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Nutrição

Reduzir açúcar na primeira infância pode proteger seu filho pelo resto da vida

Racionamento de açúcar nos primeiros dois anos de vida pode proteger contra doenças crônicas pela vida inteira
Racionamento de açúcar nos primeiros dois anos de vida pode proteger contra doenças crônicas pela vida inteira (Foto: Imagem de Yulia por Pixabay)

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Cientistas descobriram que a privação de açúcar na primeira infância pode prevenir doenças crônicas na vida adulta.

Utilizando dados de privação de alimentos no Reino Unido durante a II Guerra Mundial, pesquisadores americanos e canadenses compararam os números daquele período com os atuais e observaram que um consumo reduzido de açúcares adicionados durante os primeiros mil dias de vida, ou pouco mais de dois anos, à menor incidência de diabetes tipo 2 e de hipertensão em adultos.

O estudo foi publicado na revista Science. Foram avaliadas 60 mil pessoas nascidas entre outubro de 1951 e março de 1956 — e depois estas mesmas pessoas já adultas, com idades entre 51 e 66 anos. O Reino Unido teve o açúcar e outros alimentos racionados entre janeiro de 1940, início do conflito mundial, até meados da década de 1950.

Racionar o açúcar na infância mostrou estar associado a uma redução de diabetes do tipo 2 em 35% e ao retardamento da doença em quatro anos. A hipertensão foi 20% menor no grupo estudado e o início da doença foi retardado em dois anos, conforme conclusões desta pesquisa.

"Descobrimos que o fim do racionamento aumentou a prevalência de inflamação crônica em adultos, um importante marcador das doenças crônicas. Também verificamos uma saúde metabólica mais deficiente, particularmente para a diabetes, colesterol e artrites", escreveram Tadeja Gracner e Paul Gertler, autores do trabalho, no documento divulgado em conjunto com a pesquisa.

As razões para os resultados do estudo ainda precisam ser averiguados por novas pesquisas, mas uma hipótese forte seria a preferência por alimentos menos açucarados ao longo da vida. Uma das hipóteses do estudo é que as preferências alimentares da infância permanecem ao longo da vida.

Alimentação materna

O estudo demonstrou também que a dieta da mãe influencia o bebê de diversas maneiras importantes, especialmente na gravidez e durante a amamentação. Dietas ricas em açúcar mantidas pela mãe podem levar a problemas de saúde no bebê a longo prazo, incluindo seu desenvolvimento metabólico.

Outro estudo usado como fonte mostrou que modelos animais alimentados com uma dieta rica em "junk food" na gravidez e lactação apresentavam maior quantidade de gordura corporal.

As condições no útero podem afetar para sempre as preferências alimentares do adulto, sugerindo que a dieta da mãe durante a gravidez pode ter um impacto nas escolhas alimentares futuras do filho.

Como definiu Robert Siegel, pediatra do Hospital Infantil de Cincinnati, não são apenas as nossas próprias escolhas que definem nossa saúde, mas também o que nossas mães escolheram comer.

“Não somos apenas o que comemos, somos o que nossas mães comeram. Já definimos nossas preferências alimentares dentro do útero”, disse Siegel em entrevista ao jornal Washington Post.

Cuba

A experiência de racionamento natural pós II Guerra tem pontos em comum com o ocorrido em Cuba entre 1991 e 1995. O colapso da União Soviética deixou a ilha caribenha em uma crise econômica profunda.

Neste período, a ingestão calórica da população cubana caiu significativamente, chegando a níveis médios de cerca de 1.800 kcal/dia, o que foi associado a uma redução na prevalência de doenças metabólicas.

Contra a própria vontade, os cubanos também foram obrigados a caminhar mais ou a usar bicicletas porque não havia combustível para os carros.

A redução forçada da ingestão calórica e o aumento da atividade física foram associados a uma redução na obesidade e no diabetes tipo 2, de acordo com estudo publicado no British Medical Journal. No entanto, a crise também trouxe graves deficiências nutricionais, aumento da mortalidade infantil e outras consequências negativas.

VEJA TAMBÉM:

Esta reportagem compilou dados do estudo utilizando a ferramenta Google NotebookLM.

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