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Entrevista

Técnicas minimamente invasivas chegam à cirurgia cardiovascular

Andrea Dumsch de Aragon Ferreira, cirurgiã cardíaca da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba

Francisco Costa e Andréa Ferreira participaram de um treinamento nos EUA e na Alemanha nos meses de julho e novembro deste ano | Priscila Forone/Ag. de Notícias Gazeta do Povo
Francisco Costa e Andréa Ferreira participaram de um treinamento nos EUA e na Alemanha nos meses de julho e novembro deste ano (Foto: Priscila Forone/Ag. de Notícias Gazeta do Povo)
Entenda como são realizadas as cirurgias cardíacas minimamente invasivas |

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Entenda como são realizadas as cirurgias cardíacas minimamente invasivas

O uso das microcâmeras de vídeo para a realização de procedimentos cirúrgicos revolucionou a medicina em todo o mundo. Hoje, os cortes são cada vez menores, assim como os riscos de infecção e o tempo de recuperação do paciente.

As cirurgias cardíacas minimamente invasivas são mais recentes do que a videolaparoscopia. Como explica a médica Andrea Dumsch de Aragon Fer­reira, integrante da equipe de cirurgia cardíaca da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba e do Hospital Ecoville, adaptar as técnicas minimamente invasivas à cirurgia cardiovascular levou mais tempo porque o coração é um órgão em movimento.

"Ape­sar da complexidade da operação, é certamente mais segura e menos agressiva do que a cirurgia de peito aberto, em que é preciso serrar o osso do tórax", compara Andrea, que viajou à Alemanha e aos Estados Unidos para aprender as novas técnicas. Em entrevista à Gazeta do Povo, a especialista fala sobre as vantagens da operação.

Há quanto tempo é feita a cirurgia cardíaca minimamente invasiva?

As técnicas de cirurgia minimamente invasiva vêm sendo utilizadas há décadas pelos especialistas. Um dos exemplos mais conhecidos são as cirurgias por videolaparoscopia (abdominais). Adaptar as técnicas para as cirurgias cardíacas foi mais complicado e levou mais tempo porque o coração é um músculo, um ór­­gão em movimento. Pode-se di­­zer que a cirurgia vem sendo praticada no Brasil há pouco me­­nos de cinco anos, e que existem pouquíssimos cirurgiões cardíacos no país que a realizam. A equipe de ci­­rurgia cardíaca que atende a Santa Casa e o Hos­­pital Ecoville pretende se tornar uma referência no Paraná na aplicação dessas técnicas.

Onde os médicos dessa equipe aprenderam a desenvolver a técnica?

Buscamos treinamento profissional específico em dois centros de referência do mundo: o New York University Medical Center, nos Estados Unidos, e o Centro Cardiológico de Leipzig, na Ale­manha. Eu e o cardiologista Fran­­­­cisco Costa fomos convidados a acompanhar o trabalho de­­senvolvido nestes dois hospitais em julho e novembro deste ano. Desde o início do segundo semestre de 2009, já realizamos 30 procedimentos cardíacos minimamente invasivos, todos com sucesso.

Quais são as principais vantagens da cirurgia minimamente invasiva em comparação à ci­­rurgia convencional?

Como o corte necessário para a realização da cirurgia é cerca de cinco vezes menor do que o corte usado na cirurgia convencional (entre 20 e 25 centímetros), o trau­­ma e a dor provocados pela cirurgia são significativamente menores, assim como o sangramento e o risco de infecções. O tempo de recuperação do paciente também diminui. Normal­mente, ele ficaria 20 dias internado. Com a nova técnica, esse período não passa de uma semana, Além disso, o resultado estético de uma cirurgia minimamente invasiva também é me­­lhor, a cicatriz é pequena, quase imperceptível, dependendo da região do corte.

Qualquer paciente está apto a se submeter a esse tipo de procedimento?

A cirurgia é indicada para pa­­cientes que apresentam problemas coronários, vasculares ou cardiopatias congênitas. É realizada para a ponte de safena e para fazer a troca de válvulas do coração. Por enquanto, o procedimento só tem sido feito para a troca de uma única válvula. No caso de pacientes coronários, a técnica minimamente invasiva pode ser usada em conjunto com a angioplastia. Faz-se a revascularização da artéria através da técnica em vídeo e complementa-se o procedimento com a colocação dos stents – usados para desobstruir a artéria.

A cirurgia minimamente in­­vasiva é muito mais cara do que a cirurgia convencional?

Por enquanto, o preço é alto porque o equipamento e os instrumentos usados para realizar a operação são caros. Não é uma cirurgia de rotina, poucos a realizam no país. O Sistema Único de Saúde (SUS) ainda não cobre esse tipo de cirurgia, mas alguns convênios particulares já a incluíram em seus planos.

O Brasil está acompanhando bem os avanços da medicina ou estamos atrasados? E o Paraná?

Precisamos estar sempre correndo atrás do que existe de mais moderno, afinal de contas, os maiores laboratórios e as maiores fabricantes de equipamentos se encontram nos Estados Unidos e na Eu­­ropa. Mas temos projetos inéditos sendo desenvolvidos no Brasil também, caso da técnica da descelularização, que está sendo estudado na PUCPR. A técnica permite o prolongamento do tempo de vida de tecidos, como as válvulas. Muitas descobertas correm em paralelo em diferentes países ao mesmo tempo. O problema é que, no caso do Brasil, grande parte das novidades são trazidas para cá por iniciativa dos próprios médicos. Temos pouco apoio das instituições de saúde e do governo.

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