
Temporada de sol, calor e praia é sinônimo de alegria e bem-estar para muitos, menos para quem costuma sofrer com as dores de cabeça. A maior incidência de luminosidade durante o dia e a exposição aos raios solares são fatores que contribuem para o aumento das cefaleias do tipo tensionais (as mais comuns, que se sentem acima dos olhos até a nuca) e atingem boa parte da população. Dados da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC) revelam que a queixa de dor de cabeça ao longo da vida atinge 93% dos homens e 99% das mulheres; por mês, 76% delas têm algum episódio, contra 57% dos homens.
Porém são pessoas que têm enxaqueca as que costumam apresentar crises recorrentes no verão, já que o padrão de luminosidade muda. "O cérebro do enxaquecoso é hipersensível. Como a visão é o meio sensorial mais importante, a alta estimulação desencadeia a dor", explica o chefe do Serviço de Neurologia do Instituto de Neurologia de Curitiba e coordenador do Setor de Cefaleias do Serviço de Neurologia do Hospital de Clínicas da UFPR, Pedro Kowacs.
Segundo a neurologista membro da SBC Célia Roesler, a exposição excessiva ao sol na praia, por exemplo, dilata artérias e veias que temos entre o couro cabeludo e a calota craniana, gerando dores. "Isso produz um sistema inflamatório, o que faz uma dor latejante em toda a cabeça." A mudança brusca de temperatura também é um dos gatilhos, diz a médica. "Ficar na praia e depois entrar em um local com ar condicionado gelado pode levar a uma vasodilatação, trazendo a dor." Para os enxaquecosos, ainda mais. "Estudos sugerem que 60% desses pacientes têm as enxaquecas precipitadas pelo tempo", salienta o neurologista do Hospital Nossa Senhora das Graças Cleverson de Macedo Garcia.
Pacientes com a chamada cefaleia em salvas cujas dores são extremamente intensas, atingem apenas um dos lados da cabeça, na zona dos olhos e têmporas, e acontecem sempre nos mesmos períodos do ano e horários apresentam piora no quadro durante o calor, segundo Kowacs. O desencadeador mais provável, neste caso, é a mudança no padrão e na ocorrência de luminosidade (que dura mais). "O relógio biológico desses pacientes é alterado, ativando a cefaleia, que aparece quase sempre nos mesmos períodos e horários."
A dentista Juliana Suss Ribeiro Riskalla, 27 anos, convive com a cefaleia em salvas desde os 18 anos. No último fim de semana, após ficar boa parte do dia na praia, as crises começaram. "Estava muito calor no dia. Geralmente, tenho os sintomas em março, neste ano, eles adiantaram." As dores costumam acontecer de madrugada, impedindo que Juliana durma. "No outro dia, não consigo trabalhar e tenho de desmarcar pacientes." As crises duram cerca de 45 dias, mas sem dor, controladas por remédios. "Só que se deixo de tomar a medicação nos horários certos, a dor volta."
Não manter hidratação adequada e mudar bruscamente o padrão de horários para se alimentar são outras atitudes, mais presentes em época de férias, que ocasionam cefaleias. "A perda de líquido do corpo também causa dor. É importante que crianças e idosos, mais propensos a desidratação, não se descuidem", orienta o neurologista do Hospital das Nações Aloísio Ponti. Acordar mais tarde do que habitualmente, exagerar na bebida e manter jejum prolongado são atitudes prejudiciais. "Se a pessoa vai para praia e pula refeições, certamente, vai gerar uma crise", diz Pedro Kowacs.
Analgésico
Para quem não tem enxaqueca ou cefaleias mais severas, é possível controlar uma dor de cabeça de "sol" realizando compressas frias e ingerindo um analgésico nas doses recomendadas. Porém a dor tem de ser esporádica (no máximo, uma vez por semana) em intensidade leve a moderada. "Se a dor volta por duas vezes em pouco tempo, é necessário procurar um especialista. A automedicação não resolverá o problema", frisa Célia Roesler.



