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Psiquiatria

Quando a busca pela saúde se torna uma doença

Ligadas a dois comportamentos desejáveis, a alimentação saudável e a prática de exercícios físicos, ortorexia e vigorexia causam sofrimento psíquico e podem ter efeitos físicos

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A busca por uma vida saudável pode se transformar em dois problemas psiquiátricos sérios e de difícil diagnóstico: a vigorexia e a ortorexia. O primeiro é mais conhecido e se trata da obsessão pelo corpo perfeito, com músculos bem definidos, o que gera uma prática intensa de exercícios físicos. O segundo ainda não foi reconhecido pela Organização Mundial de Saúde, mas é investigado há mais de uma década e se trata da busca por uma alimentação livre de elementos considerados nocivos, como corantes, aromatizantes, conservantes, pesticidas, açúcares e gorduras.

Ambos geram sofrimento psíquico para a pessoa e podem ter efeitos físicos, como queda de imunidade e perda de alguns nutrientes importantes, por causa da dieta extremamente restrita, do excesso de exercícios e do uso de anabolizantes. O primeiro alerta é quando o que parecia ser um comportamento normal começa a afetar a vida social da pessoa e causa um forte estresse por se tornar a principal preocupação do indivíduo.

"No momento em que há perdas em outras áreas importantíssimas, como na vida social e no trabalho, é preciso ficar atento", comenta o psicoterapeuta Tônio Luna.

O psiquiatra Alexandre Karam Mousfi, do Hospital de Clínicas de Curitiba, dá exemplos do que podem ser sinais da ortorexia e da vigorexia. "Perder muito tempo controlando a alimentação ou em academias, causando interferência nas atividades laborais, de lazer ou nos relacionamentos interpessoais. Ou adotar práticas que trazem consequências negativas para a saúde, como o uso de esteróides e anabolizantes."

Tratamento

Integrante do Programa de Atenção aos Transtornos Alimentares (Proata) da Uni­­versidade Federal de São Paulo (Unifesp), o psiquiatra Glauber Higa Kaio afirma que quem possui um quadro de ortorexia ou vigorexia não costuma buscar tratamento por causa desses comportamentos especificamente. "A queixa normalmente é outra. No caso da vigorexia, por exemplo, o indivíduo ou familiares vêm em busca de tratamento para um quadro de bipolaridade ou de irritabilidade muito grave. Aos poucos é que vamos descobrindo qual o real problema", diz Kaio, que também faz parte da equipe de Cirurgia Bariátrica do Hospital de Clínicas da UFPR.

De acordo com Luna, é essencial a participação das pessoas próximas ao doente para que o tratamento do transtorno avance. "Trabalhamos muito com a família ou grupo de amigos para que o tratamento funcione", diz. Além do trabalho em consultório, normalmente o tratamento desses comportamentos envolve medicamentos e exige um acompanhamento multidisciplinar.

Prevalência

Por ainda não ser considerada um transtorno alimentar oficialmente, não existem estatísticas sobre a ortorexia. Segundo o psiquiatra Glauber Higa Kaio, do Programa de Atenção aos Transtornos Alimentares da Universidade Federal de São Paulo, existe um estudo que indica a prevalência desse comportamento entre homens de 20 a 45 anos. No caso da vigorexia, estudos indicam que a prevalência é entre os homens mais jovens, entre 15 a 30 anos.

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