
Os danos são graves: de cansaço e tristeza exagerada até problemas de relacionamento com a família e amigos e falta de motivação para trabalhar e se divertir. A depressão muda toda a vida do paciente enquanto não é totalmente controlada. Como a doença é incurável e durante toda a vida a pessoa corre o risco de reincidir o que vai potencializando os prejuízos para a saúde , os médicos garantem: a nova tendência de tratamento é apostar na remissão (desaparecimento) dos sintomas.
"Hoje, o objetivo não é só amenizar sinais, mas frear a evolução da doença até que eles desapareçam de vez e o médico verifique que estão controlados a ponto de não comprometer mais o bem- estar do paciente e têm chances mínimas de voltarem", comenta Rakesh Jain, professor clínico associado da University of Texas Medical School. O assunto foi um dos temas discutidos no Depression Forum, evento realizado entre os dias 9 e 11 deste mês em São Paulo reunindo médicos psiquiatras de todo o Brasil.
Ele explica que o mecanismo é bastante parecido com o que se busca no tratamento do câncer. "Quando a pessoa tem um câncer, os tumores precisam ser completamente tirados do corpo para que a doença não volte, já que mesmo um pequeno resquício pode desencadear um novo episódio. Com a depressão, a lógica é parecida e os sintomas devem ser totalmente extintos para que o paciente receba alta do tratamento."
O objetivo é evitar uma realidade constante entre os pacientes: após algumas semanas tomando a medicação, eles tendem a se sentir melhores e logo abandonam o tratamento. O problema é que a doença volta e muito pior em poucos meses. Pesquisas mostram que cada surto depressivo é sempre mais forte que o anterior e, quanto mais episódios uma pessoa tem, mais danos para o corpo e para o cérebro vão sendo registrados.
Estudos usando tomografias revelam que pacientes recorrentes têm uma redução do tamanho do cérebro, o que vai comprometendo algumas funções do corpo, como a memória. "Como os episódios vão se tornando cada vez mais frequentes, intensos e difíceis de serem controlados, o tratamento precisa ser ainda mais incisivo e demorado para surtir efeito", diz Jain.
Tratamento
O professor titular do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) José Alberto Delporto alerta que, caso a pessoa não atinja a remissão completa, as chances de ter uma recaída em alguns meses ou anos é grande. "Há estudos que mostram que a pessoa depressiva tem 50% de chances de ter uma recaída em até um ano. Por isso, é impossível falar de depressão sem associá-la a um tratamento de qualidade."
Segundo Jain, é importante que o tratamento utilize não apenas um, mas uma combinação de todos os métodos disponíveis de controle do problema. "A primeira recomendação é fazer exercícios físicos e apostar na psicoterapia com um profissional de confiança. A medicação só deve entrar em cena em casos em que o médico verifique que esses recursos não foram suficientes."
Mesmo assim, o paciente deve manter o acompanhamento para que as doses do remédio sejam diminuídas gradualmente, conforme seu quadro depressivo melhore, ou mesmo trocadas, caso não surtam efeito. E, mesmo após a remissão, o paciente deve continuar marcando consultas periódicas com seu médico.
A repórter viajou à convite do laboratório farmacêutico Pfizer.



