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Realidade brasileira também é difícil

A burocracia é o que mais atravanca o financiamento de pesquisas científicas em saúde no Brasil, segundo o médico Gil Ramos, gerente do Centro de Ensino e Pesquisa do Hospital Erasto Gaertner, em Curitiba.

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Entre os mais recentes estudos que recebem apoio e verbas do Instituto Nacional do Câncer (National Cancer Institute), nos Estados Unidos, é curioso notar a abordagem que às vezes os cientistas escolhem na busca de uma cura. Um exemplo foi o estudo que analisou se é realmente verdade que pessoas que reagem bem a comidas mais saborosas possuem mais dificuldade de manter uma dieta. Outro estudo irá avaliar um programa na internet que incentiva diversas famílias a consumirem alimentos mais saudáveis.

Muitos outros projetos envolvem pesquisas biológicas que dificilmente levarão a uma revelação ou grandes descobertas na área. Isso fica claro quando analisada a pesquisa que busca descobrir se a confirmação laboratorial de câncer de cólon também se aplica para câncer de mama. Mesmo que se aplique, ainda não existe um tratamento eficaz que explore a possível descoberta.

O instituto já gastou US$ 105 bilhões desde que o presidente norte-americano Richard Nixon declarou guerra contra a doença em 1971. A Sociedade Americana de Câncer (American Cancer Society), maior patrocinadora privada da pesquisa contra o câncer nos EUA, por sua vez, gastou US$ 3,4 bilhões somente em concessões de bolsas de pesquisa desde 1946.

Mesmo assim, a luta contra este mal anda mais devagar do que a doença, tendo resultado apenas em uma modesta redução nas taxas de mortalidade desde que iniciou, há quase 40 anos. Uma das maiores barreiras, de acordo com os próprios cientistas, é o sistema de concessões de bolsas para pesquisa. Tudo virou uma espécie de cabidão do emprego, uma forma de manter laboratórios de pesquisa funcionando e justificando que a cura é difícil, a pesquisa, morosa e os avanços, inevitavelmente tímidos.

"As bolsas existem por um motivo nobre, mas são muito suscetíveis a produzirem apenas progressos incrementais", declarou Robert C. Young, diretor do Fox Chase Cancer Center, na Filadélfia, e presidente da Junta de Conselheiros Científicos, um grupo independente que fornece orientações ao instituto de pesquisas.

Os avalistas escolhem estes projetos porque, com tão pouco dinheiro para financiar a maioria das propostas, receiam em ter riscos com os que possuem menos chances de sucesso. O problema, de acordo com Young e outros cientistas, é que projetos que realmente poderiam fazer diferença na prevenção e tratamento do câncer são frequentemente eliminados por não terem retorno garantido. Na verdade, já é regra entre os pesquisadores da doença que muitas grandes descobertas envolvem projetos que tinham tudo para dar errado e que, por isso, não conseguem o apoio de verbas federais.

O exemplo se torna claro quando analisado o caso de uma droga transformativa, usada no tratamento do câncer de mama. Ela foi desenvolvida com base na descoberta de Dennis Slamon, da Universidade da Califórnia. O médico percebeu que os casos mais agressivos deste tipo de câncer produzem cópias múltiplas da proteína HER-2.Tal revelação levou ao desenvolvimento da herceptina, uma droga que bloqueia a HER-2.

Agora, as mulheres com uma alta contagem da proteína HER-2, que no passado eram avaliadas como detentoras do pior prognóstico de câncer de mama, possuem um dos melhores prognósticos. Entretanto, quanto Salmon quis iniciar esta pesquisa, seu pedido de bolsa foi negado. Ele conseguiu os fundos apenas após uma esposa muito agradecida de um paciente o ajudar a conseguir o apoio da empresa de cosméticos Revlon.

Mesmo assim, ainda é mais fácil haver estudos sobre comidas gostosas financiados ao invés de outros. Esse estudo, que recebeu uma bolsa de US$ 200 mil por mais de dois anos, se baseia na ideia de que, uma vez que a obesidade é associada a um risco maior do desenvolvimento de câncer, entender o porquê das dificuldades em se perder peso poderia apontar melhores métodos do controle da obesidade, o que levaria a menor obesidade e, por consequência, menores chances de se desenvolver a doença.

"Foi a primeira bolsa que pedi, e ela foi concedida na primeira tentativa", disse o pesquisador-chefe do estudo, Bradley M. Appelhans, professor-assistente de ciências médicas básicas e psicologia na Universidade do Arizona. O cientista disse que percebeu que dificilmente acharia uma cura para o câncer, mas esperava que "a pesquisa fornecesse conhecimentos que incrementassem e contribuíssem com estratégias mais efetivas de prevenção a este mal".

Sem apoio

Por 25 anos, Eileen K. Jaffe recebeu recursos federais para custear seu laboratório. Como cientista sênior no Fox Chase Cancer Center e contando com uma longa lista de trabalhos publicados nos mais prestigiosos jornais médicos, ela é uma pesquisadora respeitada e muito bem estabelecida.

Um dia, Jaffe se deparou com resultados que iam completamente contra a teoria, sugerindo que seria possível encontrar uma classe inteira de novas drogas com o poder de bloquear as proteínas que alimentam células cancerosas. O desejo da cientista, desde então, foi encontrar componentes que pudessem ser transformados em tais drogas.

Entretanto, sua grande proposta foi rejeitada por institutos de saúde sem ao menos ser discutida por um comitê de revisão. A cientista não possuía dados preliminares que comprovassem que a ideia poderia dar certo, isso sem falar na total falta de projetos precedentes nesta área.

O projeto de Jaffe encontra-se em fase de concepção. Ainda é muito cedo para saber se ele resultará em uma droga revolucionária. Além disto, mesmo que ela descubra novas drogas potenciais, não existem garantias de que elas irão funcionar. A maioria das novas ideias é difícil de ser experimentada aliado ao fato de que a maioria das drogas em potencial acaba não funcionando. Jaffe não ficou surpresa quando sua solicitação de bolsa para a pesquisa de drogas contra o câncer foi sumariamente rejeitada. "Eles alegam que eu não possuo resultados preliminares. É óbvio que eu não os tenho. Preciso do dinheiro da bolsa para obtê-los."

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