
Disposição, proteção contra doenças e juventude: tudo em uma cápsula diária. Essa é a promessa de diversos suplementos vitamínicos à disposição hoje no mercado e que parece estar convencendo muita gente. No ano passado, a venda desses suplementos no Brasil faturou R$ 148,6 milhões e até julho deste ano já alcançou a marca de R$ 116,4 milhões, segundo dados da IMS Health, que acompanha o mercado farmacêutico. No ano passado, o faturamento mundial do mercado de vitaminas foi de US$ 13,9 bilhões.
INFOGRÁFICO: Confira em que grupo cada vitamina se enquadra e onde encontrá-las
Mas médicos e estudos indicam que uma alimentação equilibrada, na maioria dos casos, já consegue suprir as necessidades diárias das pessoas. "Ouvi uma vez em uma palestra a seguinte frase, com a qual concordo: a vitamina foi uma invenção da indústria inventou para vender remédio para quem está saudável", comenta o professor de endocrinologia da UFPR Henrique Suplicy, que também é membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.
A ideia de que complementos vitamínicos e saúde andam juntos ganhou bastante força graças a um químico genial: Linus Pauling. Ganhador de dois prêmios Nobel, Pauling morreu em 1994 convencido dos benefícios da vitamina C para a saúde. Na década de 1970, publicou o livro "A vitamina C e o resfriado comum", em que defendia o consumo diário de 3 gramas da vitamina para evitar resfriados. Anos mais tarde, o cientista passou a defender o uso dela também para o tratamento do câncer. Até hoje, porém, não existe qualquer evidencia médica que tenha conseguido comprovar essas teorias de Pauling.
Com um cientista ganhador de dois prêmios Nobel defendendo de forma tão veemente as vitaminas, não é de se admirar que a fama dos suplementos e a ideia de que eles são sinônimos de saúde ainda persista. No entanto, o consumo desses suplementos sem a orientação necessária pode acabar em prejuízo, no mínimo, para o bolso. "Quando se consome mais vitaminas que o necessário, elas são eliminadas. No fim, fica a falsa sensação de saúde", diz Suplicy.
Conseguimos obter a quantidade diária de vitaminas que uma pessoa adulta normal precisa ingerir mantendo uma alimentação saudável com a velha e conhecida composição de vegetais, ovos, frutas, carne, cereais leite e derivados. No caso das vitaminas hidrossolúveis, o que é consumido a mais é excretado pela urina. O excesso de vitaminas lipossolúveis, por sua vez, é armazenado em parte no organismo e usado no momento em que há carência.
O uso indiscriminado de polivitamínicos também pode trazer problemas para a saúde. "O uso das pílulas pode acarretar outros problemas que, embora raros, podem acontecer", comenta a endocrinologista Daniele Tokar Zaninelli, do Hospital Vita. Uma dessas consequências é a hipervitaminose, ou envenenamento por vitamina. Estudos recentes também indicam que a suplementação excessiva pode ter relação com a ampliação do risco de se desenvolver alguns tipos de câncer ou doenças cardíacas.



