
A cada ano, o número de brasileiros que consomem remédios para dormir aumenta. É o que mostra o levantamento anual feito pela consultoria IMS Health desde 2008. No último ano, o estudo confirmou o crescimento de 35% na venda desses medicamentos. O grande problema, segundo médicos especialistas, é o uso indiscriminado, principalmente dos benzodiazepínicos classe mais antiga das pílulas de dormir por um período prolongado, que pode levar à dependência, entre outros problemas.
O uso prolongado e a dificuldade na hora de interrompê-lo são os maiores problemas dos benzodiazipínicos, segundo estudos realizados pelo Departamento de Farmacologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). "O caminho para sair da dependência química e psicológica de um remédio para dormir é o mesmo aplicado no tratamento do vício em drogas. E deixá-lo costuma ser algo muito difícil", diz o doutor em Farmacologia, Edmar Miyoshi.
Além do problema da dependência, a médica cubana e neurofisiologista do Hospital Vitória Olga Judith explica que o uso continuo também pode implicar em prejuízos à memória do paciente e afetar sua performance cognitiva. Representante da comissão de ética do Conselho Regional de Farmácia do Paraná, Miyoshi afirma que alguns desses medicamentos têm o efeito semelhante ao do álcool no organismo. "O tempo de reação e o reflexo da pessoa diminuem. As bulas fazem essa ressalva, mas nem todos se preocupam com esse alerta", avalia. A falta de orientação médica sobre os riscos e efeitos colaterais do uso prolongado dos medicamentos também preocupa, segundo os especialistas.
Qualidade do sono
O psiquiatra do ambulatório de crise da Paraná Clínicas, Lincoln César Andrade, faz uma ressalva de que o sono induzido por remédio não acaba sendo um sono reparador. Ele explica que o sono fisiológico é composto de fases com funções específicas para a regeneração do organismo. Essas etapas são denominadas de arquitetura do sono e o uso de medicamentos de indução altera essas funções, desregulando o organismo. "O descanso tanto mental como físico não é o mesmo proporcionado pelo sono natural", diz o médico. Segundo ele, quem usa o medicamento repetidamente desenvolve um cansaço crônico. Além disso, o sistema imunológico do paciente fica mais frágil e mais sujeito a doenças de qualquer natureza.
Fitoterápicos e outros remédios
Esses efeitos relatados pelo médico são os mesmos dos fitoterápicos que funcionam como soníferos, como os produzidos à base da planta valeriana. O risco de dependência é menor, mas o sono continua sendo superficial. "As pessoas acreditam que por ser "natural" não existe risco para a saúde. Isto é errado. Eles também podem diminuir a atenção e causar sedação, por isso deve se evitar dirigir após ingerir esses medicamentos", diz o farmacologista Miyoshi.
De acordo com o psiquiatra da Paraná Clínicas, remédios para enjoo, alergias e dores musculares muito utilizados pelas pessoas por terem componentes que podem causar sonolência , também podem causar problemas. "Como essas medicações podem ser compradas sem prescrição médica, as pessoas acabam usando-as para dormir, mas o problema é que a causa da má qualidade do sono não é tratada por esses remédios", completa a neurofisiologista Olga Judith.
O primeiro passo para corrigir problemas na hora de dormir é realizar a higiene do sono (veja box nessa página). Se mesmo assim a qualidade do sono continuar ruim é preciso descobrir o melhor tratamento. E nem sempre o remédio é a saída mais indicada. "No caso da apneia do sono, por exemplo, o uso de medicamentos para dormir é totalmente contraindicado porque pode aumentar o risco de parada respiratória", esclarece a médica.
Participe do chat:
Confira hoje, às 15 horas, um chat sobre o uso de remédios para dormir. Quem responde as perguntas são o professor Marcelo Lima, do Departamento de Farmacologia da UFPR, e o psiquiatra Renato Soleiman, do curso de Medicina da PUCPR. Envie suas perguntas para saude@gazetadopovo.com.br, acesse o site e participe!




