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Labirintite

Quando o mundo gira

Vertigem, tontura e sensação de ouvido cheio. Os principais sintomas da labirintite são comuns também a outras doenças. Saiba como diferenciá-las

Ivana sente desconforto ao realizar algumas tarefas, como trabalhar no computador | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Ivana sente desconforto ao realizar algumas tarefas, como trabalhar no computador (Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo)

Imagine a cena: você está caminhando quando, de repente, perde o equilíbrio. O mundo parece girar e um zumbido passa a incomodar o ouvido. Agora, imagine essa sensação acompanhada de outros sintomas como enjoos, medo de altura e desvios ao andar. Esse é o diagnóstico inicial de uma das queixas mais presentes nos consultórios médicos brasileiros: a labirintite, nome como é conhecida na linguagem popular a disfunção que afeta o labirinto, órgão responsável pelo equilíbrio."Eu levantava e tinha a impressão de que estava andando reto, mas meu corpo ia para o lado", conta a secretária Ivana Hubsch. Ela descobriu que estava com labirintite aos 8 anos, quando começou a se afastar de brincadeiras que envolviam a necessidade de girar. Hoje, aos 37 anos, ela ainda sente desconforto ao realizar algumas atividades, como usar muito o computador e andar na parte de trás do carro ou nos bancos contrários do transporte coletivo. Ao deitar, tem a sensação de tontura. "Às vezes tenho de parar e ficar respirando bem calma para melhorar", afirma.Tida como principal sintoma das disfunções do labirinto, a tontura é também um dos maiores fatores de confusão durante a avaliação médica. Segundo a So­­cie­­dade Brasileira de Otologia (SBO), cerca de 40% da população do país já teve essa sensação em algum momento da vida. A otoneurologista Roseli Bittar explica a diferença. "Falar em tontura é difícil porque cada um tem uma definição. Há quem diga que se sente flutuando, outros ficam com a visão escura e dizem que as coisas estão fora do lugar. O que é chamado de labirintite são tonturas de característica rotatória ou vertigens", explica Roseli, que, além da SBO, também atua no Depar­­ta­­mento de Otoneurologia da Asso­ciação Brasileira de Otorrino­la­ringologia. Para evitar erros no diagnóstico, o neurologista Paulo Rogério Bittencourt aconselha aos pa­­cientes que mantenham contato com um médico de confiança, que conheça o histórico de saúde da família, e possa verificar com mais facilidade algumas causas do problema. "É preciso perceber se há uma causa relacionada, que pode ser cardíaca, neurológica, entre outras", afirma. Nas suspeitas de disfunção do labirinto, vale observar se os sintomas estão combinados. "A vertigem rotatória vem sempre acompanhada de náusea, vômito e desequilíbrio suficiente para incapacitar o andar."

Tratamento

Alguns exames são realizados para verificar se há disfunções no labirinto. Os mais comuns são o otoneurológico e a postografia, que observam a capacidade de audição e equilíbrio. Segundo a otorrinolaringologista Rita de Cássia Mendes, essa forma de avaliação também ajuda a descobrir as causas das tonturas e demais sensações. "Tratar apenas os sintomas pode causar problemas graves, porque o paciente não melhora e passa pelos efeitos colaterais da medicação", alerta. "Um pa­­ciente pode ter vertigem por duas, três causas. E tem de tratar todas elas."

Comprovado que o paciente tem uma labirintopatia, o tratamento é feito conforme cada caso. Atualmente, há técnicas que excluem os remédios e usam o treinamento do equilíbrio por meio de aparelhos e sessões de reabilitação vestibular, aplicadas por clínicas especializadas. "Hoje quase todas as disfunções têm solução", assegura Roseli.

Grupos e causas

Embora seja mais comum em idosos devido aos efeitos do envelhecimento, a "labirintite" pode atingir todas as faixas etárias – inclusive as crianças. Saiba as causas mais frequentes que podem colaborar para o desenvolvimento da doença em cada idade:

Crianças: enxaqueca e problemas hereditários estão entre os principaisfatores que levam a ocorrência de "labirintite" nos pequenos. Os pais devem ficar atentos. Se a criança apresentar constantemente enjoos em viagens e reclamar da falta de equilíbrio em brincadeiras comuns nessa faixa etária, como amarelinha, por exemplo, isso pode ser sinal de alguma disfunção no labirinto.

Jovens: a má alimentação é um dos principais gatilhos para quem já tem alguma predisposição à doença. Mas não é o único fator responsável pelo problema. Enxaquecas também estão entre as reclamações mais presentes nessa faixa etária.

Mulheres: devido às alterações hormonais, as mulheres têm mais chance de sentir vertigens e outros sintomas do que os homens. Mas é preciso ficar atento para perceber se essas mudanças têm efetivamente relação com problemas no labirinto – ou se são apenas efeitos temporários.

Idosos: entre os mais velhos, a preocupação com a labirintite é maior. A falta de equilíbrio, causada pelo envelhecimento natural do labirinto, pode acentuar o risco de quedas. "Você vai ficando cada vez menos sensível a estímulos de movimento", explica a otoneurologista Roseli Bittar.

Novas técnicas

Cinto contra o desequilíbrio

Há técnicas novas para o tratamento da labirintite que excluem o uso de remédios. Desde o fim do ano passado, a equipe da otoneurologista Roseli Bittar testa no Hospital de Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) um novo aparelho, produzido pela Universidade de Berlim, na Alemanha, e que visa corrigir disfunções do labirinto por meio do treinamento do equilíbrio.

O equipamento, chamado VertiGuard, consiste em um cinto com terminais sensíveis que emite sinais a cada deslize que o paciente comete em movimento. "Se você tem uma determinada lesão, a técnica é fazer exercícios para melhorar a concentração e o equilíbrio", explica Bittar. Caso seja aprovado, o VertiGuard pode vir a ser usado no dia a dia por quem sofre da doença. Devido a fase de testes, o aparelho ainda não tem preço -- tampouco a certeza de que vai ser colocado no mercado.

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