
O que é um alívio para quem quer se livrar de noites em claro, pode se tornar um pesadelo a longo prazo. Os diversos tipos de medicamentos usados para dormir nunca estiveram tão populares. "Existem inúmeras associações de fitoterápicos disponíveis no mercado brasileiro. Há ainda pelo menos três tranquilizantes indutores de sono, sem contar os benzodiazepínicos, mais conhecidos por tarja preta. E as pessoas têm procurado cada vez mais esses tratamentos", explica Elyéia Hannuch, médica neurologista e presidente da Associação Paranaense de Medicina do Sono.
O crescimento na procura por tratamentos é resultado de uma afirmação unânime entre os especialistas da área: a qualidade do sono das pessoas está piorando à medida que o ritmo da vida moderna aumenta. "Nem sempre respeitamos as rotinas que nosso corpo exige. Somos feitos para dormir à noite e ficar acordado durante o dia, não para passar a noite acordado e dormir quando temos vontade", afirma Alaídes Suzana Fojo Olmos, médica neurologista do Hospital Pequeno Príncipe.
Para Alaídes, os maus hábitos aliados ao uso inadequado de medicamentos começam na infância. "É comum ouvirmos pais dizerem que dão anti-histamínicos para que seus filhos durmam", comenta. Na adolescência, dormir e acordar tarde é uma maneira de transgredir as regras. Depois, na vida adulta, o trabalho e os compromissos diários fazem com que os maus hábitos se consolidem. "O corpo não sabe que o executivo tem de trabalhar 24 horas por dia. O sono é postergado e, quando a pessoa resolve dormir, não consegue. Daí ela procura os medicamentos", diz Alaídes.
O erro acaba sendo duplo: "Primeiro, que ninguém deve se automedicar; segundo, que os tranquilizantes e indutores do sono podem até fazer com que a pessoa pegue no sono, mas não resolve a causa do problema", afirma a especialista.
Dependência
Um estudo do departamento de farmacologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), constatou que, em 2004, 61% dos pessoas que compraram benzodiazepínicos classe de drogas para dormir que mais causa dependência , em farmácias de Curitiba, tomavam o medicamento há mais de um ano. O uso contínuo dificulta a interrupção. Na pesquisa, 94% dos pacientes já tiveram insucesso ao tentar interromper o tratamento.
Os benzodiazepínicos são cada vez mais substituídos por tranquilizantes indutores de sono, que causam menos reações adversas. A dependência psicológica, porém, continua. "A pessoa não se acha capaz de resolver o problema sozinha. Criar uma rotina de sono ou procurar um tratamento adequado dá mais trabalho do que comprar um medicamento recomendado por um farmacêutico", complementa Alaídes.
Existem catalogados pela literatura médica 84 distúrbios do sono de diferentes origens. O diagnóstico correto é feito com um exame chamado polissonografia em que o paciente passa a noite em uma clínica e é examinado por 36 sensores colocados no corpo todo. "As pessoas costumam relacionar a insônia com distúrbios emocionais passageiros ou com situações mal resolvidas. Na realidade, existem diversas causas orgânicas que podem estar provocando o sono não restaurador. O diagnóstico feito por um especialista é essencial", diz Attílio Melluso Filho, médico especialista em medicina do sono do Centro de Distúrbios do Sono de Curitiba.



