de um homem que doou informações de seu DNA só se sabia sua idade e estado onde morava , procuraram por todos os seus marcadores, jogaram a informação no site, com base no estado de residência do doador, e encontraram nome e sobrenome. Depois, identificaram também seus antepassados.
Temor
Essa descoberta gerou o receio de que, em breve, informações desse tipo venham a ser vendidas para empresas (como companhias de seguro de vida ou de saúde e empregadores em geral), e que informações sobre predisposições a determinadas doenças venham a ser usadas contra os doadores do material, numa situação semelhante à dos portadores de HIV. Nos anos 90, testes de sangue foram obtidos ou realizados por empresas nos Estados Unidos e utilizadas para discriminar os soropositivos.



