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Medicina

Queda de idosos: é possível prevenir

Fábio Feldman, PhD em biomecânica, professor da Simon Fraser University em Burnaby (Canadá) e gestor da área de prevenção de quedas e fraturas de idosos do sistema de saúde do governo canadense na província da Colúmbia Britânica

 | André Rodrigues / Gazeta do Povo
(Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo)

Desde 2007, o brasileiro Fabio Feldman tem sobre os ombros uma grande responsabilidade: desenvolver programas de prevenção para evitar quedas e fraturas entre os 200 mil idosos que vivem na província da Colúmbia Britânica, no Canadá. Por lá, a qualidade de vida dos idosos é levada a sério, uma vez que eles já representam 20% da população do país. Com o objetivo de ajudá-los a levar uma vida independente e ao mesmo tempo cortar gastos com internações, asilos e cuidadores domésticos, o sistema público de saúde da província, para o qual Feldman trabalha como manager, criou uma área só para tratar do assunto. São 86 asilos e três hospitais sob sua supervisão, o que exige, além do trabalho na rede pública, pesquisas constantes na Simon Fraser University (onde também leciona), visando a fazer uma ponte entre o conhecimento e a aplicação no dia a dia. Feldmann, que mora no Canadá desde 1996, conversou com a Gazeta do Povo durante sua passagem por Curitiba e discutiu ideias que podem ser aplicadas no Brasil, cuja população na terceira idade já ultrapassa os 10%.

Qual é o diferencial do Canadá no que se refere aos cuidados para evitar quedas entre os idosos?

Há muita ênfase na prevenção. Há uma área só para isso, que é onde eu atuo, tanto que se o idoso cai e faz uma fratura, já não é mais comigo. Ele vai para outro departamento, tratar com cirurgiões e ortopedistas. Então, fazemos de tudo para garantir sua qualidade de vida e evitar gastos para para o sistema de saúde. A mortalidade por quedas é muito alta – de 25% a 30% dos que caem fraturam a bacia e morrem em até um ano. É um custo muito alto para a pessoa pela dor, para a família e também para o Estado, uma vez que lá todo esse cuidado é provido pelo governo.

Como é feita essa prevenção?

Um exemplo são os programas de exercícios criados para a comunidade de 13 cidades, para os idosos mais frágeis. Criamos programas para os idosos que usam bengala ou andadores, que são os que mais têm a ganhar com os exercícios. Só podem se registrar nestes programas os idosos que são mandados pelos médicos ou através dos nossos hospitais. Porque antes, tratávamos esses idosos e não tínhamos para onde mandá-los para fazer exercícios. Era difícil fazer com que eles acompanhassem o ritmo dos mais ativos, eles tinham vergonha por não conseguirem fazer a mesma coisa. Então, fizemos um grupo em que todos estavam no mesmo nível. É um programa que ocorre duas vezes por semana, por uma hora. É feito um teste antes e outro depois, e percebemos que a resistência a quedas aumenta em torno de 80%.

Quais são os tipos de exercício?

São os de agilidade, que ajudam a melhorar o equilíbrio e a força muscular. Há um pouco de musculação também. Um dos melhores exercícios já comprovados é o tai chi chuan, que pode ser feito devagar, ajuda no equilíbrio e na coordenação motora. Muitos voltam a conseguir pentear o cabelo e se vestir, pequenas coisas que eles não podiam fazer porque haviam perdido a força.

Como essa mudança no perfil da população alterou o país e como o Brasil pode se adaptar em relação ao envelhecimento da população?

Lá, não existe mais entre os idosos esse complexo em relação aos andadores, por exemplo. Nos shoppings, há até estacionamento para eles. As calçadas são rebaixadas e o andador faz sucesso. As pessoas viajam e vão até aos cassinos usando andador. Você já não vê pessoas com bengala, pois o andador é uma evolução da bengala, é mais seguro e confortável. Há espaço para eles nos restaurantes, nos condomínios. As casas também são adaptadas, com portas mais largas para cadeiras de rodas. E no Brasil essa mentalidade também deve ocorrer, para que as pessos vivam de forma independente o máximo possível, como ocorre por lá.

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