
Ponta Grossa - O número de transplantes de órgãos no primeiro semestre, em comparação com o mesmo período de 2009, aumentou 54,8% no Paraná bem acima do crescimento nacional, que foi de 16,4% no mesmo período. O avanço nas estatísticas paranaenses foi puxado pela quantidade de cirurgias de rim, que dobrou entre os dois semestres. Até ontem, o Ministério da Saúde ainda não havia concluído o levantamento do número de cirurgias por estado, que permitiria apontar qual o lugar em que a quantidade de transplantes mais aumentou. Os dados paranaenses foram fornecidos pela Secretaria de Estado de Saúde.
Entre os 137 transplantes de rim realizados no Paraná nos últimos meses está a cirurgia de Francine Wenglarek, 29 anos. O caso dela ao mesmo tempo em que demonstra o avanço registrado neste semestre também revela o drama vivido por 2 mil pacientes que esperam órgãos: foram 14 anos na fila do transplante até receber o tão aguardado telefonema com a boa notícia. Sem nenhum parente com compatibilidade para a doação entre vivos, ela precisou esperar por um órgão de um cadáver. A cirurgia aconteceu em maio e ela se recupera bem. Até então, ela era dependente das longas sessões de hemodiálise três vezes por semana e acompanhou histórias de pacientes que estão há 22 anos na fila. "Essa espera é absurda", reclama. Para a recém-transplantada, as campanhas de conscientização e esclarecimento sobre a doação de órgãos são insuficientes. "Quem espera, não vê essa melhora. Mas estão acontecendo mais transplantes, sim", comenta.
Ana Silmara Ferreira Pontes, 40 anos, fez hemodiálise por dois anos e meio e há duas semanas conseguiu o transplante de rim. Mas não contou com um doador falecido. Uma sobrinha é que decidiu que não queria mais ver a tia sofrendo e fez exames que confirmaram que poderia ser realizada a doação. Em recuperação, cercada de cuidados para evitar a rejeição do órgão ou algum tipo de contaminação, ela lamenta a situação de quem só pode contar com a solidariedade de estranhos. "Doar é um gesto de muito amor, mas muita gente não sabe disso", comenta.
A diretora da Central Estadual de Transplantes, Schirley Batista do Nascimento, reconhece que ainda há espaços para avançar em busca de zerar a fila de espera, mas frisa que o Paraná é considerado uma das principais referências em doação de órgãos no país. Além do transplante renal, outro tipo de cirurgia que merece destaque é a que atende pacientes que precisam ao mesmo tempo de fígado e rim. Desde 1996, ao total, apenas oito cirurgias deste tipo haviam sido realizadas no estado o mesmo número de procedimentos executados somente nos primeiros seis meses de 2010.
O Paraná se destaca não tanto pela quantidade de doadores, mas pela estrutura hospitalar e pelo número de cirurgias realizadas muitas vezes implantando aqui órgãos vindos de outras unidades da federação. O estado tem ampliado o sistema de transplantes ano a ano. O crescimento em 2009, em relação a 2008, foi de 30% na quantidade de doações. Mesmo assim, a proporção paranaense é de 8,6 doadores para cada milhão de habitantes, enquanto que São Paulo e Santa Catarina, que lideram o ranking de percentual de doação, alcançam os índices de 22 e 17 por milhão, respectivamente.



