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O estudante Rodrigo Batista abusava dos lanches e frituras. Depois da gastrite, passou a comer mais saladas e frutas | Priscila Forone/Gazeta do Povo
O estudante Rodrigo Batista abusava dos lanches e frituras. Depois da gastrite, passou a comer mais saladas e frutas| Foto: Priscila Forone/Gazeta do Povo

Má alimentação aumenta casos de câncer

A alimentação desregrada mostra seus efeitos também na incidência de doenças ainda mais graves, como o câncer. Os tumores de esôfago por adenocarcinoma – um tipo que há algumas décadas era incomum – são um triste exemplo. Ele atinge o canal que leva o alimento ao estômago. Pesquisas americanas apontam que as ocorrências cresceram cinco vezes nos últimos 30 anos nos Estados Unidos. No Reino Unido, a incidência desse câncer sobe 2% a cada ano. E a expectativa é de que continue nessa progressão.

Os dados foram apresentados no início do ano, durante o 7.º Simpósio de Câncer Gastrointes­tinal, em Orlando, nos Estados Unidos. Uma das participantes do evento, a oncologista e diretora do Centro de On­­cologia do Paraná, Monica Stramare Pereira, aponta que os cientistas relacionam o aumento à alimentação e estilo de vida modernos. "Cons­tatou-se que isso tem ocorrido em regiões desenvolvidas e onde a população apresenta sobrepeso", diz. O Brasil pode estar no mesmo caminho, alerta a profissional.

Alimentação

Segundo Mônica, o consumo excessivo de gordura e açúcar são os principais vilões dos tumores de esôfago. "Pessoas com essa dieta tendem a ultrapassar o peso ideal. Isso aumenta a pressão intra-abdominal e causa o refluxo. Essa secreção ácida irrita o esôfago e pode evoluir para um câncer", explica. Ao sentir sinais de doenças relacionadas ao excesso de acidez nessa região, principalmente queimação, a oncologista indica uma consulta médica imediata.

A dona de casa Maria Terezinha Jardim é vítima desse tumor. Por anos, ela conviveu com sintomas de azia que iam da garganta ao estômago. "Tinha as dores, mas demorei para ir ao médico. Pensava que não era nada sério. Até que descobri, há alguns anos, estar com úlcera", diz. Em fevereiro deste ano, uma notícia ainda mais alarmante. Ela foi diagnosticada com câncer de esôfago – segundo os médicos, uma evolução dos problemas anteriores. "Hoje procuro corrigir a alimentação para auxiliar no tratamento da doença. Mamão, leite desnatado e verduras são minha rotina."

Campeões

Os tumores de esôfago somam-se a dois outros tipos também relacionados a má alimentação e com efeitos devastadores. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), os tumores de estômago e de intestino estão entre os cinco com maior taxa de letalidade em todo o mundo. O câncer de estômago (também chamado gástrico) é responsável pela morte anual de 1 milhão de pessoas. Já o de intestino (chamado cólon) faz 655 mil vítimas todos os anos.

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Responda depressa: com a correria diária, você costuma ficar sem almoçar? Na hora das refeições, troca o arroz e feijão por coxinha, x-salada ou outro fast-food? Prefere refrigerante a um bom copo de água e nunca resiste a um doce de sobremesa? Então cuidado, você está na rota dos problemas digestivos. Es­­tudos recentes apontam que prisão de ventre, gastrite, úlcera, refluxo e má digestão estão relacionados mais à chamada dieta do homem moderno, composta de gordura, açúcar e ácidos em excesso, do que propriamente aos problemas fisiológicos."Nos últimos anos, reduziu o número de pessoas que almoçam em casa ou preparam suas refeições e assim acabam optando por alimentos mais práticos e, geralmente, mais gordurosos, como os pré-cozidos, enlatados ou mesmo os fast-foods", diz Deborah Malta, coordenadora-geral do setor de Doenças e Agravos Não-transmissíveis do Ministério da Saúde. Segundo a especialista, esses alimentos têm pouco valor nutricional e são cheios de componentes venenosos para o organismo.Ela se baseia em um estudo divulgado há pouco mais de um mês pelo Ministério, que comprova o que há muito se especulava: 76% dos adultos brasileiros bebem refrigerante ao menos uma vez na semana e 42% das crianças bebem todo dia. A bebida tem ácido e açúcar em excesso, o que pode levar à gastrite e refluxo. E mais: o leite com teor integral de gordura está na mesa de 58% dos brasileiros ao menos cinco vezes na semana. Enquanto isso, alimentos saudáveis como o feijão, rico em fibras e vitaminas, estão sendo menos consumidos – 65% dos brasileiros comem mais de cinco vezes por semana; em 2006, eram 71,9%.Essa é a principal explicação para dados alarmantes da Fede­ração Brasileira de Gastroen­terologia. Se­­gundo um relatório de 2008, cerca de 35 milhões de pessoas sofrem de constipação intestinal (prisão de ventre) no Brasil – mais de um em cada cinco brasileiros. É a doença mais comum. Dispepsia (má digestão), gastrite, refluxo e úlcera também integram a lista das mais incidentes. De 2008 para cá, nenhum outro grande estudo foi realizado. Mas nos consultórios os médicos apontam que as coisas só pioraram.

O gastroenterologista Rodrigo Strobel, do Hos­pital das Nações, defende que, embora essas doenças sejam multifatoriais e dependam também de uma mãozinha da genética, a alimentação errada é o fator determinante para que aconteçam. "Antes não se atendiam tantos casos de refluxo, por exemplo. Hoje, com o país cheio de obesos, essa doença chega a ser responsável por 40% dos atendimentos em meu consultório", diz.

