A medicina que tenta retardar o processo de envelhecimento dos humanos não tem dados científicos que comprovem a sua eficácia. Esta é a principal conclusão da pesquisa elaborada pelo professor doutor Milton Luiz Gorzoni, médico especialista em geriatria do Hospital Geriátrico e de Convalescentes D.Pedro II e do Hospital Central, de São Paulo. "Pesquisas sérias estão em fase de experimentação em animais de laboratório. É temeroso inferir que seus resultados serão semelhantes na biologia humana". Para a revisão, feita em parceria com a professora Sueli Luciano Pires, foram analisados 110 artigos publicados em periódicos de diversos países e reunidos no portal da United States National Library of Medicine.
Há evidências científicas da eficácia da medicina antienvelhecimento?
Não, porque há falta de estudos com metodologia adequada em seres humanos. As pesquisas sérias encontram-se em experimentação em animais (inclusive insetos e vermes) de laboratório, sendo temeroso inferir que seus resultados serão semelhantes na biologia humana.
A medicina pode evoluir para que existam estas evidências científicas?
Somente se surgirem estudos com a participação de números significativos de seres humanos, divididos em grupos com uso de tratamentos e/ou de placebos, de forma randomizada (sorteios ao acaso) e duplo-cego (nem o pesquisador nem o pesquisado sabem em que grupo tratamento ou placebo o pesquisado se encontra). Este padrão de pesquisa clínica, se fosse iniciada neste ano, demoraria mais de uma década para chegar a respostas positivas ou negativas sobre alguns dos vários tratamentos propostos.
Na pesquisa, o senhor diz que associações de classe, convênios médicos ou seguros-saúde não reconhecem, no Brasil, a medicina antienvelhecimento como especialidade médica. Em outros países há o reconhecimento?
Até onde eu saiba, não. O texto, publicado em revista nacional, contextualizava a medicina antienvelhecimento no Brasil.
O que explica este fato da medicina antienvelhecimento não ser reconhecida no Brasil?
Pela ausência de bases médico-científicas para tanto.
Como o senhor vê quem defende a medicina antienvelhecimento?
Embora sempre se deva respeitar posições divergentes, há de se debater em quais bases clínicas coloca-se dados de animais de laboratório na prática médica cotidiana. Os pacientes concordariam com o tratamento ao saber que estão se expondo a procedimentos sem respaldo científico para o uso em humanos?
Por que as pessoas confiam que, de alguma forma, é possível retardar o processo de envelhecimento?
A presente sociedade vende a ideia de que "estar de bem com a vida" é aparentar eterna juventude e não assimilar a ideia de envelhecer com dignidade. Muitas pessoas temem a velhice pela proximidade da morte, pelo risco de dependências ou até pelo aspecto negativo do envelhecimento no atual contexto social.