O estudante Rodrigo Batista, de apenas 23 anos, representa bem esse novo perfil de alimentação. Quando entrou na faculdade, teve de conciliar o horário de estudos com o do trabalho. Faltou tempo para as refeições. "Passei a não comer nos horários em que deveria e substituí o arroz pelos lanches. Várias vezes comi apenas x-salada durante o dia. Outras vezes, acordava e fazia um macarrão instantâneo no lugar do café da manhã", conta.

O resultado era de se esperar. O estudante desenvolveu gastrite. "Passei a sentir muita queimação e desconforto", conta. Atualmente tem uma dieta cheia de frutas e verduras e sem nada de refrigerantes, temperos apimentados e condimentados, ou com gordura.

Para mudar o quadro, concordam os especialistas, é preciso uma dieta saudável, praticamente livre dos ingredientes inimigos. Confira as sugestões para evitar problemas como constipação intestinal, gastrite, úlcera, refluxo e dispepsia.

Constipação intestinal

Caso não seja um problema fisiológico – que exija cirurgia –, a popular prisão de ventre pode ser amenizada e até extinta com o aumento de consumo de fibras. Elas formam uma pasta no intestino, que facilita a passagem das fezes. Esses elementos são encontrados principalmente em verduras, frutas e grãos. Entre 25 e 30 gramas (duas maçãs, por exemplo) por dia bastam. Além disso, é preciso água. Muita água! Para os homens, 2,5 litros (12 a 13 copos por dia) e para mulheres dois litros (10 copos).

Para quem tem esse desconforto, é indicado fugir dos laxantes. Iogurtes e probióticos, por sua vez, são aliados. Retêm água no intestino e facilitam a evacuação.

Gastrite e úlcera

Ambas são causadas por uma bactéria que ataca a mucosa (revestimento) do estômago. Porém, para que ela aja, precisa de um ambiente propício para isso: com muita acidez.

Para fugir das doenças, é preciso redução drástica no consumo de alimentos excessivamente ácidos. Refrigerantes e sucos em pó, temperos de gosto acentuado, como cebola e alho, enlatados e embutidos costumam ter muito dessa característica. Evite-os. Prefira os alimentos frescos e com condimentos de gosto menos intenso. Saladas pouco temperadas, o tradicional arroz e feijão e alimentos ricos em vitamina A, C e E são as melhores opções para diminuir a acidez. Para beber, o melhor é água e sucos naturais – se forem cítricos, devem ser consumidos em menor quantidade, como dois copos por dia.

Refluxo gastrofágico

É a volta do bolo alimentar pelo esôfago, marcado por uma queimação (azia) na garganta. Assim como nas úlceras e gastrite, é a acidez estomacal que causa o desconforto. Porém, o grande vilão é a gordura. Segundo especialistas, o excesso de gordura abdominal é que enfraquece a válvula entre estômago e esôfago que regula a entrada e saída de alimentos.

Para evitar o refluxo, reduza o consumo diário de gorduras, principalmente animal. Mil calorias por dia deve ser o limite máximo – corresponde a um sanduíche fast food pequeno ou dois bifes fritos, por exemplo. Fuja das gorduras hidrogenadas, que não são dissipadas pelo organismo.

As bebidas alcoólicas também agem de forma negativa nessa região, apontam os gastroenterologistas. Reduzir seu consumo, assim como o de alimentos muito ácidos (incluindo café, chá preto e limonada suíça) são as medidas aconselhadas.

Dispepsia

É a má digestão – dificuldade do estômago em digerir um alimento ou a dor na hora dessa ação. Pode indicar a presença de uma outra doença, como a gastrite, úlcera e até mesmo câncer. Também pode ser resultado apenas de excesso de alimentação.

Para diminui-la, a recomendação é o uso de antiácidos (o recomendado é que não tenha ácido acetilsalicílico). Evite deitar-se. A melhor posição para facilitar a digestão é em pé ou inclinado (sentado com as costas encostadas em um travesseiro). Se a dor persistir, somente uma investigação médica será capaz de definir as suas causas.

Medicamentos: heróis ou vilões?

Se na hora de uma indigestão você recorre a um sal de frutas, ou nos momentos de dor e queimação não descarta o uso de anti-inflamatórios, saiba que essas atitudes podem agravar o seu desconforto digestivo. É que a maioria desses medicamentos tem ácido acetilsalicílico, que tende a se acumular no estômago. O resultado pode ser uma sensação de alívio, já que o componente ajuda a digerir o alimento que está causando a dor. A longo prazo, no entanto, pode resultar em mais dor e queimação.

O alerta é do gastroenterologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, Mauro Lafaete. Ele afirma que não há soluções milagrosas para os problemas digestivos. "Tudo parte de uma readequação alimentar. No tratamento de gastrite, por exemplo, usamos medicamentos específicos dependendo do grau, agente causador e intensidade. Mas eles também precisam de uma dieta correta para surtirem o efeito desejado."

Embora os problemas digestivos sejam tratados com seriedade e possam levar à morte ou a doenças ainda mais graves, como o câncer, os médicos concordam que o tratamento é simples e a cura possível, ainda que alguns casos sejam crônicos. "Hoje segue-se uma linha medicamentosa. Pratica­mente não se tem intervenções mais agressivas. Exemplo disso são as cirurgias de úlcera, que eram comuns antigamente e agora não são mais", diz o secretário-geral da Federação Brasileira de Gastroenterologia, Ricardo Barbuti.

As citadas úlceras, que antes eram as doenças com tratamento mais complexo, são hoje curadas com antibióticos que neutralizam o ataque da bactéria Helicobacter Pyroli (sua principal causadora), de acordo com o gastroenterologista.

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